Menino com autismo vira contador de histórias em escola de Itanhaém, SP
Mariane Rossi
Mariane Rossi
Um menino autista de 10 anos virou o contador de
histórias de sua classe em uma escola municipal de Itanhaém, no litoral
de São Paulo. Diego Escada Louzada apresentou, desde pequeno, as
características do transtorno, mas a convivência com outras pessoas na
escola lhe trouxe mais conhecimento do mundo e de si. O jeito inibido,
característico do autismo, é pouco perceptível em Diego enquanto ele
brinca de contar histórias para a turma e é aplaudido pelas outras
crianças. O que poderia ser considerado um desafio para qualquer
autista, é um prazer para ele.
Tatiana Escada descobriu que o filho tinha autismo
quando o menino estava com três anos. Ela começou a notar algumas
atitudes estranhas do filho. “Ele apontava as coisas, não falava o que
queria, tinha resistência à dor. Com um barulho muito estridente, ele
colocava as mãos nos ouvidos. A gente foi reunindo os fatos e fomos a um
neurologista”, conta ela.
Segundo o Ministério da Saúde, o autismo é
considerado uma síndrome neuropsiquiátrica. Embora seja uma etiologia
específica que não tenha sido identificada, estudos sugerem a presença
de alguns fatores genéticos e neurobiológicos que podem estar associados
ao autismo. Diversos sinais e sintomas podem estar ou não presentes,
mas as características de isolamento e imutabilidade de condutas estão
sempre presentes. Tatiana diz que a notícia foi um baque para ela e a
família. “Você se questiona muito. Até entrei em uma depressão. Depois,
li muito sobre o assunto e comecei a entender e foi fluindo. Hoje eu
trato ele como uma criança normal”, fala. Após o diagnóstico, Diego
iniciou o tratamento com fonoaudióloga, pedagoga e neuropsicóloga.
Tatiana e o Diego saíram de Santos, onde moravam com o
pai do garoto, e foram viver em Itanhaém. Mesmo com o transtorno, Diego
foi matriculado na escola municipal Maria Graciette Dias, pelo sistema
de inclusão. “O Diego é um autista. Todos os autistas têm direito a um
estagiário. Eles são estudantes e ficam com essas crianças de inclusão.
Na nossa escola, a gente tem uma média de 13 crianças especiais.”,
explica a diretora Rita de Cássia Brandão Gouvêa.
A professora Marlene Carraro Mucsi, de 50 anos, diz
que Diego chegou na escola muito arredio e não gostava muito de ter
contato com as pessoas. Ela só acompanhava o menino de longe, mas,
neste ano, começou a dar aulas para Diego. “Já tinha trabalhado com
outras deficiências, mas com autismo foi a primeira vez”, diz. A
professora foi aprendendo a lidar com o menino no dia a dia. “O grau do
autismo dele é leve, não há necessidade de trabalhar atividades
diferenciadas com ele, o que precisamos é respeitar o tempo. A gente
conhece outros autistas que são agressivos, inquietos, não param
sentados em sala de aula. Não é o caso dele”, explica a professora. Ela
ressalta que Diego acompanha as lições na classe do 5º ano como qualquer
outro aluno. Segundo Marlene, o menino lê muito bem, é alfabético,
consegue fazer contas e resolver os problemas de matemática.
A convivência com outras crianças e os cuidados das
professoras fez o menino melhorar de comportamento e também a ganhar
mais conhecimento. Na escola, ele também descobriu, principalmente, a
aptidão para o desenho e animação. A mãe dele conta que o menino adora
ficar no computador, vendo vídeos, fazendo desenhos e criando histórias,
principalmente, com o Mickey, o personagem preferido de Diego.
Na sala de aula, ele coloca os desenhos na lousa
digital e vira um contador de histórias, interpretando os personagens.
“Eu faço a narradora e ele o Mickey. Na verdade, ele não lê a história,
ele decora as falas. De vez em quando, é no início da aula, às vezes, é
no final”, explica a professora. Do outro lado da sala, estão diversos
outros alunos com a mesma idade de Diego. Eles riem com a interpretação
do menino, entendem a história e, no final, batem palmas pela
apresentação do colega de classe. “Para ele é bom. A questão de ele
desenhar bem também motiva as outras crianças a quererem desenhar como
ele. Já cria um convívio, uma proximidade”, diz a mãe do menino.
Por causa da contação de histórias, Diego também
passou a ter mais comunicação com as pessoas, mesmo que, assim como
outros autistas, não goste de muito contato físico. Tatiane vê o quanto o
filho melhorou no âmbito social. “Ele começou a evoluir de uma maneira
tão rápida, até na questão de amizade, tem mais carinho, mais afeto das
outras crianças, tem a estagiária que fica direto com ele. Eu me
arrependi de não ter colocado antes nessa escola”, admite.
Já Diego mostra orgulhoso os desenhos do Mickey,
expostos em um painel que foi colocado em um dos corredores da escola.
Para a mãe, o futuro do filho sempre estará ligado ao mundo da animação.
“Ele fala que quer trabalhar na parte de animação de estúdios. Eu acho
que é o que ele vai acabar seguindo”, diz Tatiana.
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