Roberto Rillo Bíscaro
Como o assunto é Dickens, deu vontade de comentar sobre adaptações de A Christmas Carol, disponíveis no You Tube.
Conhecido em português como Um Conto de Natal, a história de arrependimento e renascimento de Ebenezer Scrooge não perde popularidade desde seu lançamento em 1843. A personagem inspirou o nome em inglês do Tio Patinhas, já foi adaptada por Renato Aragão e ano passado Mr. Scrooge foi transportado a nossa época pra ajudar um rico homem de negócios a perceber o espírito natalino, em Mr. Scrooge to See You (ainda não vi).
Charles Dickens é visto por alguns como entidade
totalmente bondosa, incapaz de desabono. O fato de ser humano parece escapar e
essa reputação não tem sido prejudicada com a frequente omissão de seu divórcio
da esposa que lhe parira uma penca de filhos, pra namorar uma aspirante a
atriz, anos mais jovem. Ao resenhar a minissérie Dickens of London (leia aqui)
reclamei da omissão do caso com Ellen Ternan.
Ralph Fiennes iluminou essa faceta humana do autor de
Bleak House, dirigindo e estrelando The Invisible Woman (2013), filme lento e
quieto, que tem resultado misto.
Dickens é um bom sujeito, frequentador do circuito
teatral e literário inglês, importa-se com problemas sociais e é infeliz no
exaurido casamento. Também é faminto por atenção e aprovação do público, do
qual sabe depender sua sobrevivência. Conhece a jovem Ellen, apaixona-se,
divorcia-se, mas a identidade de figura pública que criara um estilo e uma
reputação não consegue ser abafada. Dickens era um homem, não um semi-Deus.
The Invisible Woman não consegue visibilizar totalmente
Ellen Ternan; o gigante literário tem tal vulto no imaginário leitor ocidental
que é ele quem conhecemos melhor. O romance com a jovem padece de certa frieza
e o roteiro não tem muito a dizer sobre a vida da moça. Momentos há em que o
roteiro diz sobre coisa alguma.
No fundo, queremos mesmo é
conhecer melhor Dickens.A primeira adaptação pra cine falado foi na Inglaterra, em 1935. Seymour Hicks vive o usurário Scrooge, que recebe a visita de 3 espíritos natalinos que o fazem ver quão vazia sua vida tinha sido e seria se continuasse a valorizar mais o material em detrimento das relações humanas. Com predominância de cenas internas e sem mostrar o fantasma do ex-sócio (falta de recursos técnicos?), esta versão tem umas cenas que poderiam ter sido evitadas, como o banquete com o prefeito de Londres, pra mostrar mais sobre Ebenezer ou os demais personagens. Defeito de visão ou vi mesmo um balde de plástico na Era Vitoriana? Esta adaptação vale mais pela emoção de assistir a um filme de quase 80 anos! A versão de 1951 traz Alastair Sim fazendo um Scrooge sóbrio, embora descabelado. A cinematografia em branco e preto foi o que mais me agradou. Em 1969, uma versão sombria em desenho animado foi lançada. Quando Fred vem convidar titio Scrooge pro almoço de Natal, ambos começam a cantar. Depois, Fred some totalmente e não há mais números musicais. Estranho. Não entendo a popularidade e adulação pela versão musical de 1970. Não há canções memoráveis e Albert Finney exagera na caricaturização. Como o ator não era idoso em 1970, é capaz de interpretar Scrooge quando jovem também, mas sem falas. De 1984, é minha favorita, com o venerável George C. Scott (Finney também é um de meus heróis, mas escorregou com seu Scrooge), que compôs um Ebenezer desprezível, mas digno, pouco caricato. Tiny Tim é sempre um problema porque deve ser interpretado por criança pequena, então a canastrice é quase inevitável. Mas esse com maquiagem negra ao redor dos olhos pra enfatizar sua doença parece um zumbizinho banguela! Em 1999, Sir Patrick Stewart (o Professor Xavier, dos filmes X-Men) viveu um Scrooge bem mais centrado e menos espalhafatoso. A adaptação capricha nos efeitos e é impiedosa ao mostrar os cadáveres de Tiny Tim e de Scrooge, pra provocar catarse.Mas, não causa. Existem outras versões animadas no You Tube, mas só falei sobre as que conheço.
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