Sem exagero: o rock progressivo é o sub-gênero mais proscrito e amaldiçoado do rock’n’roll. Taxado como elitista, escapista, reacionário, megalomaníaco, autoindulgente, o Prog Rock tem certa culpa por ter permitido tal imagem, mas a imprensa e o ódio punk também tem seu quinhão de responsabilidade.
O documentário Prog
Rock Britannia: an observation in three movements (BBC, 2009) tenta mostrar
a importância do movimento, mas peca por omissões e por não enfatizar
contribuições técnicas que as ambições musicais superlativas de muitas bandas
prog legaram ao rock. Em Pawn Hearts, por exemplo, o Van Der Graaf Generator
queria reproduzir o choque entre 2 navios; como reproduzir isso convincentemente
no estúdio? Se a BBC tivesse se dado ao trabalho de mencionar o VDGG, poderia
ter adicionado essa informação ao documentário.
O título pomposo parodia a complexidade de muitas
composições de grupos progressivos que encaravam suas canções como
minissinfonias. Fusão de diversos estilos, perícia musical, meticulosidade
instrumental, mudanças de tempo e ritmo, alusões místico-cripto-literárias nas
letras, cuidado com as capas e arte-gráfica são as principais características
do rock progressivo, estilo tão idiossincraticamente britânico, que teve seu
apogeu comercial entre 71 e 73.
A primeira parte enfoca a cena psicodélica de fins dos
anos 1960 e coloca os Beatles como influência fundamental do prog rock, com o
lançamento de Sgt. Peppers, em 67. Mais do que correto, mas como não mencionar
o The Moody Blues e seu Days of Future Passed do mesmo ano, que trazia canções
pop entremeadas por interlúdios orquestrais?
A segunda representa os anos dourados, de 1970-3.
Genesis, Yes, King Crimson e, digno de louvor, a cena de Canterbury, muito
menos conhecida pelo grande público, mas altamente respeitada por fãs do
estilo. Dá pra entender como bandas secundárias como o Renaissance sequer sejam
citadas, mas deixar o Pink Floyd de fora? Eu que nem sou fã da banda (curto
algumas canções e o álbum Dark Side of the Moon) escandalizei-me!
O derradeiro “movimento” vai de 74 até o estouro dos 3 acordes punk em 77, que soterrou a complexidade e pretensão de muitas bandas
prog, como o pobre Procul Harun. É certo que a extrema autoindulgência de
álbuns como Tales from Topographic Ocean (1974), do Yes e Carl Palmer se
mostrando em sua bateria de mais de 2 toneladas ou as letras mitológicas do
Genesis (mas não todas porque o que fazemos com a denúncia social de Get’em Outby Friday?) realmente reforçam a alienação da cena progressiva com relação à
Inglaterra das greves e apagões setentistas. Mas se Prog Rock Britannia: an observation in three movements tivesse se
dado ao trabalho de procurar grupos como
Henry Cow e Gentle Giant como se deu pra bolar título irônico, o público
seria informado de que havia vida política no rock progressivo.
Importantes como Phil Collins, Steve Howe, Billl Brufford, Robert Wyatt, Mike Oldfield, Ian Anderson,
Carl Palmer, Rick Wakeman e Peter Sinfield contribuem com impressões, análises
e anedotas, tornando o documentário importante, mas longe de definitivo sobre
esse gênero tão amaldiçoado, mas que continua a ser produzido até hoje, no underground. Mas, isso seria outra
história.
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