Poucos artistas são capazes de definir uma época em suas múltiplas facetas. Blondie consegue. Se eu fosse artista teria inveja letal. Os anos 70 são Blondie, que sintetizou punk, disco, pop e o crescente rap e ainda desenhou a Caminho Suave visual-comportamental copiado/adaptado/adotado por tantas. Leia mais sobre o grupo aqui.
Tamanha importância resulta em fardo pesado e
expectativa alta quando se lança um álbum, especialmente agora, quando Debbie
Harry tá quase 70tona. Blondie teria alguma relevância à altura de seu
quadragésimo aniversário? Não estaria coroca pro universo tão jovem do pop?
No começo de maio, os norte-americanos lançaram CD
duplo, que tenta responder às perguntas anteriores. Blondie 4(0)Ever é dividido
em 2 seções: Greatest Hits Deluxe Redux e Ghosts of Download.
O primeiro disco traz regravações dalguns sucessos
do grupo. A ideia deve ter sido aproveitar as condições superiores de produção
de hoje pra aprimorar as faixas, porque os arranjos estão iguais e os vocais
são imitados dos originais. Debbie Harry jamais foi Adele; seu poder e carisma
não estão em ter voz magnífica. A regravação também deve ter pretendido
“melhorar” os vocais. Mas, refazer vocais imperfeitos por uma cantora perto dos
70 anos, que perdeu alguma capacidade pra agudos, como se nota em Heart of
Glass? Certamente mais limada, a produção perde, porém, o charme de rudeza punk
dos originais. E pra que reler Maria, de 99, deixando-a virtualmente idêntica? Greatest
Hits Deluxe Redux funciona como curiosidade pra ouvir vez só e continuar
escutando os originais.
Ghosts of Download é mais
interessante: traz 15 canções novas e uma cover. Blondie deixou o rock de lado
e orientou seu trabalho prum prisma mais pop dançável. O grupo teria cacife pra
recrutar colaboradores de primeira linha, mas trabalhou com artistas latinos
bem menos populares no hemisfério norte. O resultado é gostosa infusão de latinidad eletrônica como na brejeirice
de I Screwed Up ou na discreta cumbia
villera de Sugar on the Side. Euphoria abre com repique a la Olodum, antes
de dar uma cumbiada. Take it Back é deliciosa cavalgada dance e Rave palpita de
pulsação pulante. A Rose by Any Name me lembrou Good Boys, do álbum The Curse
of Blondie (2003), mas um tiquinho desacelerada.
A regravação do clássico oitentista
Relax, do Frankie Goes to Hollywood sintetiza Blondie 4(0)Ever. A primeira
parte da canção a despe dos teclados dos britânicos pra fazer a melodia
aparecer só no piano, mas aos poucos Debbie e seus companheiros aproximam a
cover do vibrante original, claro que sem alcançar o esplendor orgásmico dos
jorros eletrônicos de Holly Johnson e asseclas.
Mesmo que não alcancem as alturas do
seu auge criativo e de popularidade, Blondie alegra ao demonstrar que esse
pessoal já na terceira idade ainda busca novidade.
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