Roberto Rillo Bíscaro
Dose dupla de TV hoje.
Em janeiro, maravilhei-me com as falcatruas,
cambalachos e falsidades de Vanity Fair, clássico do inglês William Makepiece
Thackeray (leia minha resenha aqui).
Minha favorita foi Becky Sharp, que entrou pro panteão
de musas logo nos primeiros capítulos. Desprezada e desfavorecida na corrida
social por sua condição pobre, Rebeca é interesseira, dissimulada, carreirista;
hoje seria chamada de sociopata. Como os ricos também são sem-vergonhas na
Feira das Vaidades thackeriana e até a pamonha Amelia Selby não é de todo
santa, a sanha predadora de Becky relativiza-se.
Fazia anos que a minissérie em 6 episódios de 1998,
coproduzida pela A&E e pela BBC estava em meu HD. Resolvi ver se Natasha
Little estava grande como Becky. Está enorme! Que interpretação ótima nessa
adaptação muito boa, onde quase tudo narrado no romance foi satisfatoriamente
transposto pra telinha. Todo o elenco está excelente, mas Little arrasa com uma
Becky que vai do pérfido ao fingimento de doçura apenas com movimentos oculares e bucais.
Vanity Fair jamais cansa e está no tom apropriado de
critica de costumes/farsa, desde as tomadas excessivamente perto do rosto até à
trilha sonora incidental, passando pelas caracterizações e interpretações.
Recomendo, mas advirto que
a mini não levou Becky às prováveis consequências implicadas no texto do século
XIX. Quando o termo sociopata sequer existia, o satirista vitoriano ousou mais
na conclusão do que seus descendentes roteiristas às portas do novo milênio.
O show já não é refrescante como no início, mas não
caiu de qualidade, antes, chegou num ponto de equilíbrio e conforto onde já
podemos prever conclusões e reviravoltas. Quem só curte novidade pode torcer o
nariz, mas gostei.
A pequena Lily finalmente teve mais chance de falar,
naquela linha criancinha com tudo na ponta da língua. A atriz-mirim/personagem
foi universalmente louvada. Como ser do contra está no meu código genético,
achei torturantemente ruim e irritante.
Tirando isso, valeu rever essas famílias inclusivas,
que nessa temporada nos brindaram com casamento gay na TV aberta e tudo!
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