Roberto Rillo Bíscaro
Sou devoto de Lana Del Rey e nunca me importou a discussão se ela é fabricada, fantoche de executivo de gravadora, filha de rico brincando de ser diva. Amo a voz – manipulada ou não – e a mística meio anos 50 que a norte-americana explora.
Sou devoto de Lana Del Rey e nunca me importou a discussão se ela é fabricada, fantoche de executivo de gravadora, filha de rico brincando de ser diva. Amo a voz – manipulada ou não – e a mística meio anos 50 que a norte-americana explora.
Ela lançou seu segundo álbum há um par de semanas e
ainda há quem a ache manipulada. Manipuladora parece-me mais correto, porque a
mudança na direção de Ultraviolence em relação a Born to Die é coisa de quem é
dona do nariz. Se não, por que abandonar a fórmula mais acessível da estreia,
com seus elementos popeantes de trip hop, hip hop ou sei lá o que, em favor
duma produção mais blues, jazz e até rock? Não que Ultraviolence seja
hermético, longe disso, mas identifiquei bem menos trechos imediatamente
assobiáveis e grudentos a primeira ouvida do que em Born.
A versão normal traz 11 faixas, mas a minha é a Special
Edition, com 16. Lana segue cantando sobre relacionamentos com homens
prejudiciais, sobre grana, poder, sexo, tristeza e diversos símbolos
contraditórios/deteriorados do Sonho Americano, no mundo de Del Rey, asfixiado
por álcool e desilusões e em Ultraviolence até mesmo por solos de guitarra,
como em Shades of Cool, que assinala com maestria o deslocamento pruma
orquestração suntuosa, ainda que mais esparsa do que costumava ser, por mais
antitética que possa soar tal afirmação.
Canções com trechos grudentos começam a aparecer a
partir da faixa 4, Brooklyn Baby. Em meio a tantas personagens sofredoras, as
ótimas Money, Glory, Power e Fucked My Way to the Top trazem femme fatales lutando com as armas que a
natureza lhes deram pra vencer num mundo dominado por machos. Sem contar os
refrões cantaroláveis, como os diversos contidos em Born. Não há vez que não
ouça a lentaça linda Old Money que não emende os primeiros versos aos de A Time
for Us, do Romeu e Julieta do Zefirelli lá do ocaso dos anos 1960.
Enfim, Lana Del Rey
realizou um grande álbum, que provavelmente não convencerá os detratores, mas
não é isso que a mim importa. O que conta é que continuarei a lembrar mais dos
muitos trechos assobiáveis de Born to Die. Ultraviolence é bom, mas o álbum de
estreia é mais gostoso.
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