Mirian Dias foi a primeira mulher com albinismo a contar sua história no blog (leia aqui)
Ativa na organização das pessoas com albinismo do estado do Rio de Janeiro, Mirian volta com mais uma história.
Desta vez, ela enfoca o lado afetivo e como a autoestima danificada pode causar sérios danos, impedindo felicidades e amores.
Aos treze anos, todas as amigas da escola já tinham experimentado o sabor de um beijo e um namoro, mesmo que um compromisso às escondidas da família. Sempre acreditei que eu ia ficar sozinha. Afinal, quem ia querer ficar com uma menina tão branca e tão feia, como eu?
Ativa na organização das pessoas com albinismo do estado do Rio de Janeiro, Mirian volta com mais uma história.
Desta vez, ela enfoca o lado afetivo e como a autoestima danificada pode causar sérios danos, impedindo felicidades e amores.
Aos treze anos, todas as amigas da escola já tinham experimentado o sabor de um beijo e um namoro, mesmo que um compromisso às escondidas da família. Sempre acreditei que eu ia ficar sozinha. Afinal, quem ia querer ficar com uma menina tão branca e tão feia, como eu?
Pensam que era exagero meu? Não, não
era. Alguns meninos da escola e até mesmo da igreja que eu frequentava, não
falavam comigo, simplesmente por eu ser albina. Acreditam que até hoje tem
gente que me ignora? Poucos, mas existem.
Na adolescência, uns meninos me
desprezavam, fingiam que eu não existia. Outros me olhavam com desprezo e tinha
alguns que verbalizavam isso, através dos xingamentos e apelidos que me
causavam constrangimento.
Na escola tinha um menino chamado Hugo,
o mais bonito de todos. Não só eu achava isso, mas a escola toda! Pele clara,
olhos verdes, cabelo sempre muito bem arrumado e simpático. E anda tinha outro
charme: ele era super na dele, dando aquele ar de mistério, que deixava as
meninas enlouquecidas! Até que um dia uma colega veio com um grande sorriso nos
lábios, me contar que Hugo tinha dito que queria “conversar comigo”. Não sou da
época de “ficar” e sim conversar.
Acham que acreditei? Claro que não!
Aquilo estava parecendo mais uma armadilha. Mesmo sendo a Ângela minha amiga
desde os oito anos de idade, pensei que tinha gente tentando me enganar, que
quando eu me mostrasse interessada no menino, ia ser cercada por um grupo de
adolescentes e ser ridicularizada. Como aquele menino lindo ia ter coragem de andar
de mãos dadas com uma garota como eu? Além da minha brancura, eu era magrela,
óculos de fundo de garrafa, e um quadro de acne que me acompanhou por muitos
anos.
Por isso, falei que não queria
conversar com ninguém. Fiquei tensa com aquela situação. Não demorou muitos
dias, Hugo passou por mim e sorriu. Ah, quanto abuso! Disparei:
- Está rindo pra mim ou da minha cara?
- Pra você, claro. Queria muito
conversar com você, sabia?
Fingi não ter entendido, mas não
demorou muito pra eu me apaixonar e Hugo me procurar, para a tal “conversa”.
Não aconteceu tão rápido o beijo esperado, mas o carinho, o sorriso e as
palavras bonitas me fizeram entender que eu era uma menina, como qualquer
outra.
Mas, o encanto durou pouco. Tive medo.
Medo de ele enjoar de mim, de ter vergonha de dizer aos amigos que estava me
namorando, medo de alguma menina bonita aparecer em sua vida e eu ficar
sozinha...
Hoje, vejo que não foi medo o que senti.
Não me faltou coragem. Faltou autoestima. Isso é comum para uma criança que
nasce diferente das demais, que tem sua vida marcada pela discriminação e
preconceito alheios. Custou muito tempo para eu entender que nem todos vão me
olhar como se eu fosse um ser de outro mundo, que posso ser feliz e
experimentar o amor, assim como todos os outros seres humanos.
Depois dessas
descobertas, namorei bastante! Casei-me aos 29 anos, me separei dois anos
depois. E hoje estou novamente casada. Pela segunda vez e pra sempre! Afinal de
contas, “a fila anda”, não é? Rs
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