quarta-feira, 9 de julho de 2014

MIRIAN DESCOBRE O AMOR

Mirian Dias foi a primeira mulher com albinismo a contar sua história no blog (leia aqui)
Ativa na organização das pessoas com albinismo do estado do Rio de Janeiro, Mirian volta com mais uma história.
Desta vez, ela enfoca o lado afetivo e como a autoestima danificada pode causar sérios danos, impedindo felicidades e amores.


Aos treze anos, todas as amigas da escola já tinham experimentado o sabor de um beijo e um namoro, mesmo que um compromisso às escondidas da família. Sempre acreditei que eu ia ficar sozinha. Afinal, quem ia querer ficar com uma menina tão branca e tão feia, como eu?
Pensam que era exagero meu? Não, não era. Alguns meninos da escola e até mesmo da igreja que eu frequentava, não falavam comigo, simplesmente por eu ser albina. Acreditam que até hoje tem gente que me ignora? Poucos, mas existem.
Na adolescência, uns meninos me desprezavam, fingiam que eu não existia. Outros me olhavam com desprezo e tinha alguns que verbalizavam isso, através dos xingamentos e apelidos que me causavam constrangimento.
Na escola tinha um menino chamado Hugo, o mais bonito de todos. Não só eu achava isso, mas a escola toda! Pele clara, olhos verdes, cabelo sempre muito bem arrumado e simpático. E anda tinha outro charme: ele era super na dele, dando aquele ar de mistério, que deixava as meninas enlouquecidas! Até que um dia uma colega veio com um grande sorriso nos lábios, me contar que Hugo tinha dito que queria “conversar comigo”. Não sou da época de “ficar” e sim conversar.
Acham que acreditei? Claro que não! Aquilo estava parecendo mais uma armadilha. Mesmo sendo a Ângela minha amiga desde os oito anos de idade, pensei que tinha gente tentando me enganar, que quando eu me mostrasse interessada no menino, ia ser cercada por um grupo de adolescentes e ser ridicularizada. Como aquele menino lindo ia ter coragem de andar de mãos dadas com uma garota como eu? Além da minha brancura, eu era magrela, óculos de fundo de garrafa, e um quadro de acne que me acompanhou por muitos anos.
Por isso, falei que não queria conversar com ninguém. Fiquei tensa com aquela situação. Não demorou muitos dias, Hugo passou por mim e sorriu. Ah, quanto abuso! Disparei:
- Está rindo pra mim ou da minha cara?
- Pra você, claro. Queria muito conversar com você, sabia?
Fingi não ter entendido, mas não demorou muito pra eu me apaixonar e Hugo me procurar, para a tal “conversa”. Não aconteceu tão rápido o beijo esperado, mas o carinho, o sorriso e as palavras bonitas me fizeram entender que eu era uma menina, como qualquer outra.
Mas, o encanto durou pouco. Tive medo. Medo de ele enjoar de mim, de ter vergonha de dizer aos amigos que estava me namorando, medo de alguma menina bonita aparecer em sua vida e eu ficar sozinha...
Hoje, vejo que não foi medo o que senti. Não me faltou coragem. Faltou autoestima. Isso é comum para uma criança que nasce diferente das demais, que tem sua vida marcada pela discriminação e preconceito alheios. Custou muito tempo para eu entender que nem todos vão me olhar como se eu fosse um ser de outro mundo, que posso ser feliz e experimentar o amor, assim como todos os outros seres humanos.
Depois dessas descobertas, namorei bastante! Casei-me aos 29 anos, me separei dois anos depois. E hoje estou novamente casada. Pela segunda vez e pra sempre! Afinal de contas, “a fila anda”, não é? Rs

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