Roberto Rillo Bíscaro
Arne Dahl é o pseudônimo do sueco Jan Arnald, que desde o fim do século passado engrossa o sucesso da literatura policial escandinava com seus romances protagonizando o A Gruppen: detetives de formação, especialidade e temperamento diferentes, que resolvem intrincados casos.
Os 5 primeiros livros da série foram transformados em
telefilmes, exibidos entre 2011/2 na Suécia. Cada programa tem 180 minutos,
resultando em tempo suficiente pra solucionar os mistérios e também pra
conhecermos cada vez melhor os membros do A Gruppen, com os quais nos
importamos crescentemente. Se matarem algum na prometida próxima série, juro
que enlutarei; especialmente se se atreverem a eliminar o Viggo Norlander, meu
favorito! Que lindo, vê-lo meio caidaço e descrente no primeiro episódio pra
metamorfosear-se em personagem até divertida.
A ênfase no trabalho em equipe e a observação de cada
membro do A Gruppen dá o charme essencial a Arne Dahl (como foi batizada a
série). A também sueca Irene Huss empalidece em comparação nesse quesito,
porque pouco sabemos dos demais membros de seu esquadrão. Em Arne Dahl diversas
histórias chegam a ter íntimas conexões com alguns dos detetives –até meio
exageradas no episódio Europa Blues, reviravoltante trama transeuropeia
interlaçando nazismo, troca de identidades, prostitutas russas.
A interconexão de fios de trama aparentemente
desconexos é outro ponto forte de Arne Dahl e de Nordic Noir em geral. Crimes e
eventos separados mostram-se como causa e efeito ao passo que obviedades são evitadas.
A série não serve pros apreciadores de correria,
tiroteios e banhos de sangue. Nordic Noir é em meio tom e cozinha em fogo lento;
no caso do episódio Upp Till Toppen Av Berget, sobre pedofilia, alguns momentos foram
vagarosos e distantes demais da trama central até pra mim, acostumado a esse
tipo de narrativa. Sintam-se alertados os viciados em adrenalina.
Em quase todo episódio, um par de minutos é dedicado à
interação do faxineiro persa com algum membro do A Gruppen, parte que menos
apreciei e em 2 ocasiões, detestei. A intenção era tonalizar a trama com algo
semelhante ao realismo mágico, parece, uma vez que o homem sempre destila
alguma sabedoria que influenciará na vida particular dos detetives ou na
resolução da trama. Até aí, eu poderia aceitar – mesmo achando que quebra a
verossimilhança – mas o cara apagar uma lousa e quando dito pra parar,
retroceder o apagador e as letras reaparecerem fica difícil de engolir.
Esse deslize de excesso de
poeticidade, todavia, não obscurece a qualidade de Arne Dahl, que em sua
paciência escandinava conta histórias envolventes com um grupo humano e não
meras personagens ocas e estereotipadas.
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