Jeitinho Romeno
A Romênia vive sua Nova Onda cinematográfica. Em 2007, por exemplo, Cristian Mungiu ganhou a Palma de Ouro por seu
realista e deprimente 4 Meses, 3 Semanas e 2 Dias, sobre uma garota que tenta
um aborto na era Ceuasescu. Resenhei o filme de estreia do diretor, Occident
(2002), texto que você pode ler aqui.
Ano passado, o Urso de Prata do Festival de
Berlim foi pra Poziția Copilului (Institnto Materno, em nossos
cinemas), drama
dirigido por Călin Peter Netzer. A trama se passa na atualidade e apresenta um setor da
classe-média que age de modo muito semelhante ao dum país latino-americano
famoso pelo decantado “jeitinho”.
Cornelia
é cenógrafa e loira oxigenada, mãe superprotetora de Dinu. Quando o filho se envolve
em um atropelamento fatal, que vitima um adolescente pobre, ela ativa sua rede
de contatos pra fazer de tudo pra livrar o trintão das consequências.
O
tema do sufocamento materno salta aos olhos, porque o roteiro insiste – um
tanto exageradamente – na vontade ditatorial de Cornelia, que apenas conseguiu
criar um filho tão insensível ao outro, inclusive à própria mãe, como ela. A
atriz Luminita Gheorghiu dá um banho de interpretação, seja transmitindo a
antipática soberba de quem se acha no direito de levar vantagem em tudo, seja
desabando em frente ao pai do garoto atropelado. Mas, sem a condução emocional
de trilha sonora incidental e com atuações sóbrias, Poziția
Copilului transmite todo o calculismo frio das relações humanas reificadas.
A dimensão social penetra no relacionamento
paternalista com a empregada, a qual Cornelia presenteia com um sapato usado e
chama pra tomar café juntas apenas pra poder reclamar do filho ou na relação
com os policiais, que não demoram a querer tirar casquinha das possíveis
conexões sociais de Cornelia. Enfim, Poziția Copilului trata
de níveis de corrupção que permeiam desde o relacionamento familiar até as
instituições.
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