A partir de 1991, a Iugoslávia começou a desmoronar,
tornando a península balcânica uma colcha ensanguentada de retalhos. Muitas
etnias, religiões, idiomas e recalques, esses últimos materializados em tiro,
porrada e bomba na Bósnia e adjacências.
O diretor sérvio Srdan Golubovic explorou os efeitos do
conflito na vida de pessoas “comuns”, 12 anos após seu término, no solene
Krugovi (2013). O filme baseou-se num fato pra exibir como ações funcionam como
círculos concêntricos formados na água a partir do lançamento duma pedra.
Em 1993, um jovem soldado sérvio de licença na Bósnia
salva um muçulmano de ser linchado por 2 soldados sérvios. Corte pra 12 anos
adiante sem que saibamos o que aconteceu com o soldado salvador.
O muçulmano vive agora na Alemanha e é procurado por
uma compatriota que quer salvar o filho do pai abusivo. Na Bósnia, o pai do
soldado sérvio dedica-se à construção duma igreja e recusa violentamente um jovem
que procura emprego. Em Belgrado, o muçulmano agredido é cirurgião de sucesso e
é jogado no dilema de ter que salvar (ou não) a vida do chefe de seus
agressores.
Revelando apenas no final o que aconteceu com o soldado
sérvio ao salvar o vendedor muçulmano, Krugovi desvela aos poucos as
inter-relações entre os diversos núcleos dramáticos. Não demora pra conjecturarmos
o que passou com o soldado Marku e as relações, mas isso não importa: Krugovi
não é suspense; é drama sobre consequências das ações e a possibilidade de
perdão.
Lento, sem apelações de cine comercial, Krugovi é sério
sem ser sombrio e o final deixa esperança no ar.
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