terça-feira, 19 de agosto de 2014

TELINHA QUENTE 131

Roberto Rillo Bíscaro

Em 1892, os irmãos George e Weedon Grossmith lançaram The Diary of a Nobody, sátira sobre um funcionário de escritório que não percebe sua insignificância social e acredita que seu diário pode interessar a alguma editora. Charles Pooter tornou-se sinônimo do bajulador de superiores, de enxerga-se muito acima daqueles que são iguais ou apenas um pouco abaixo a eles na escala social.
Transpor pra TV uma obra que finge ser um diário foi arriscado. Pra garantir diversidade, ter-se-ia que descaracterizar a forma do diário, colocando-se personagens pra atuar o narrado. Ou manter-se-ia o formato escolhido pelos irmãos ingleses e botar-se-ia um ator exímio monologando em frente às câmeras pra simular um diário.
O roteirista Andrew Davies (da arrasante Bleak House) escolheu a segunda opção e a BBC contratou Hugh Bonneville (Lord Grantham, meu favorito em Downton Abbey) pra ficar sozinho na telinha por cerca de 2 horas. Pra facilitar pro telespectador – desacostumado a monólogos televisivos – The Diary of a Nobody (2007) foi dividido em 4 episódios de meia hora.
Deu tudo muito certo. A adaptação é sob medida pra apreciadores de trabalho de ator. Hugh transmite humor, compaixão, esnobismo, raiva, pathos, ultraje através de entonações, sotaques, timbres, olhares, erguidas de sobrancelhas. Difícil não empatizar com a falta de noção de Charles Pooter encarnado em Bonneville, que entendeu a personagem até suas entranhas.
A minissérie parece tanto com um videobook, que deletei o texto dos Grossmith de meu Kindle. Bora ler coisa que não conheço!

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