Há algumas semanas vi um thriller dinamarquês que não mereceu resenha, mas não me desgostou. Era a adaptação do primeiro livro de Jussi-Adler Olsen sobre o Departamento Q, especializado em resolver casos arquivados sem solução.
Acabei de ler o quarto da série, em dinamarquês intitulado Journal 64 (2010), que li na tradução inglesa, The Purity of Vengeance (2013). Não negarei que Revenge tenha influído na escolha, afinal, até comecei a ler O Conde de Monte Cristo, inspiração pra vingança de Emily Thorne, mas desisti pela chatice.
O livro tem como tema social motivador da vingança, a eugenia, que não desapareceu da Europa com a derrota nazi de 45. Em 1987, Nete Hermansen planeja acertar as contas com aqueles que fizeram de sua vida um inferno estéril, após mandarem-na a uma ilha-reformatório, onde mulheres muito sexualmente ativas ou com (suposta) deficiência intelectual eram operadas contra a vontade.
A narrativa passeia por 3 ou 4 décadas num movimento de vai e volta que não confunde, porque bem marcado. Basicamente, temos a infância e adolescência de Nete, quando a jovem analfabeta é enganada por um monte de gente. Depois, de meados dos anos 80 pra frente, quando Nete se ferra pela deradeira vez e resolve matar todo mundo e finalmente, o ano de 2010, quando Carl, Rose e Assad investigam e desvendam os crimes.
Eugenia e os traumas gerados pela exclusão social e pelos partidos supremacistas são tão amedrontadores e nojentos que empalidecem a vingança de Nete. Pena que esse não seja a única falha de Journal 64.
O detetive-protagonista Carl é tão menos interessante que seu assistente Assad que fica difícil entender como a série chegou ao volume 4 sem que ele tenha assumido o centro dos holofotes. Será por causa da etnia?
As referências a um caso que deve permear os demais volumes emperra a leitura, porque queremos progredir na trama de Nete e do malévolo Curt Wad, mas somos atrasados por velhos fantasmas de Carl, que além de não elucidados, não contribuem pro avanço de The Purity of Vengeance.
A reviravolta final é forçada demais e a transformação do frio octogenário Curt Wad em psicopata fortão no desfecho é indigesta. E a ex-professora de Nete aparecendo do nada apenas pra deixar o livro com mais cara de roteiro pra TV? Me deu meda!
Não posso dizer que as referências a diarréias e sintomas de gripe tenham me agradado; desnecessário tanta informação sobre o cheiro corporal de Carl, que sequer conseguimos imaginar como seja.
Se for pra começar a série por este livro, não recomendo.
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