Pow! Sock! Wham!
Roberto Rillo Bíscaro
Roberto Rillo Bíscaro
Quando eu tinha uns 10, 12 anos, adorava o seriado do
Batman. Creio que a última vez que assisti a um episódio, devia ter essa idade,
depois nem sei se as emissoras transmitiam a Dupla Dinâmica. Na época, percebia
o show como de aventura, sem nenhum toque de humor.
35 anos mais tarde, vi os 120 episódios que constituem
as 3 temporadas, originalmente transmitidas pela ABC, entre 1966-68. Que díspar
a recepção agora que estou cerca de completar meio século. Deu pra entender um
par de coisas sobre esse fenômeno de audiência.
A série tinha o poder de agradar crianças e adultos.
Agora compreendo que nós maiores somos fisgados pelo humor impagável que flerta
com o nonsense. Imagine: Batman e Robin entram numa boate e
uma moça aproxima-se do morcegão pra xavecá-lo e ele diz que quer passar
despercebido. Com aquela roupa? É um disparate atrás do outro; as lições de
moral que pra adultos funcionam como piadas, porque dadas em situações fora de
cabimento, enfim, como Bruce Wayne e Dick Grayson, Batman, a série, tem 2
identidades.
Astros de cine com
carreiras em baixa participavam como vilões. Na época, a TV estava longe de ter
o status atual. Ator ”sério” fazia sucesso no teatro ou no cine, mas quando a
carreira não decolava ou estava a despencar, ganhar uma graninha na TV era
opção boa. A relação de famosos de então é extensa:
George Sanders como Mr. Freeze, Ann Baxter como Zelda,
ambos do clássico A Malvada. Burgess Meredith deixava a Broadway de vez em
quando pra faturar uns trocos como Pinguim. Quem lembra que nos anos 90, Burgess
ressurgiria como o pai de Jack Lemmon, em 2 Velhos Rabugentos?
David Wayne, o primeiro pai de Pamela Barnes Ewing foi
o Chapeleiro Maluco, vilão q apareceu pouco. E não é que Alexis Morel Carrington Colby Dexter Rowan também foi vilã, a Sereia?
As 2 primeiras temporadas lembram serials muito concisos. Histórias divididas em 2 capítulos, sendo
que ao final do primeiro os heróis encontravam-se em situação de perigo mortal
e no episódio seguinte safavam-se no último instante, de forma estapafúrdia.
As interpretações vão ficando cada vez mais
canastronas. Será que os produtores perceberam que o público adulto via Batman
pelo seu caráter cult de quanto pior,
melhor? Ou os atores eram ruins mesmo? Nunca vi Burt Ward em outro papel que
não fosse Robin, então não tenho parâmetro de julgamento. Mas, meu instinto
insiste que ele era mau ator mesmo.
Impagável como as identidades secretas de Batman e
Robin não foram reveladas um sem número de vezes. Bastaria arrancar a máscara
de Robin, que aliás, não cobria nada! Se bem que o Super-Homem tinha apenas óculos como
disfarce...
E o bat-fone chamando a atenção na mansão de Bruce
Wayne? E a voz idêntica de Bruce e do Homem-Morcego, será que o Comissário
Gordon nunca se tocou? Episódios há em que ele fala com as 2 personagens em
sucessão!
O cinto de utilidades é legendário e motivo de escárnio
devido aos desatinos que carrega, mas não é que Batman se saiu melhor do que
muita ficção-científica “séria” no quesito antecipação de porvir tecnológico? O
computador da bat-caverna, mesmo cuspindo aqueles papeizinhos primitivos, muitas
vezes cumpre funções hoje realizadas pela internet ou pelo Google e um par de
vezes um telefone móvel mostrou aos sessentistas o que seria um celular, que
viria ao mundo apenas nos 80’s.
As cores são superlativadas, os diálogos hiperbólicos
em trocadilhos, assonâncias e aliterações. Tudo em Batman é psicodelia sem o
menor pé no real.
Mas, toda piada perde a graça e exagero enjoa. Lição
que aprendi vendo Batman como adulto: o público deve ter saturado de 2
episódios por semana e na terceira temporada as aventuras resumiam-se a
episódio único. Como o orçamento despencou, as aventuras constituíam-se num
trololó sem fim, e nem a adição da Batgirl salvou a série do cancelamento.
Santa overdose, Batman! Jamais terei saco pra ver outro
episódio, mas a canção-tema provou ser mesmo um clássico. Ouvi o surf-rock, que foi até regravado pelo
punk The Jam, as 120 vezes e nada de enjoar!
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