Jovem albino vive em pânico em Nampula
Um jovem identificado pelo nome de Buana Ali, de 20 anos de idade , natural de Matibane, distrito de Mossuril, em Nampula, é, desde criança, rejeitado pelos seus progenitores alegadamente por ter nascido sem pigmentos de protecção da pele, facto que condiciona a sua convivência na sociedade.
Buana Ali, à semelhança de muitos outros albinos, passa por dificuldades de adaptação social e emocional, uma vez que ele é rejeitado pela sua família, na escola e nos locais públicos em geral, devido à sua condição genética. O jovem em alusão foi forçado a crescer sob os cuidados da sua avó na cidade de Nampula. São poucas as pessoas que aceitam conviver com o jovem. Os progenitores de Ali tinham a intenção de lhe tirar a vida, alegadamente por ser um albino, porém a acção foi frustrada pela sua avó.
Ali, presentemente residente no bairro de Carrupeia, arredores da cidade de Nampula, vive momentos difíceis porque a sua avó, a única parente que o aceitou como ser humano, faleceu há alguns anos. Aquele jovem contou à nossa reportagem que não tem sido fácil conter as lágrimas e o sentimento de dor devido à descriminação social que tem sofrido.
Desde que o nosso entrevistado entendeu que os seus próprios pais estavam insatisfeitos por tê-lo como filho, a angústia tomou conta dele, mas não se deixou abater pela situação em que vive, estando neste momento a travar grandes batalhas para garantir a sua sobrevivência. Desde o ano de 2010, ele dedica-se à mecânica, com particular destaque para a reparação de motorizadas. Para o efeito, Ali teve de pedir ajuda a um cidadão que tem uma oficina na rua da França para aperfeiçoar as suas habilidades.
Neste ofício de reparação de velocípedes, o nosso entrevistado disse que, durante os quatro anos de aprendizagem, não foi fácil assimilar aquela actividade, porque naquelas oficinas sofreu e continua a sofrer humilhações. Além das sistemáticas violações psicológicas que Ali sofre, o jovem disse que o seu mestre não lhe dá 50 centavos sequer, apesar de as oficinas terem muitos clientes.
Superstição obriga Ali a desistir dos estudos
O nosso interlocutor viu-se forçado a ficar privado do direito à educação. Ele abandonou a escola quando frequentava a 6ª classe, porque sofria de miopia severa, e não só. Nos primeiros dias de aulas, o sol era o seu maior inimigo, devido à sua pele rosada, e, tempo depois, as pessoas tornaram-se cada vez mais cruéis com ele.
“A todo o momento, outras crianças lançavam giz em mim. Por causa disso, eu fui obrigado a aprender a viver em constantes provocações, agressões e humilhações dentro e fora da sala de aulas. Gosto de estudar, mas abandonei a escola”, disse Ali tendo acrescentado que “até certo ponto penso que é uma maldição nascer sem o pigmento de protecção da pele”.
Ali é praticante de desporto, sobretudo a modalidade de futebol, e os seus colegas de campo e adeptos têm-lhe violentado psicologicamente, atribuindo-lhe nomes pejorativos. Eles chamam-no “mucunya, notheele” termos macua usados para referenciar a raça branca.
“As pessoas acham que nós (os albinos) não somos iguais a elas, só porque nascemos com essa dificuldade genética, por isso devem-nos violentar com palavras injuriosas e, por vezes, acções malignas”, lamentou Ali, acrescentou: “Num país como o nosso devia haver rigorosidade para que não se violasse os direitos de todos nós como seres humanos”.
O nosso interlocutor é de opinião de que o sector da Saúde em Moçambique devia procurar meios por forma a facultar a aquisição de medicamentos como pomadas para as feridas e pele em decomposição das pessoas com albinismo de modo a minimizar as cicatrizes, feridas, marcas e queimaduras naqueles seres humanos.
É de referir que o albinismo é uma condição de natureza genética em que há um defeito na produção pelo organismo de melanina. Esta anomalia é a causa de uma ausência parcial ou total da pigmentação nos olhos, pele e pêlos da pessoa afectada.
Também aparecem equivalentes do albinismo nos vegetais, em que faltam alguns compostos corantes, como o caroteno. É uma condição hereditária que surge com a combinação de genes que são recessivos nos pais. Os albinos sofrem devido à falta de protecção contra a luz solar, especialmente na pele e nos olhos. Sendo assim, muitos preferem a noite para o desenvolvimento das suas actividades, daí que surge o nome “filhos da lua”.
A forma mais grave de albinismo é chamada oculocutâneo. As pessoas com esse tipo de albinismo têm cabelos, pele e íris brancos ou de cor rosada, além de problemas de visão denominada fotofobia, ou seja, a sensibilidade à luz e nistagmo, movimento rápido dos olhos. Para o seu tratamento, os óculos são frequentemente prescritos para corrigir problemas de visão e a posição do olho.
Por vezes, recomenda-se a cirurgia do músculo do olho para se corrigir os movimentos anormais dos olhos. A pele do albino é branca, frágil e fotossensível por esta razão, não deve ser exposta à radiação solar. Nestes indivíduos, a exposição ao sol não produz bronzeamento, ao invés disso, pode causar queimaduras de graus variados. As pessoas com essa falha na pigmentação são mais susceptíveis de desenvolver cancro de pele precocemente.