Nosso historiador-cronista já se prepara para o Natal, mas tem críticas a fazer. Além disso, já elegeu a personalidade do ano; adiantado ele, não?
Descubra quem, lendo a crônica!
NATAL, FIM DE ANO, SAUDADE E JUSTIÇA...
Descubra quem, lendo a crônica!
NATAL, FIM DE ANO, SAUDADE E JUSTIÇA...
José Carlos Sebe Bom Meihy
Sei que posso parecer repetitivo, mas não tenho como fugir
da surpresa desagradável que se repete a cada fim de ano. E sempre mais cedo,
se impondo como obrigação ou tarefa. Refiro-me às preparações para o Natal. Tudo
se inicia logo demais! Já no mês de outubro as lojas estão decoradas, as
propagandas se multiplicam e as inefáveis musiquetas começam rondar nossos
ouvidos saturados pelos sinos, palavras gastas e repetidas mecanicamente. Tenho
um temor maior, confesso: ouvir a cantora Simone entoando “Então é Natal”.
Arrepios se multiplicam com a espera do Show do Roberto Carlos, aiaiaiai.
Alongada no tempo, as supostas celebrações perdem a graça e a magia que se
supunha projetada nas crianças vira apenas troca de presentes materializados em
compras estafantes. Sei que vivemos na “sociedade do espetáculo” como definiu
Guy Debord, mas não precisa tanto exagero. Até a decantada missa do galo perdeu
prestígio dando lugar a exagerados encontros gastronômicos e etílicos. E que
dizer dos humilhantes e incômodos livros de ouro, amigo oculto e reuniõezinhas
festivas de fim de tarde? Não é demais?!
Com saudade perfumada, recordo-me do tempo de minha meninice
quando, em minha casa, faltando uma semana para os festejos, minha mãe arrumava
o presépio com zelo irretocável. Era emocionante. O tempo parecia perfeito para
não vulgarizar algo que tinha que significar muito. Toda família reunida,
escolhíamos onde colocar os personagens, discutíamos sobre o local da estrela
guia, optávamos pelo caminho dos Reis Magos e inventávamos possibilidades
baseadas na tradição. Era mesmo uma festa e o mais emocionante, porém, é que o
menino Jesus apenas era colocado no dia 25. Expectativas. A solenidade nos enternecia
e convidada à meditação sobre nosso papel na família e o juízo sobre as
virtudes dos feitos fazia parte do pacote emocional de cada um. Havia leveza na
simplicidade dos atos. Dado o tempo de intensificação do trabalho motivado pelo
atendimento da loja de tecidos de meu pai, o presépio correspondia ao auge dos
festejos. Demorou muito para que começássemos a trocar presentes e pensar em
árvore de Natal, bolas e outros apetrechos. O importante mesmo era o clima
aconchegante provocado pela tradição religiosa iniciada por São Francisco de
Assis e replicada em cada rincão de um jeito. O tempo foi rodando e novas
práticas foram sendo assumidas. Não houve como negar a imperiosidade do
consumismo que trocou a ternura festiva pela sensação da modernidade. A eletrônica
tem a ver com isto. Substituindo as antigas “marquinhas”, pequenas velas acesas
em copo com água e azeite, as feéricas lâmpadas atestam o envelhecimento de
tudo.
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