Roberto Rillo Bíscaro
Questionado sobre suas séries favoritas, Bryan Brown,
da australiana Old School, mencionou Breaking Bad, Mad Men e “todas as
norueguesas”, Forbrydelsen, Borgen, Bron/Broen. Não interessa aqui a confusão
que o veterano ator fez entre os países escandinavos, uma vez que nenhum dos
programas citados vem da terra do A-Ha. Importa o impacto que o Nordic Noir vem
tendo sobre países de língua inglesa.
Replicando a invasão viking, o Reino Unido foi o
primeiro território estrangeiro anglofalante conquistado por esse sub-gênero
policial, tanto literária quanto televisivamente. Não estranha, portanto, que
dos domínios de Elizabeth II venha a primeira série assumidamente influenciada
até a medula pelo jeito escandinavo de narrar crimes.
O que pode surpreender é que Hinterland (2014) tenha
vindo do País de Gales, parte menos cotada do reino que recentemente esteve em
perigo de perder um de seus membros. Mas é esse isolamento/desconhecimento um
dos ligamentos do programa com a também remota Escandinávia, que muitos julgam
conhecer, só que não.
São 4 episódios com histórias independentes que duram
90 minutos. Todos os ingredientes do Scandi-drama (outra nomenclatura pra
Nordic Noir) sussurram presente: lentidão pra contar a história, silêncios, um
detetive atormentado com cara de quem precisa de antidepressivo, uso quase
inexistente de armas de fogo, música incidental meio fantasmagórica e
insistência em mostrar paisagens florestais, céu e casas isoladas à beira-mar.
Mas, sorry Gales, pelo que vi a Escandinávia é muito mais linda! Outra coisa:
quanta moradia caindo aos pedaços! Cadê o primeiro mundo, gente?
Como há 2 sistemas linguísticos operando no país –
muita gente fala galês – a sensação de exotismo pro público inglês deve ter se
aproximado a duma série dinamarquesa, porque diversos segmentos têm que ser
legendados em inglês. Na verdade, a série foi filmada 2 vezes, porque uma das
versões é em galês. Vi a inglesa.
Tom Mathias, o detetive, veio da Inglaterra e não
domina o galês. Isso reforça seu não-pertencimento, mas também o aproxima da
maioria dos espectadores, tão forasteiros naquele ambiente rural quanto ele.
Difícil é empatizar com um sujeito tão macambúzio, mas isso não é defeito, tem
que ser assim pro show ter maior efeito.
As tramas são duma melancolia por vezes abissalmente
melodramática como a primeira, onde é difícil imaginar como uma personagem pôde
ser tão psicologicamente aniquilada.
A BBC Wales anunciou que haverá segunda temporada de
Hinterland (Y Gwyll, em galês), mal posso esperar!
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