Roberto Rillo Bíscaro
O documentário Killing Me Softly: The Story of Roberta
Flack (2014), da BBC norte-irlandesa, preencheu essa lacuna. Aprendi que a
cantora veio de ambiente bastante distinto do gerador de divas divinamente
gritonas como Aretha Franklin.
A sulista Flack cresceu no então segregado subúrbio de
classe-média Arlington, em Washington, onde frequentava a igreja Metodista,
que, diferentemente da Batista – campo de aprendizado musical de Aretha e
outras – enfatizava a entoação de hinos mais comedidos, em detrimento da
energia gospel prevalente em outras denominações de alta frequência negra.
Depois disso, Roberta estudou piano clássico e lecionou música por 10 anos,
antes de começar a se apresentar num bar da capital estadunidense. Essa
formação é alegada como responsável pelo caráter mais melódico – no sentido de
doce - de seu cantar.
Acusada de embranquecer demais sua interpretação –
porque sempre contrastada com Franklin e que tais – o documentário faz ver que
Flack vem de outra tradição e no início de sua carreira suas canções tinham
conteúdo político comparável a divos como Marvin Gaye.
Jamais esquecendo a relação entre produção/ fruição
musical e classe social, o documentário explica o desenvolvimento dum setor da
classe-média negra, sua ligação com a música de Flack e o progressivo
desligamento desse cancioneiro e estilo com setores negros menos privilegiados,
que nos 80’s abraçaram a contestação hip hop enquanto a cantora se estabelecia
confortavelmente no ameno Quiet Storm, grosso modo, mistura bem comportada de
jazz e soul.
Essa interconexão entre os níveis musical e
sócio-histórico torna Killing Me Softly: the Story of Roberta Flack útil não
apenas pra interessados por música e artistas, mas também pra estudiosos de
cultura e história norte-americana contemporânea, mormente a
afrodescendente.
Infelizmente, nem clipe do documentário no You Tube
encontrei, mas quem utiliza Torrent conseguirá o documentário em sítios como o
Pirate Bay.
Nenhum comentário:
Postar um comentário