segunda-feira, 24 de novembro de 2014

CAIXA DE MÚSICA 148





Roberto Rillo Bíscaro

Hoje é fácil desatentar pra importância do Roxy Music. Junto com David Bowie, o grupo inglês definiu o glam rock setentista, combinando progressivo, psicodelia, experimentalismo, rock e mais. O visual andrógino e a importância das roupas, cabelos e visual em geral constituiriam parte da inspiração da geração New Romantic e da parafernália vídeo-promocional dos anos 80.
Formado por feras como Phil Manzanera e Brian Eno, o Roxy Music tinha no vocalista Bryan Ferry uma figura que se tornaria sinônimo de elegância e glamour masculino. Destoando do visual cabeludo desleixado dos roqueiros, Ferry progressivamente abandonou a androginia pelo estilo cavalheiro distinto com smokings, blazers, paletó e gravata. Seu fiapo de voz ajudou a quebrar a noção de que pra cantar era necessário ter vozeirão ou se esgoelar.
O experimentalismo art-rock do Roxy começou a ser abandonado em 79, com o álbum Manifesto. Em 82, Avalon encerrou as atividades da banda por anos e mostrou a metamorfose completa em um grupo capaz de produzir pop infecciosamente elegante.
Os anos 80 trouxeram sucesso comercial à carreira-solo de Bryan Ferry. 3 ou 4 álbuns de pop oscilando entre o dançante e o melancólico, com produção obsessivamente esmerada. No Brasil, o sucesso mundial Slave to Love tomou as rádios de assalto e deve ser executada até hoje em programas de flashback romântico. Ferry não parou de lançar álbuns, aventurando-se em sonoridades distintas àquela dos 80’s, sempre mantendo qualidade e finesse.

Semana passada lançou Avonmore, e, quase 70tão parece que teve saudade da década que lhe rendeu tanta grana. O álbum tem faixas que tranquilamente podem ser percebidas por ouvintes menos atentos como constituintes de Boys and Girls (1985) ou Bette Noire (1987). E isso não é pouca coisa.
Recheado de convidados estelares como Nile Rodgers, do Chic e o guitarrista Johnny Marr dos Smiths, Avonmore é sofisticado e uma de suas únicas aventuras é uma releitura da clássica Send in the Clowns em clima meio psicoeletrônico, que deu bastante certo, afinal, cantá-la tradicionalmente seria chover no ensopado. Até Renato Russo gravou isso e olha quanto faz que morreu!
O filé mignon, entretanto, são as canções mais dançantes que remetem aos anos 80. A aliterativa Loop de Li (delícia sussurrar isso!) abre os trabalhos e é insultantemente chique e em momentos me lembra Same Old Scene, do Flesh + Blood (1980), do Roxy, onde tio Ferry mostrou pros garotões New Romantic que inventara aquele jogo.
A faixa-título, Driving Me Wild, Midnight Train, One Night Stand e A Special Kind of Guy (percussão chupada de Sexual Healing, do Marvin Gaye?) seguem o padrão oitentista de instrumentação complexa com cara de camadas esparsas, piscadas pra musica negra/disco e, claro, muita pose pra tocar em desfiles, vernissages e afins.
Avonmore não altera a carreira de Ferry, mas, avizinhando os 70, o inglês tem mais é o direito de fazer o que sabe melhor: ser Sir sem sê-lo.

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