Roberto Rillo Bíscaro
Hoje é fácil desatentar pra importância
do Roxy Music. Junto com David Bowie, o grupo inglês definiu o glam rock
setentista, combinando progressivo, psicodelia, experimentalismo, rock e mais.
O visual andrógino e a importância das roupas, cabelos e visual em geral
constituiriam parte da inspiração da geração New Romantic e da parafernália
vídeo-promocional dos anos 80.
Formado por feras como Phil Manzanera e Brian Eno, o
Roxy Music tinha no vocalista Bryan Ferry uma figura que se tornaria sinônimo
de elegância e glamour masculino. Destoando do visual cabeludo desleixado dos roqueiros,
Ferry progressivamente abandonou a androginia pelo estilo cavalheiro distinto com
smokings, blazers, paletó e gravata. Seu fiapo de voz ajudou a quebrar a noção
de que pra cantar era necessário ter vozeirão ou se esgoelar.
O experimentalismo art-rock do Roxy começou a ser
abandonado em 79, com o álbum Manifesto. Em 82, Avalon encerrou as atividades
da banda por anos e mostrou a metamorfose completa em um grupo capaz de
produzir pop infecciosamente elegante.
Os anos 80 trouxeram
sucesso comercial à carreira-solo de Bryan Ferry. 3 ou 4 álbuns de pop
oscilando entre o dançante e o melancólico, com produção obsessivamente
esmerada. No Brasil, o sucesso mundial Slave to Love tomou as rádios de assalto
e deve ser executada até hoje em programas de flashback romântico. Ferry não
parou de lançar álbuns, aventurando-se em sonoridades distintas àquela dos
80’s, sempre mantendo qualidade e finesse.
Semana passada lançou Avonmore, e, quase 70tão parece
que teve saudade da década que lhe rendeu tanta grana. O álbum tem faixas que
tranquilamente podem ser percebidas por ouvintes menos atentos como
constituintes de Boys and Girls (1985) ou Bette Noire (1987). E isso não é
pouca coisa.
Recheado de convidados estelares como Nile Rodgers, do
Chic e o guitarrista Johnny Marr dos Smiths, Avonmore é sofisticado e uma de
suas únicas aventuras é uma releitura da clássica Send in the Clowns em clima
meio psicoeletrônico, que deu bastante certo, afinal, cantá-la tradicionalmente
seria chover no ensopado. Até Renato Russo gravou isso e olha quanto faz que morreu!
O filé mignon, entretanto, são as canções mais
dançantes que remetem aos anos 80. A aliterativa Loop de Li (delícia sussurrar
isso!) abre os trabalhos e é insultantemente chique e em momentos me lembra
Same Old Scene, do Flesh + Blood (1980), do Roxy, onde tio Ferry mostrou pros
garotões New Romantic que inventara aquele jogo.
A faixa-título, Driving Me Wild, Midnight Train, One
Night Stand e A Special Kind of Guy (percussão chupada de Sexual Healing, do Marvin
Gaye?) seguem o padrão oitentista de instrumentação complexa com cara de
camadas esparsas, piscadas pra musica negra/disco e, claro, muita pose pra
tocar em desfiles, vernissages e afins.
Avonmore não altera a carreira de Ferry, mas,
avizinhando os 70, o inglês tem mais é o direito de fazer o que sabe melhor:
ser Sir sem sê-lo.
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