A descriminalização da maconha tem sido defendida/combatida há algum tempo e não faltam exemplos e argumentos elencados a favor ou contra. Nosso historiador-cronista não faz rodeios em dar seu parecer. E o seu, qual é?
PORQUE SOU CONTRA A LEGALIZAÇÃO DA MACONHA.
José Carlos Sebe Bom Meihy
Diria de início que, de
maneira intermitente frequento há mais de seis anos as reuniões abertas do
Narcóticos Anônimos no Rio (NA/Grupo Gata/Rio). Tenho ao longo do tempo
recolhido testemunhos sobre os efeitos da cannabis na vida das pessoas. Além
dos usuários, busco medir as sempre dramáticas consequências na coletividade
familiar dos adictos. Trabalho com a regra, e não com exceções e os números não
mentem. Estou a par da diferença entre usar a droga “socialmente”, como
“recreação”, tê-la como “eletiva” e mesmo “de uso variado” isso, contudo não
autoriza pensar sua generalização, como se fosse controlada (isso seria
possível em um país como o nosso?) levasse à diminuição dos usuários. Sabe-se
que em estados como a Austrália, Estados Unidos e Espanha – onde a droga foi descriminalizada
– ao contrário do que se supunha, houve aumento notável no consumo, além de gerar
burocracia e caro segmento de controle. Em continuidade, pois este tipo de
abordagem coloca um problema: então como enfrentar o caso? Pela via dos
indivíduos ou do mercado? É lógico que na relação público/privado uma parte não
existe sem a outra, mas quais os limites e impactos? Quem paga por isso, os
consumidores ou a coletividade? Também vale lembrar que o Brasil não é a
Holanda e que o Uruguai – que acaba de legalizar o uso controlado da erva – tem
menos de 4 milhões de habitantes e nós 200 milhões em um território
desigualmente desenvolvido.
Mas, vamos a outros fatos. Não
se tem como desprezar alguns argumentos científicos que visam dar suporte a
posições que precisam ser divulgadas além do julgamento tolo ou desprovido de
bases. Aliás, quando faltam argumentos sobram pechas do tipo “fulano é
antiquado, fora de moda”, “não sabe das coisas”. Não vale ainda se alienar em
exercícios filosóficos que traduzidos para o vulgo se esgotam em abstrações do
tipo “eu decido sobre minha vida”, ou até “dentro de casa quem manda sou eu”.
Em continuidade, apoio meus pontos de vista na conclusão firmada pela
psiquiatra Ana Cecília Marques que dirige a ABEAD (Associação Brasileira de
Estudo do Álcool e de outras Drogas). Ela, em texto oficial, dirigido ao
Ministério da Justiça e à Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas, parte
da classificação indiscutível de que a maconha é droga psicotrópica, substância
que afeta o funcionamento do sistema nervoso central e que causa dependência,
alem de comprometer o sistema respiratório e motivar complicações
cardiovasculares. Logicamente, há outros efeitos como diminuição da memória,
depressão, ansiedade, esquizofrenia, episódios de pânico, redução da potência
sexual. Como professor, sofri muito notando o rebaixamento do rendimento de
alunos adictos e a escalada dos que se iniciam na maconha e não conseguem
renunciar a outras drogas.
Um dos pontos mais
intensificados pelos que defendem o uso da cannabis legalmente apela para
questões afeitas ao seu uso medicinal. Sem dúvida a aplicação em casos como
diminuição da dor, do controle da esclerose múltipla, da atenuação dos efeitos
de quimioterapia, do combate ao glaucoma, é legítima. Lembremo-nos, porém, como
propõe o psiquiatra Antonio Geraldo da Silva, Presidente da Associação Brasileira
de Psiquiatria, que o veneno da jararaca também é largamente usado na
fabricação de medicamentos, mas nem por isso é liberado para ser ingerido como
refrigerante. Um dos grandes problemas deste debate é que a confusão entre os
limites do uso específico é tomado como argumento para motivação viciante. E
por falar em adicção, convém lembrar que em estados dos Estados Unidos – como
Utah onde o tabaco e o álcool são vetados – o índice de acidentes automobilísticos
e a criminalidade têm os menores índices do planeta.
Mais que nada precisamos
debater o tema. Temos que exercitar opiniões, instruir falas e levar a
discussão aos jovens e aos usuários. Faz-se necessária uma política madura
sobre o assunto e ela só há de vir com criação de mecanismos de troca de
opiniões claras e públicas. O que você pensa sobre o tema?
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