quinta-feira, 27 de novembro de 2014

TELONA QUENTE 105

Roberto Rillo Bíscaro

Fazia tempo que não via filmes nacionais, daí, na mesma semana vi 2 que me agradaram intelectualmente (mais ou menos), mas não me pegaram no afetivo.
O Que Se Move (2012), estreia do diretor Caetano Gotardo em longa-metragem, apresenta 3 histórias aparentemente independentes, mas entrelaçadas por tratar de perdas e tragédias cotidianas, de modo bastante sensível, realçando o fato de que por trás de ações aparentemente esdrúxulas existe um ser humano complexo, que não deveria ser reduzido à identidade única geralmente salientada quando algo de desabonador ocorre.
O que mais salta aos ouvidos é que ao final de cada historieta as mães envolvidas cantam, quebrando o Realismo e surpreendendo positivamente. É como se o dialogismo não conseguisse dar conta das emoções abordadas. Mas, talvez desse, se cada episódio fosse formatado em filme individual.
Esse relaxamento do Realismo me agradou, mas O Que Se Move padece de certos diálogos plastificados, algumas tomadas são demoradas em demasia e a terceira história careceu de background pra eu entender como se chegou à situação abordada, mas, há que se louvar a boa qualidade do roteiro na condução da cena do almoço na churrascaria, falsamente banal, porém destruidora pra emoção duma das mães. Talvez o diretor quisesse mesmo que eu sentisse e não compreendesse.

Co-produzido com a Alemanha, Praia do Futuro (2014) me cativou menos ainda pela duração excessiva pruma história tão distanciada e repleta de elipses não-explicadas.
Donato é bombeiro no Ceará e falha em salvar um turista alemão do afogamento. Ao dar a notícia ao companheiro de viagem da vítima inicia um relacionamento amoroso com o estrangeiro, que o leva a mudar-se pra Berlim, abandonando sua família no Brasil. Anos mais tarde, o irmão mais novo – que tinha em Donato um super-herói – vai à Alemanha pra acertar contas.
O filme é dividido em 3 capítulos, mas o último não está bem conexo com os demais. O roteiro insiste em não explicar ou esmiuçar as coisas ao espectador. Isso não é defeito per se, mas fiquei curioso por saber como o meninão achou Donato se este sequer sabia da morte da mãe, dado indicativo da total desconexão com a família.
Homoerotismo – que causou furor ultrajado em salas de cine brasucas – e relação fraternal não são os leitmotifs de Praia do Futuro, que insiste mais na covardia, coragem, no aventurar-se. Tudo, porém, difuso demais pra que eu me interessasse por aquelas pessoas.
Excelente e corajosa atuação de Wagner Moura (como ele é ótimo!), destreza no uso da paleta de cores, algumas belas metáforas visuais garantiram minha apreciação cerebral, mas não foram o bastante pra que não visse a película em 2 prestações. 

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