quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

CONTANDO A VIDA 94

Nosso historiador-cronista faz balanço social do ano que se finda e projeta esperanças e desejos para 2015.  

ANO NOVO: NOVIDADES SOCIAIS...


José Carlos Sebe Bom Meihy

E eis que novamente repetimos a tradição dos votos de Ano Novo. Além dos inefáveis regimes alimentares, propostas de exercícios físicos, correção de manias negativas, superação de problemas pessoais, este ano temos algo mais a colocar nas listas de desejos a serem realizados. Como nunca, acredito, é hora de trocarmos o particular pelo coletivo. Vale a pena reduzir a concentração de energia gasta em proveito pessoal e transferir reflexões para o ambiente aberto da coletividade humana. Creio que poucas vezes se pode acompanhar situações em que os problemas sociais tivessem tanta incidência sobre os destinos grupais. De ponta a ponta, em qualquer país, como nunca ensejam-se melhorias que se apoiam na formação de opiniões públicas. Não são, pois simples e vagos votos de prosperidade e progresso que se pretende. Não. Antes de falarmos de desenvolvimento e esperança, temos que reparar alguns erros do passado recente, medir o significado de 2014 e assinalar que precisamos aceitar alguns feitos recentes como condição de avanço para o ano que vem.


Saímos de um ano penoso demais, mas houve também lições advindas de plataformas variadas. Os eventos esportivos, por exemplo, em particular a Copa do Mundo, movimentaram torcidas e de certa forma isso serviu de lição para os lances que se projetam nas Olimpíadas de 2016, entre um ponto e outro, 2015 tem que ser de planejamento e ajustes. Não apenas tecnicamente falando, mas também em termos de benefícios turísticos e até sociais, carecemos de pensar o significado dos megaeventos. A par disto, 2014 foi também um ano avassalador para o andamento democrático mundial, pois as eleições em países como o Egito, África do Sul, El Salvador, Colômbia, Panamá, Afeganistão, Uruguai, Turquia, significaram muito na busca da democracia mundial. Neste quesito, aliás, os resultados da nossa eleição marcaram o calendário político dividindo o país em dois blocos. Longe de pensar em vencedores e vencidos, o que se aprendeu é que falamos mais claramente de projetos e que os dois lados estão sob a mira um do outro. Isso é bom, em particular se nos inscrevermos melhor no mundo globalizado. Tomara que deixemos de nos medir apenas pelos Estados Unidos e em 2015 aprendamos a ver o conjunto das nações em suas tentavas de acerto. Assim, fica dada a largada para um movimento de 2015 melhor: registrar nossa vida política a par das páginas do mundo. Chega de pensar que somos uma ilha.


Decorrência natural do esforço de pertencimento às linhas da globalização, seria o esclarecimento do papel do Brasil na complexa colaboração internacional. Não basta apenas recebermos imigrantes sofridos por catástrofes em seus países, é preciso também verificar as condições sociais de acolhimento a tantos: haitianos, bolivianos e sírios. Isto exige que deixemos de ser simplistas na aceitação de busca de um lugar político nos polos decisórios da ONU. É preciso que em 2015 tenhamos maturidade para verificar que o Brasil é mais considerado e importante do que supomos. O concerto das nações nos vê como país modelar e em sucesso, temos, pois que assumir isto além da visão simplificadora de que somos um povo miserável e sem governo. 

Sem dúvida os avanços permitidos pelas comunicações em geral fizeram do mês de abril passado um marco pela “Conferência sobre a governança mundial de Internet”, porém muito ainda há a ser feito, em particular na área de educação e uso escolar da eletrônica. Tomara que superemos a tendência irritante de validação das redes sociais em termos pessoais. Na linha das preocupações sociais a serem praticadas, temos ainda que exercitar um fator que fez do ano que se fecha um sinal memorável, a “Cúpula da ONU sobre o Clima” realizada em Nova York e em Santiago. Urge fazer alguma coisa no ano entrante para conscientizar os próximos sobre obrigações que temos que ter para com o planeta. As variações climáticas estão nos avisando que não dá mais para esperar. Por fim, vale acrescentar algo que vai além das diferenças de propósitos repartidos entre interesses pessoais e coletivos. É chegada a hora de investir no social que começa em cada um de nós. Que 2015 seja, pois, o nosso ano global. Feliz ano novo. 

terça-feira, 30 de dezembro de 2014

TELINHA QUENTE 147


Roberto Rillo Bíscaro

Em 2009, Elizabeth Strout recebeu o Pulitzer pela coleção de contos Oliver Kitteridge. Este ano, a HBO juntou histórias e personagens e criou elogiada minissérie homônima em 4 capítulos, que vi em 2 sentadas.
Contada sem linearidade temporal, mas sem desnortear o espectador, Olive Kitteridge percorre episódios da vida da personagem-título, que vive com marido e filho numa pequena cidade costeira do frio Maine.
Tudo muito comum: infância do filho, atração do esposo de meia-idade por uma funcionária bem mais jovem, amor de Olive por um colega de trabalho, casamento do rebento, nascimento do neto. Mas o olhar lançado a esses fatos e o teor das personagens tornam a minissérie um complexo minipainel (paradoxo proposital) psicológico. Olive, a personagem, é daquelas mulheres-estereótipos da dureza Puritana temperada com alguma doença psicológica da modernidade. Viperina, seca, generosa, inclusiva, exclusiva, remota, devota, depende da ocasião, mas nunca meiga e fácil de se lidar/ gostar, com seus constantes arrotos.
E não é que roteiro e Frances McDormand, numa interpretação merecedora de Emmy, evitam que tomemos repulsa pela personagem? Percebemos os defeitos, notamos o porquê dalguns traumas e sofrimentos. Isso pode não fazer com que empatizemos com Olive – isso seria prejudicial ao efeito do show -, mas a compreendemos, mesmo que talvez prefiramos tê-la longe ou pelo menos em distância segura, apenas pro caso de precisarmos pralguma emergência.
Interessante constatar que Henry, o maridão com seu eterno otimismo e frases feitas ianques (insisto, o fato de a trama se passar no Norte Puritano faz diferença); Denise e sua perene aparente insegurança; a segunda esposa do filho e sua familiaridade forçada, temperada com pseudo-calma compreensiva de psicanálise e todo mundo mais são tão estranhos quanto Olive, embora com graus menores de exteriorização e maiores de aceitação social. Olive Kitteridge, a minissérie, é pra ser vista diversas vezes, porque há muitas nuanças no diálogo e até mesmo na paleta de cores (reparem nas roupas da personagens e nas cores do Maine).
O elenco está perfeito, mas, claro que minha baba de fã caia mais copiosa quando Richard Jenkins aparecia, especialmente bastante no primeiro capítulo.
Imperdível. 

segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

CAIXA DE MÚSICA 153


Roberto Rillo Bíscaro

Divas negras gritonas nunca são demais. Por isso, ainda festejo ter conhecido K. Michelle, logo após ter resenhado o excelente álbum novo de Mary J. Blige.
Gostosa e viciada em aparecer na mídia, K. Michelle é embalada no papel de presente da pós-modernidade superexposta em reality shows e Twitter. Mas ao contrário de muitos pares autotunadas, sabe cantar, confira no recém-lançado Anybody Wanna Buy a Heart?
A produção é contemporânea; retrô não tem espaço a não ser residual, como no clima jazz de inferninho da faixa de abertura, Judge Me, com seu naipe de metais apimentado. Já que crossover é mandatório, God I Get It fecha o álbum em estilo country; ué, se Lionel Ritchie abocanhou bem essa fatia de mercado, por que não botar uma botinha nesse terreno?
Anybody Wanna Buy a Heart é composto de baladas e Rhythm and Blues contemporâneo, sem faixas dançáveis; as mais ligeiras são a patinante Going Under e a segunda parte de Build a Man Intro/Build a Man.
Algumas letras retratam eu-líricos que financiariam casas de veraneio a analistas. Em Cry, como vingança ao namorado infiel, Michelle afirma que deixará alguém beijar seu corpo, gravar e fazer o namorado chorar, afinal, “não é amor, é só vingança”. Paris Hilton e Emily Thorne teriam frêmitos de prazer. Em Drake Would Love, em resposta a pouco caso alheio, a letra idealiza o rapper canadense Drake em níveis de adoração adolescente. Dá um pouco de medo, mas a canção é boa.
O álbum inteiro é bom. 

domingo, 28 de dezembro de 2014

ALBINOS CAÇADOS COMO ANIMAIS

Na Tanzânia, pessoas albinas sofrem sequestros e são até assassinadas por sua condição

'Caçados como animais': Na Tanzânia, pessoas com albinismo vivem sob ameaça constante

Na Tanzânia, pessoas albinas sofrem sequestros e são até assassinadas por sua condição
Pessoas com albinismo enfrentam preconceito e morte na Tanzânia. Recentemente, uma nova campanha foi lançada para tentar pôr fim a sequestros e assassinatos que aterrorizam os cerca de 30 mil albinos que vivem no país. A BBC conversou com alguns deles.
O pescador Mtobi Namigambo vive na ilha de Ukerewe, na Tanzânia. Situada a três horas de distância de Mwanza, segunda maior cidade do país, a ilha remota já foi tido como um santuário para albinos, mas hoje a situação mudou.
Um dos filhos de Namigambo, May Mosi, com quatro anos de idade, é albino. Quando tinha três meses de idade, escapou de uma tentativa de sequestro.
"Tinha ido pescar no lago. (Minha esposa e as crianças) estavam sozinhas na casa quando foram atacadas", conta o pai.
"Ela pulou pela janela e correu com May, em busca de um local seguro, deixando as outras duas crianças para trás - ela não sofreram nada".
"Os agressores estavam à procura de May", diz a esposa do pescador. "Meu marido estava fora pescando e eles sabiam disso. Por isso vieram. Após eu pular pela janela, eles ainda vieram atrás de mim e eu gritei por socorro. Só desistiram quando eu acordei os vizinhos".

Comércio Lucrativo

O albinismo é um distúrbio congênito caracterizado pela ausência de pigmento na pele, cabelos e olhos devido a uma deficiência na produção de melanina pelo organismo. Em alguns casos, o distúrbio também provoca problemas de visão.
Ele é raro, afetando uma em cada 17 mil pessoas aproximadamente.
No Brasil, por exemplo, haveria (embora não haja dados oficiais) entre 10 mil e 12 mil pessoas com albinismo. Entre elas está o compositor e multi-instrumentista Hermeto Paschoal, reverenciado por músicos de jazz em todo o mundo.
Pouco presente no mundo ocidental, o albinismo é comum na África Subsaariana. Na Tanzânia e em outros países africanos, especialmente no leste do continente, albinos sofrem perseguições.
Em algumas regiões, são tidos como demoníacos e perigosos. Na Tanzânia, alguns acreditam que poções feitas utilizando partes dos corpos dos albinos trariam sorte e riqueza.
Como resultado, mais de 70 albinos foram mortos no país nos últimos três anos. Segundo grupos que fazem campanha em defesa dos albinos, apenas dez pessoas foram presas em consequência desses assassinatos.
No caso mais recente, em maio deste ano, uma mulher foi morta a golpes de machado.

Campanhas

Nos últimos anos, houve várias iniciativas para tentar conscientizar a população e romper preconceitos e superstições em torno do albinismo.
Em 2012, na África do Sul, uma modelo albina foi destaque no continente quando desfilou pelas passarelas da Africa Fashion Week.
Na Tanzânia, o governo também lançou campanhas de conscientização, mas o problema persiste, especialmente em regiões remotas como a ilha Ukerewe, onde vivem o menino May e sua família.
Pessoas albinas enfrentam grande preconceito em áreas rurais
"Nós apelamos ao governo por mais iniciativas para educar a comunidade aqui (na ilha)", diz Namigambo, pai de May. "No passado, as autoridades faziam seminários sobre albinismo. Faziam muita diferença, mas agora não mais", ele comenta.
A ONG Under the Same Sun (em tradução livre, Sob o Mesmo Sol), que atua junto à população albina da ilha, diz que o lugar não é tão seguro como alguns imaginam.
Alfred Kapole, presidente da sucursal regional da Tanzania Albinism Society, nativo da ilha, foi obrigado a fugir para Mwanza.
"Ele é um dos primeiros albinos cujo caso chegou aos tribunais após um líder local ter tentado matá-lo para ficar com seu cabelo", diz Vicky Ntetema, diretora da ONG Under the Same Sun.
Ntetema explica que esse tipo de experiência é comum entre albinos no país.

Clientes Ricos

No centro da cidadezinha de Sengerema, a 60 km de Mwanza, uma estátua mostra um casal que não tem albinismo segurando um bebê albino. A mãe da criança coloca na cabeça do filho um chapéu de abas largas, para protegê-lo do sol. O monumento também traz 139 nomes de pessoas albinas que foram mortas, atacadas ou cujos corpos foram roubados de covas.
Um representante da sociedade de albinos de Sengerema, Mashaka Benedict, disse à BBC que mesmo pessoas com certo nível educacional acreditam que partes dos corpos dos albinos podem trazer riqueza.
"Se isso é verdade, por que não somos ricos?", ele pergunta.
E acrescenta: pessoas importantes estão por trás do "comércio da morte". É por isso que pouquíssimas foram presas, acusadas ou condenadas, ele diz.
"Como poderia um pobre oferecer US$ 10 mil por um pedaço de um cadáver? Os envolvidos são empresários e políticos ".
A polícia, por sua vez, diz que faz o que pode.
Cerca de 70 pessoas com albinismo vivem na ilha de Ukerewe
"São casos complicados porque a maioria dos incidentes ocorre em regiões remotas onde não há eletricidade, por exemplo", diz o chefe de polícia de Mwanza, Valentino Mlowola. "Isso dificulta a identificação dos infratores durante a noite".
"Investigamos cada caso e cada alegação, mas não é simples".
Apesar das dificuldades, ativistas persistem na luta para combater o preconceito e a ignorância. Em um evento organizado recentemente para promover os direitos dos albinos, uma artista com albinismo cantava: "Estamos sendo mortos como animais. Por favor, reze por nós".

sábado, 27 de dezembro de 2014

ALBINO GOURMET 163

sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

ALBINOS PRÉ-COLOMBIANOS

Lendo uma nota sobre albinismo no site mexicano QUO, deparei-me com um parágrafo sobre como as pessoas com albinismo eram tratadas pela civilização pré-colombiana. Vejam que amor:

"No México, na era pré-hispânica, cronistas como Hernando Alvarado Tezozómoc relataram que os albinos eram encerrados junto com corcundas e deformados na Casa das Feras, o zoológico de Montezuma, onde havia mais de 300 espécies de animais, que se usavam em sus rituais."

O original em espanhol pode ser acessado no link:

http://quo.mx/noticias/2011/06/17/albinismo-una-historia-en-blanco

quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

TELONA QUENTE 109

Roberto Rillo Bíscaro

Dediquei mais tempo do que o usual a super-heróis este ano. Vi séries do Batman e Super-Homem, os desenhos dos Superamigos e agora os 2 serials do Homem de Aço. Tudo vintage. Filmes/séries atuais continuam não me interessando.
A estreia do Superman nas telonas foi em 1948, num serial homônimo de 15 capítulos. Imagine o auê causado pela “materialização” do super-herói dos quadrinhos nas telonas de cinema todo sábado à tarde. Sucesso comercial que trouxe muito lucro à sovina Republic, produtora da série com orçamento de fundo de quintal. Recursos e tempo eram tão limitados que aterrissando de mau jeito o ator tem a capa enrolada na cabeça. Ao invés de nova gravação, ele tira-a da cachola e segue a cena. Ri alto.
Essa primeira aparição em movimento do alter-ego de Clark Kent conta sua chegada a Metropolis e a luta contra a vilã Spider Lady, que pouco faz a não ser falar “gelado”
Além de usar o infame bordão “Up, up and away”, que tanto detestava nos Superamigos, Superman não decola, porque é muito moroso, quase nada acontece, é quase puro lengalenga por falta de verba.


Compensa muito mais ver Atom Man Vs. Superman, 15 capítulos também em preto e branco, produzidos em 1950. Desta feita, o herói encontra-se às voltas com o arquirrival careca Lex Luthor.
No serial de estreia Superman só ficava atrás dum tal Raio Redutor, que quase nunca vimos funcionar; em Atom Man Vs. Superman, Luthor inventa e usa uma porção de armas, uma delas capaz de desintegrar e mandar os átomos vagar no espaço sideral ou dum lugar a outro em Metropolis e adjacências. Porque ele não usa tão poderoso invento pra teletransportar asseclas pra gabinetes estratégicos e dominar o universo, não fica claro. Também não entendemos porque do ataque de amor à coragem e justiça que faz Luthor dar uma chance a Lois Lane de trazer seu megadesafeto Super-Homem de volta do limbo. Vilão com consciência ética? Muito político devia ver isso!
Recomendo demais ver Superman parar e esperar que descarreguem revólveres em tiros que ricocheteiam em seu peito sorridente; ver Atom Man – que sabemos quem é desde o início, por que tanto “mistério”? – usar um cesto de papeis turbinado como máscara; constatar que a Força Aérea tem uma área de testes pra bombardeio bem nos arredores de Metropolis, cujo acesso é público e tem apenas pequena tabuleta avisando do perigo.
Como produções tão pão duras satisfariam a necessidade de efeitos especiais de voo e peripécias superpoderosas do protagonista kriptônico? Simples, na hora H usa-se animação! O Superman voando é desenho animado superposto em filmagem. Outro motivo pra ver esses shows cujos títulos de capítulos já revelam a conclusão: Superman Saves the Universe. Oras, todo  mundo sabe que ele vence no fim; o importante é ver como e não o quê acontecia.
Noel Neill é Miss Lane, em papel que reprisaria a partir da segunda temporada da série televisiva dos anos 1950. Gosto dela, embora não muito da repórter, que por vezes é antiética em sua sede por furos de reportagem. Numa primeira olhada, Lois é independente, mas a teimosia sempre a expõe ao perigo pra ter que ser salva pelo Super-Homem. Punição pela tentativa de liberação feminina? Uma coisa parece cancelar a outra, ou seja, ela acaba sendo tão dependente e “tola” quanto qualquer mulher.
Kirk Alyn não tirou o cetro de George Reeves como meu Super-Homem preferido. A simpatia do trágico Reeves é imbatível e meu Superman imaginário tem mais esse jeitão mesmo de ianque risonho, bonachão, bom moço, como o cinquentista.  O de Alyn é mais apagadão.

quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

PROTEÇÃO EM MACEIÓ

Grupo de albinismo da SMS da capital recebe protetores solares

A coordenação do Grupo de Albinismo do Programa de Atenção à Pessoa com Deficiência (PAPD) da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), em parceria com a Gerência do Núcleo de Atenção à Pessoa com Deficiência (GNAPD) da Secretaria Estadual de Saúde (Sesau), realizou, na manhã desta segunda-feira (22), no auditório da Sesau, a entrega de chapéus UV e protetores solares para os pacientes cadastrados no Programa de albinismo do município. Ao todo, 25 pacientes foram beneficiados com a ação.
A coordenadora do PAPD do PAM Salgadinho, Luciana Ferreira, ressaltou a importância das ações como forma de minimizar as dificuldades enfrentadas pelos albinos. “A entrega dos protetores visa a prevenção contra os raios solares, já que tem fator 50 e garante uma boa proteção contra o sol para essas pessoas. Além disso, os chapéus UV protegem contra 98% dos raios solares”, explica a coordenadora, que em 2015, espera firmar ainda mais parcerias com a Sesau, no sentido de ampliar discussões e melhorar ainda mais a qualidade de vida dos albinos.
A entrega dos protetores é feita mensalmente aos pacientes cadastrados no programa, mas aqueles pacientes que desejam fazer parte do grupo e receber o produto devem levar RG, CPF, Cartão SUS e comprovante de residência até a coordenação do PAPD no Pam Salgadinho para efetivar o cadastro. O único critério exigido é ser residente do município de Maceió.
“Após o cadastro com os documentos na coordenação, o paciente será encaminhado para o dermatologista e para um Centro Especializado em Reabilitação visual para as consultas oftalmológicas. Assim, ele passará por todo o acompanhamento médico e poderá ser atendido pelo Grupo de Albinos de forma integral”, afirma a coordenadora do PAPD do Pam Salgadinho, Luciana Ferreira.
A reunião com o Grupo de Albinismo da SMS ocorre toda segunda terça-feira de cada mês, a partir das 8h. O grupo local foi criado em julho de 2012.
Importância
Pessoas com albinismo devem usar proteção solar sempre que estiverem em ambientes expostos ao sol e ter o acompanhamento médico de um dermatologista para avaliação da pele e detecção de lesões que possam predispor ao surgimento de câncer na pele.
O albinismo é a ausência parcial ou total do pigmento na pele, nos cabelos e nos olhos. A sua forma mais perigosa é a que determina a total ausência de pigmentação por todo o corpo: o albinismo oculocutâneo. A patologia aumenta as chances de surgimento de câncer de pele e também o risco de cegueira pela intolerância à luz solar.
Por ser considerada uma pessoa portadora de necessidades especiais, o albino precisa de apoio para que seja assegurado o exercício dos seus direitos básicos.

VIDA DURA

Mãe sofre discriminação por ter uma filha albina


A VIDA da Sónia Ernesto, 22 anos de idade, residente no bairro Bembe, nos subúrbios da cidade da Maxixe, é de total desespero por ter sido rejeitada pelos pais das suas duas filhas. É desempregada, uma situação que piora cada vez mais o quotidiano desta mãe que se mostra parco em ideias para enfrentar e transpor os obstáculos que a vida lhe coloca no seu dia-a-dia.
A triste novela que retrata a vida de uma jovem mãe descriminada começa quando Pinto Elias Ponguana, professor afecto neste momento num dos estabelecimentos de ensino público no distrito da Massinga, se recusa a assumir a paternidade da primeira gestação da Sónia, ao ponto de pedir transferência de Maueua, na cidade da Maxixe onde leccionava antes de tomar conhecimento da gravidez da sua parceira.
O futuro que Sónia sonhava transformou-se num pesadelo quando deu à luz pela segunda vez, uma linda menina com problemas da pigmentação da pele, portanto uma albina.
Entretanto, diferente do primeiro caso, no qual o pai não só negou ser dono da primeira primogénita da Sónia, como também transferiu de Bembe para Massinga para fugir das despesas e incómodos da sua namorada, no segundo caso a jovem mãe enfrenta uma discriminação por parte da sua madrasta, assim como os seus sogros a mandaram embora por causa da cor da pele da sua filha.
“A minha sogra mandou-me embora da casa do filho dela dizendo que na sua família ninguém tem uma filha albina e por causa disso eu tinha que indicar o verdadeiro pai da menina e não era do seu filho, porque isso é um insulto”, conta Sónia.
Recusada em casa do pai da sua segunda filha, Sónia quando procura amparo junto do seu pai, um agente de segurança privado no Instituto Nacional de Segurança Social (INAS), na Maxixe, encontra um comportamento de repulsa por parte da sua madrasta.
“A minha vida só Deus é que sabe. Os meus pais estão separados, a minha mãe é doméstica e vive no bairro Bagamoyo, em Maputo, e eu vivo com meu pai em Bembe. Entretanto, a minha madrasta tornou-se hostil para com o meu pai desde que tive a filha albina. Ela sempre instiga o meu pai para me mandar embora da casa, mas graças a Deus ele nunca aceitou isso e até certo ponto, sinto pena do meu pai, porque corre o risco de perder a sua esposa em defesa da sua neta albina”, desabafou Sónia Ernesto vertendo lágrimas.
Num outro desenvolvimento, Sónia, que deixou de frequentar a escola com apenas 10ª classe, explicou que contra a vontade da sua esposa, o pai faz das tripas o coração, não só fazendo ouvidos de mercador perante as lamúrias da sua madrasta, como também tudo faz para manter saudável a sua neta que pela sua cor precisa de cuidados adicionais, não obstante ter que conciliar vezes sem conta as desavenças da filha e da esposa no mesmo tecto.
“Eu pedi ao meu pai para sair de casa porque a minha madrasta chega a colocar um desafio naquela casa, dizendo ou ela ou eu, uma deve sair. Mas o papá prefere viver comigo e continua a sustentar a minha filha. No mínimo, gasta por mês cerca de cinco mil meticais em pomadas, porque esta menina para continuar lindinha como está, precisa de muitos cuidados e o meu pai coitado faz isso”, lamentou a Sónia chorando.
Para cuidar das suas duas filhas, das quais uma, a mais velha vive com sua mãe na cidade de Maputo, todos os dias a Sónia vai à rua em busca de algo que lhe possa dar rendimento para sustentar as suas duas meninas. Foi na sequência da procura de trabalho que a jovem mãe, frequentou há dias, na cidade de Inhambane, um curso de empreendedorismo organizado pela Gender Links para as mulheres vítimas de violência na base do sexo.

CONTANDO A VIDA 93

Nosso cronista-historiador comenta sobre os problemas e preconceitos envolvendo a depressão, cada vez mais visível, mas ainda muito incompreendida. Quem já não ouviu pérolas como recomendar pia cheia ou enxada para deprimidos?


A DEPRESSÃO COMO MAL DO SÉCULO

José Carlos Sebe Bom Meihy

Sempre fico muito impressionado com a intensidade dos sentimentos que conseguimos exprimir. Gosto de ver expressões de alegria, contentamento, prazer. Acho que a felicidade pode ser contagiante e torço sempre para os finais felizes, pela multiplicação de alternativas de escolhas, pelo reconhecimento depois de lutas por ideais conquistados. A satisfação transparece em sorrisos e quando não exagerado, o gargalhar permite dimensões de aleluias. O avesso disso, contudo, por dolorido que é, me atrai em igual medida. A tristeza em projeção especular me parece tão virulenta que as marcas deixadas por tais abatimentos me desmontam, paralisam e atrem. Sei de muita gente que reage assim, aliás. De tal forma estes sentimentos me capturam que tenho feito um cursinho pessoal para lidar com estes extremos, em particular com os males da depressão.
Em face da alegria é muito fácil se deixar envolver. Muito. Frente à tristeza, pelo contrário, é difícil reagir positivamente ou pelo menos com rapidez. Diria que há estágios de enfrentamento da tristeza alheia. Quando alguém cronicamente abalado se aproxima, logo desenvolvemos uma complexa atitude de aceitação. Consolar é um verbo conjugável nessa linha. A solidariedade também se exercita em declinações plausíveis. Tudo, porém, na certeza de que os motivos do entristecimento hão de passar e são tratáveis. Felizmente, para muitos, tudo é mesmo transitório e até rápido, mas, convém supor permanências, idas e voltas e até estados crônicos. Começamos assim a falar de depressão como estado mórbido de vida, como problema social expresso em pessoas, mas de significado coletivo. Sim, falo da depressão como doença que atinge e envolve quantos cercam suas vítimas.
Os números são aterrorizantes, pois sabe-se que dentre as dez mais frequentes causas de afastamento do trabalho, no mundo todo, cinco são decorrentes de transtornos mentais. Quando o sentimento de abandono, desvalho, baixa autoestima, tomam as pessoas, pouco lhes resta senão a entrega que se desdobra em fadiga, solidão, isolamento. E quantos não são os casos de suicídios evoluídos da incapacidade de reversão. Como é difícil ver saídas em tais labirintos interiores. Nossa! No caso brasileiro, temos mais de 46 milhões de indivíduos em estado depressivo, segundo dados do Ministério da Saúde do ano passado. A depressão crônica abrange cerca de 20 a 25% da população em geral, não poupando jovens, adultos ou velhos. Os resultados práticos desta situação são desastrosos, seja para cada pessoa, seja para suas famílias e comunidades. Na economia, e em particular nas relações de trabalho, tal fatalidade provoca quedas consideráveis na produção. Há estatísticas que demonstram que, no caso nacional, há queda de cerca de 5 % da produção possível de unidades de trabalhadores com mais de mil funcionários.
Muito além dos problemas materiais, deve-se considerar a face mais perversa da depressão, ou seja, o preconceito contra ela. É fácil se condoer frente a um diagnóstico de câncer, de pessoas com deficiência física ou mental, amputações ou qualquer outra manifestação que deixe sequelas notáveis. Frente a um deprimido, no entanto, levantamos sempre suspeitas, algumas deveras desrespeitosas. Porque a integralidade física é reconhecida, a aparência de normalidade é constatada, torna-se difícil aceitar o abatimento do ser atingido. Adentra-se, frente ao deprimido, no mundo perverso dos preconceitos. Quantas vezes não se cobra trabalho, força de vontade para reagir, energia de pessoas atingidas pela depressão. Como se fosse ato de vontade, não se acata a existência da depressão como causa mortal, ainda que tantos suicídios estejam revelados como decorrência.

Não cabe anular esforços de quantos buscam alertar pais, professores, profissionais da área do trabalho e grupos de apoio que há instituições atentas a isso. Os tratamentos se avolumam e indicam resultados positivos de expressão. Mesmo a lei tem amparado casos, mas o que realmente vai fazer a diferença é o diálogo franco que deve começar exatamente pelos polos atingidos, ou seja, pela autoconsciência dos deprimidos. Proclama-se a necessidade, urgente, de criação de grupos com visibilidade pública de reconhecimento.   

terça-feira, 23 de dezembro de 2014

TELINHA QUENTE 146

Roberto Rillo Bíscaro

Desaconselhei a minissérie sueca Graven (resenha aqui), mas vi os 6 capítulos de Morden (2009), produzida pela mesma equipe, com elenco similar e tudo. Dirão que sou masoquista; prefiro pensar em treino pra valorização do lado cheio de copos.
A história tem muitas semelhanças com a de Graven. Numa ilha perto de Estocolmo (presumo que assim seja, porque as personagens vão e voltam tão fluidamente e sem notificar o espectador...), onde uma família fora assassinada pelo filho em 1983, um esqueleto é encontrado numa cova e pra surpresa dos policiais o corpo era do suposto assassino. Isso significava que o perpetrador estava solto, talvez na ilha, e precisava ser capturado antes que o crime prescrevesse, data que se aproximava, pra dar mais urgência à narrativa.
SQN.
A mesma equipe de Graven novamente se hospeda num barco e inicia as investigações na ilha. A paisagem florestal belíssima é uma das principais razões pra se ver Morden.
Alguns dos policiais participaram da investigação nos 80’s e isso possibilita certa ligação com alguns ilhéus, mas, e a conexão com o público, como fica? Fica melhor do que em Graven, mas ainda aquém do necessário pra nos importarmos ou torcermos pelos tiras. Um teve um affair com uma ilhoa cega envolvida com a família chacinada; outro tem câncer terminal; outra está grávida; outro saiu do armário, mas sempre estão distantes, difícil empatizarmos com eles.
O caso do analista que saiu do armário me chamou a atenção: pra que usar esse estratagema, mas jamais explorá-lo? As questões pessoais dos demais investigadores são tematizadas, exceto a de Claes, que não merece mais do que um par de referências no diálogo. Tudo bem que ele é chato pra burro, mas há algo de estranho aí.
A história e a virada de trama são bem boladas, mas a execução peca por não nos trazer emocionalmente pra minissérie. Não adianta querer distanciamento usando instrumentos narrativos que por princípio o excluem.
Achei melhor que Graven, porque mais curta e menos derivativa na trama, mas ainda assim Morden é indicada apenas pra maníacos e completistas de Nordic Noir