Roberto Rillo Bíscaro
Trocar de ares pode refrescar perspectivas. Foi isso que houve com a norte-americana Mary J. Blige, que passou temporada na Inglaterra, trabalhando.
Trocar de ares pode refrescar perspectivas. Foi isso que houve com a norte-americana Mary J. Blige, que passou temporada na Inglaterra, trabalhando.
Seu novo álbum, The London Sessions, foi coproduzido
com DJs e produtores britânicos, fãs da cantora. Resultado: uma dúzia de
canções homogêneas na alta qualidade, diferenciando-se no tom, que oscila entre
a) baladeiro
confessional
b) diva
das pistas de dança.
Sem buscar ser a porta-voz artificial e diluidora da
mais atual anglotendência underground, a
veterana quarentona saiu-se com um trabalho orgânico, por vezes visceral, como
na sofrida Whole Damn Year, onde diz que “levou um maldito ano inteiro pra
consertar meu corpo”, consequência de agressões.
Sejam de extração gospel (Not Loving You), sejam de
inspiração pop (When You’re Gone), rhythm’n’ blues (Long Hard Look) ou o que
for, não há lenta chata ou insossa; tudo vem das entranhas, sem melodramatizar.
Tem espaço pruma piscada divertido-melancólica pra
irônica Rehab da finada Amy Winehouse. Therapy abre The London Sessions com o
clima retrô modernizado de jazz e doo wop popularizado pela melhor voz feminina
inglesa desse milênio. Tem estalar de dedo e letra que não culpa o amado por
querer distância devido à constante deprê da diva, que se autorrecomenda
terapia 2 vezes ao dia.
Blige sabe do potencial que seu vozeirão e pose de diva
têm pras pistas e polvilhou The London Sessions com delícias rápidas: Nobody
But You; Pick Me Up, com aquele pianinho e cornetinha viciantes; Follow e My
Loving, que lembra muito grandes momentos da dance noventista tipo Snap e a
brasileira Corona.
Pra quem vinha dando a impressão de que o pináculo da
carreira já passara e o que restava era o descenso, Mary J. Blige cravou um
álbum sentido, vibrante e honesto.
Ela só poderia ter nos
poupado dos depoimentos dos colaboradores entre algumas faixas, que quebram o
ritmo de The London Sessions. Eita ego, heim dona diva!
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