Dobradinha Dupla de Down Under
Roberto Rillo Bíscaro
Patrick: Evil Awakens (2013) é refilmagem dum cult australiano, de 1978, que vi, mas
faz tempo e esqueci tudo.
Num hospital isolado e sombrio, um médico meio maluco,
amargo e irônico aplica tratamentos como eletrochoque, pra reavivar o cérebro
de comatosos. Uma enfermeira é contratada e sua atenção é despertada pelo belo
jovem Patrick, que apesar de estar na cama há anos anda tem corpão. Logo eles
começam a se comunicar – e com essa desculpa ela pega no bilau do bofe – mas,
pra ingrata surpresa da manceba, Patrick desenvolvera poderes extrassensoriais,
não era nada bonzinho só porque parecia indefeso e mais, queria-a só pra ele,
pra ter garantida a punhetinha - há uma cena ótima onde comatosos zumbificados
gritam “Patrick wants his handjob”. Oh, dear.
Filmado pra tirar o melhor clima retrô de casa
sinistra, com excelentes atuações – especialmente a de Charles Dance, o Mr. Tulkinghorn,de Bleak House – e mortes criativas, Patrick ressente-se de maior coesão e foco
e de tentar levar-se tão a sério. Patrick parece onipotente com tantos poderes:
comanda computadores (apenas esse conceito de jamming, que aparece na série dinamarquesa Ornen, já estaria de
muito bom tamanho), mexe objetos, penetra em cérebros, um pouco meio too much, né?
Esses defeitos, todavia,
não deixam de tornar Patrick boa diversão.
The Babadook (2014), estreia na direção e roteiro de
Jennifer Kent, nasceu clássico. Filmado em tons gélidos e com atuação estupenda
de Essie Davis, essa porrada psicológica mistura monstro com um tema muito
controverso na idealizadora cultura ocidental: os limites do amor materno.
Quando era levada ao hospital pelo marido pra ter seu
bebê, um acidente vitima o companheiro de Amelia. 6 anos depois, a macambuzia
mãe lida com os medos de seu rebento, mas também com um reprimido sentimento de
ódio. O roteiro é muito competente ao mesclar terror psicológico com a tradição
do monstro embaixo da cama, o Bogey Man do cine ianque, aqui chamado de
Babadook.
Expressionista, climático,
lento, tenso estão dentre os adjetivos qualificadores desse festival de tortura
psicológica que é The Babadook. Sem nojeira, morte ou sustos provocados por
efeitos sonoros, a diretora consegue inquietar com o cotidiano, auxiliada pela
desintegração psíquica da protagonista. The Babadook é a expressão de nossos
ódios recônditos, é a constatação de que nem só o amor constrói, é a
desidealização da mãe, é a constatação de que precisamos aprender a viver com
nossos demônios, é um arraso.
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