quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

TELONA QUENTE 107

Dobradinha Dupla de Down Under

Roberto Rillo Bíscaro

Fiz diversas seções comentando 2 filmes dum mesmo país: Brasil, Islândia, Polônia, Dinamarca, Argentina. Esta semana a dobradinha é dupla, porque são 2 australianos, ambos de horror.
Patrick: Evil Awakens (2013) é refilmagem dum cult australiano, de 1978, que vi, mas faz tempo e esqueci tudo.
Num hospital isolado e sombrio, um médico meio maluco, amargo e irônico aplica tratamentos como eletrochoque, pra reavivar o cérebro de comatosos. Uma enfermeira é contratada e sua atenção é despertada pelo belo jovem Patrick, que apesar de estar na cama há anos anda tem corpão. Logo eles começam a se comunicar – e com essa desculpa ela pega no bilau do bofe – mas, pra ingrata surpresa da manceba, Patrick desenvolvera poderes extrassensoriais, não era nada bonzinho só porque parecia indefeso e mais, queria-a só pra ele, pra ter garantida a punhetinha - há uma cena ótima onde comatosos zumbificados gritam “Patrick wants his handjob”. Oh, dear.    
Filmado pra tirar o melhor clima retrô de casa sinistra, com excelentes atuações – especialmente a de Charles Dance, o Mr. Tulkinghorn,de Bleak House – e mortes criativas, Patrick ressente-se de maior coesão e foco e de tentar levar-se tão a sério. Patrick parece onipotente com tantos poderes: comanda computadores (apenas esse conceito de jamming, que aparece na série dinamarquesa Ornen, já estaria de muito bom tamanho), mexe objetos, penetra em cérebros, um pouco meio too much, né?
Esses defeitos, todavia, não deixam de tornar Patrick boa diversão.

The Babadook (2014), estreia na direção e roteiro de Jennifer Kent, nasceu clássico. Filmado em tons gélidos e com atuação estupenda de Essie Davis, essa porrada psicológica mistura monstro com um tema muito controverso na idealizadora cultura ocidental: os limites do amor materno.
Quando era levada ao hospital pelo marido pra ter seu bebê, um acidente vitima o companheiro de Amelia. 6 anos depois, a macambuzia mãe lida com os medos de seu rebento, mas também com um reprimido sentimento de ódio. O roteiro é muito competente ao mesclar terror psicológico com a tradição do monstro embaixo da cama, o Bogey Man do cine ianque, aqui chamado de Babadook.
Expressionista, climático, lento, tenso estão dentre os adjetivos qualificadores desse festival de tortura psicológica que é The Babadook. Sem nojeira, morte ou sustos provocados por efeitos sonoros, a diretora consegue inquietar com o cotidiano, auxiliada pela desintegração psíquica da protagonista. The Babadook é a expressão de nossos ódios recônditos, é a constatação de que nem só o amor constrói, é a desidealização da mãe, é a constatação de que precisamos aprender a viver com nossos demônios, é um arraso. 

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