Esse papa argentino está dando o que falar; encanta liberais, desagrada caretas. Não se pode negar que o Sumo Pontífice tem personalidade.
Vejamos o que nosso cronista-historiador tem a dizer sobre Francisco.
HABEMUS PAPAM: Francisco.
José
Carlos Sebe Bom Meihy
Sempre me chamou a atenção a expressão “Habemus Papam”, que pode ser traduzida
por "Temos um Papa". Na realidade, trata-se de um texto lido
pelo decano dos cardeais que elegem um novo Papa depois que esse aceitou o
encargo decorrente de disputa interna entre os elegíveis para a cúpula da
Igreja Católica. Minha perplexidade se dirige ao fato da existência de uma
cerimônia que, de certa forma, se distanciaria da prática cotidiana de Sua
Santidade. Dizendo de outra maneira, a euforia dimensionada pelo cerimonial
secreto da escolha deixa espaço para pensar que passado o momento eleitoral, de
regra, os Papas apenas reaparecem como figuras de destaque em situações
extraordinárias, como se não houvesse rotina diária. É lógico que reconheço
esforços que conseguiram mudar a rota das atuações papais e João XXIII e Paulo
VI são exemplos disto, mas nada se compara ao atual Prelado Máximo.
Sem dúvidas, Francisco é um homem excepcional. Já
confessei que quando soube de sua escolha, evoquei suspeitas comuns a quantos
estudaram, por anos, a atuação dos jesuítas na História. Amedrontado, precisei
requalificar minhas conclusões e dar espaço para a atuação do Sumo Sacerdote
que além de tudo, para azar dos brasileiros, é argentino. Mas não foi preciso
muito tempo, pois logo Francisco mostrou a que veio. Flashes de sua visita ao
Rio são memoráveis e suficientes para derrubar barreiras preconceituosas. Jorge
Mario Bergoglio chegou com uma proposta que se inicia no nome escolhido
“Francisco”. Emblema da humildade, junto com rara modéstia, outra
característica o distinguiu, a audácia. A difícil combinação entre a falta de
arrogância e a valentia se realizou no presente Papa que logo foi dizendo a que
veio. É exatamente aí que cabe a surpresa.
Em audaciosas investidas, o Sacerdote declarou de saída
“quem sou eu para julgar os gays” e na mesma toada falou sobre divórcio e
celibato clerical. Isto só aniquila uma tradição de hipocrisia e preconceito
instalada na Igreja. E não parou aí. Seria exaustivo elencar as façanhas
seguintes, mas nada se compara a sua ação mestra, à necessária reforma da Cúria
do Vaticano. Começar pela limpeza da casa é sinal da intenção maior do Prelado
Romano, pois no contexto de dominação reside a grande contradição da Igreja: o
conservadorismo teórico, o abuso da riqueza ostensiva, o cinismo ao tocar nos
erros evidentes da cúpula – entre os quais o excesso de acusações de pedofilia
– e a corrupção instalada no Banco do Vaticano. Pode-se dizer que uma síntese
de tudo isso está presente na recente lista das 15 enfermidades da Cúria, onde
corajosamente, declarou sem disfarce algum, sua posição contra os males
crônicos da elite católica. Valendo-se da metáfora apropriada do Corpo Humano,
foi bradando contra o “Alzheimer espiritual”, esquizofrenia existencial”. Numa
construção metafórica sofisticada, a fim de evidenciar os graves problemas da
Cúria, não deixou de usar a doença como suposto explicativo e assim condenou o
“exibicionismo mundano”, o “terrorismo do falatório” “o complexo de
superioridade” que resultam em transformação do “poder e o poder em mercadoria
para obter vantagens”.
É lógico que uma figura tão solar soube aproveitar a
coincidência do final do ano religioso e seu aniversário de 78 anos e presenteou
o mundo com a abertura de diálogo entre os Estados Unidos e Cuba. A retomada
das relações rompidas há mais de 50 anos é um alento para a humanidade,
principalmente para quem almeja a paz. Sabemos que o Papa não é perfeito e que
entre tantos acertos existem planos em que ainda não admitiu mudanças como a
abertura do sacerdócio às mulheres, mas tendo em vista o já conquistado sabe-se
que isto é questão de tempo. Meditando sobre tudo isto, fica-nos claro que
habemus Papam, hoje e por todo seu pontificado.
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