Roberto Rillo Bíscaro
“O Major Nelson!”, pensei quando vi propaganda ou o primeiro capítulo de DALLAS, na Globo, na alvorada dos anos 80. Pra muitos de minha geração, a personagem de Larry Hagman em Jeannie é um Gênio é sua criação máxima. Não foram necessários muitos capítulos do novelão pra que eu, sem saber, coincidisse com Hagman em creditar JR Ewing como seu clímax. Major Nelson - bem interpretado e provando a versatilidade do ator; ótimo como vilão ou bobão – deixo pros não-iniciados na melhor série de todos os tempos!
Surpreende muita gente que I Dream of Jeannie nunca fez
sucesso enquanto exibida entre 1965-70. Encomendada pela NBC pra tentar repetir
o êxito d’A Feiticeira, exibida pela ABC desde 64, Jeannie é um Gênio teve sua
mais alta audiência na 4ª temporada: posição 26 no ranking. Os produtores
tentaram alavancar o show na segunda temporada com pontas de então famosos como
Grouxo Marx e Sammy Davis Jr. Esse aparece cantando The Girl From Ipanema.
Apenas 4 anos após seu lançamento e a canção já aparecia na TV norte-americana;
prova da força de nosso Jobim.
Falando em aparecer, notei as participações de
Harold Gould, que fazia Miles, o namorado de Rose Nyland em Supergatas. Ele
esteve em pelo mens 2 episódios, vivendo personagens distintas. O enfático
ator-mirim Billy Mumy, o Will Robinson de Perdidos no Espaço também deu o ar da
gracinha.
Jeannie é um Gênio alcançou status de clássico com as
inúmeras reprises e há que reconhecer a importância dum show que está no ar
initerruptamente desde sua criação. Em 2014, pelo menos 2 canais brasileiros o exibiam.
Por memórias infanto-juvenis e por Hagman, assisti aos 139
episódios, pra dar mais razão ainda à preferência de Larry por DALLAS. Os
roteiros são repetitivos e muitos são fracos, chegado ao cúmulo de não
resolverem o imbróglio proposto.
Jeannie é uma gênia das 1001 Noites encontrada numa ilha do
Pacífico pelo astronauta Anthony Nelson. Apaixonada pelo amo, Jeannie faz todas
suas vontades, constituindo-se no sonho erótico de muito macho: ter uma escrava
em trajes ínfimos a sua disposição em casa. Jeannie, entretanto, subvertia um
bocadinho essa subserviência desconsiderando seu amo e fazendo o que bem
entendia, fonte das confusões durante as 5 temporadas. Pena que essa “rebeldia”
seja fruto quase exclusivamente de burrice e inocência, reforçando longevos
estereótipos femininos.
Há quase 50 anos, casal não unido pelos sagrados
laços matrimoniais vivendo sob o mesmo teto e agarrando-se o tempo todo não era
rotina nas telinhas. Pelo contrário, o decantado libertarismo sessentista não
permeou a TV imediatamente; na verdade, os hippies eram chacota em alguns shows
(em Jeannie também, embora Hagman fosse bastante hippongo) . Mas, como se
tratava duma entidade e não uma humana, a coisa passou batida.
A primeira temporada – em branco e preto – não começa no
formato lembrado pela maioria dos fãs. Anthony Nelson e Roger Healey são
capitães, Nelson tem noiva e Healey desconhece o segredo do melhor amigo. A
animação de abertura só aparece com a temporada bem avançada e a clássica
canção-tema – apropriada por um grupo de pagode nos anos 90 – debutará apenas
na segunda temporada.
O psiquiatra Dr. Bellows, nêmesis do Major Nelson, que vive
perseguindo-o por intuir que há algo de diferente na vida do astronauta, é
estabelecido nessa função também no meio da primeira temporada. Se a personagem
não fosse tão autoritária e entrona daria pra se condoer pelo bullying mental a
que é submetido. Será que ele é assim constituído pra nos comprazermos sem
culpa de seus constrangimentos?
Depois dessas alterações, I Dream of Jeannie petrifica pra
se manter até a última temporada, quando Nelson e Jeannie se casam.
Quase impossível não se apaixonar pela química de Hagman e
Barbara Eden, que faz uma gênia inesquecível, mistura de sexy, moleca,
carinhosa, marota, voluntariosa, ciumenta.
Liberado pelo próprio Larry de favorecer sua
personagem, percebi quão mais interessante é o Major Healey (Bill Daily,
adorável). Enquanto Nelson tenta evitar que Jeannie use seus poderes, o
mulherengo Healey não hesitaria em usá-los pra obter fama, fortuna e garotas. A
malandragem abafada de Healey é de certo modo a representação corrompida do
espírito contracultural dos anos 60 na telinha, que sucumbe e é obrigado a se
submeter ao conformismo de Nelson.
Gosto muito deste seriado. Sempre que possível revejo alguns episódios. Interessante análise Roberto.
ResponderExcluirParabéns!