Roberto Rillo Bíscaro
Gene Hackman se aposentou do cinema em 2004, reclamando
da inexistência de bons papéis pra atores em idade avançada. A obsessão de
nossa cultura pela juventude e a própria matriz dramática da sétima arte
dificultam o protagonismo daqueles com mais anos nas costas.
Vez ou outra, porém, coroas quebram a rotina de
interpretar vovôs, pais, chefes e mordomos. Em 2012, James Cromwell – que
sempre coadjuva – estrelou o canadense Still Mine, segura estreia na direção de
Michael McGowan.
Baseado em fatos, o filme ambientado na linda zona
rural canadense pretende ser a história dum octogenário que desafia o Estado
burocrático altamente regulador construindo uma casa em sua propriedade, do
modo que aprendeu pela tradição passada por seu pai.
Essa afirmação da independência pessoal contra normas,
todavia, é eclipsada pela narrativa muito mais nuançada do relacionamento de
Craig com a esposa Irene, com a qual está casado há mais de 6 décadas. A casa
deve ser erigida, porque Irene tem doença degenerativa e o casal precisa duma
moradia mais fácil de manter, uma vez que se instalar num asilo lhes parece o
fim da picada, graças a aguçado senso de autonomia.
A força de Still Mine reside nas diversas facetas desse
relacionamento no dezembro do casal. Doença, vitalidade, esquecimento,
lembranças, sexualidade, decadência física e mental são apresentados de maneira
terna, quieta, comovente e irônica pelo roteiro, que, se esquemático na
construção narrativa e na condução da trama social, prova ser profundo,
realista e humano no trato das questões individuais.
Cromwell e Geneviève Bujold
nos presenteiam com atuações estelares numa produção que mostra as dificuldades
e medos de envelhecer, mas também traz a esperança de autonomia, liberdade de
exercer vontades e amor duradouro.
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