Roberto Rillo Bíscaro
Longe do sucesso comercial desde meados dos 70’s, o
rock progressivo fervilha ao redor do globo, com divulgação através de
revistas, zines, sites e cenas atuantes em países às vezes minúsculos como a
rica Holanda, casa de várias bandas legais.
Em novembro, uma delas, o Silhouette, lançou seu 4º
álbum, Beyond the Seventh Wave. A pátria que pariu Focus, Trace e Kayak pode se
orgulhar de seu prog século XXI: que discaço!
A rigor, Silhouette é Neo Prog, sub-gênero surgido nos
80’s, altamente influenciado por Genesis, Yes, Camel, Eloy, mas principalmente
pelo primeiro grupo e os trabalhos-solo de alguns de seus membros como Tony
Banks e Steve Hackett.
O encurtamento das canções, certa diluição pela adição
de elementos New Wave, mecanização de muitas performances sempre me mantiveram
com reservas ao Neo Prog. Mas, os holandeses produziram um álbum que soa
contemporâneo em termos de produção, sem perder as raízes sinfônicas
setentistas e, acima de tudo, sem pasteurizar a emoção.
Beyond the Seventh Wave é conceitual, baseado na
história do francês Henri Charrière, injustamente condenado à prisão na Ilha do
Diabo. Setentista até na escolha do tema, muito popular na década devido ao
filme Papillon (1973), estrelado por Steve McQueen e Dustin Hoffman.
O Silhouette usa órgãos e teclados Moog, reproduzindo a
sonoridade do melhor prog sinfônico 70’s. A guitarra é plangente e aguda. A
única faixa em que aparece grave e pesadona – parece prog metal – é Escape, mas
logo um acolchoado de teclados e guitarra aguda encobre a insurreição
metaleira.
Exceto pelo momento mais pop rock de Wings to Fly,
faixa de encerramento, Beyond the Seventh Wave é um prazer pra fãs de prog
sinfônico, especialmente pra genesianos. In Solitary parece ter saído
diretamente de The Lamb Lies Down on Broadway, tanto pelo piano, como pelas
vocalizações e pela guitarra super Steve Hackett.
Altamente melódico, é nas faixas mais longas, como Web
of Lies Part I, Lost Paradise e Devil’s Islands em que os climas vibrantes e
viajantes se constroem com perfeita interação entre o instrumental prog e
cello, clarineta, flauta e violino, resultando em momentos líricos e intensos.
Se há elo defeituoso nessa cadeia sônica, são os
vocais, nem sempre a altura da excelente qualidade do material.
O Silhouette deu mais um
importante passo na já elogiada carreira e prova que o rock progressivo vai bem
e ainda é capaz de oferecer requintados momentos de excelência musical.
Nenhum comentário:
Postar um comentário