segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

CAIXA DE MÚSICA 158

Roberto Rillo Bíscaro

Dá pra contar numa das  mãos as bandas de rock progressivo que cravaram álbuns em posições top nas paradas de sucesso. Genesis, Yes, Jethro Tull, Pink Floyd, Emerson, Lake and Palmer; alguma mais? Vários grupos do sub-gênero são lembrados até hoje, mas seu sucesso comercial não passou do circuito cult.
O britânico Renaissance encaixa-se nessa categoria. Tiveram seus álbuns lançados no Brasil nos anos 70, eram conhecidos por fãs de prog ou música mais sofisticada, mas, sucesso comercial nunca tiveram. Nos EUA ainda atraiam multidões na superpovoada região industrializada do nordeste, mas na nativa Inglaterra passaram quase batido a não ser por um modesto número 10 na parada de singles, com Northern Lights, em 1978.
A luxuriante mistura de folk, música erudita, rock e jazz, os vocais agudos de Annie Haslam produziram grandes discos como Prologue (1972), Ashes Are Burning (1973) e Scheherazade and Other Stories (1975). A guinada New Wave e brigas internas desmancharam o frágil Renaissance, que passou anos na geladeira ou fraturado em 2 bandas (se os egos batalham num grupo de segunda divisão como eles, imagine quando o Yes estava podendo!)
Em 2009, Haslam e o guitarrista/violonista Michael Dunford retomaram a parceria e o grupo, que em 2013 lançou Grandine Il Vento, meses após a súbita morte de Dunford. Em abril do ano passado, o álbum foi relançado sob o título Symphony of Light e com a adição de canções dum EP e de Renaissance Man, tocante homenagem a Dunford, onde Annie se derrama num vocal comovente ao som de piano, cantando que o músico aceitou o convite dum anjo pra deixar a Terra.
O álbum abre com seu ponto alto, a faixa-título com seus mais de 12 minutos que quase levam o Renaissance de volta a 77,78, quando deixou de ser interessante. Pena que agora eles não tinham grana pra pagar uma orquestra e conseguir som mais encorpado, mas o sinfônico de Symphony of Light recompensa. Cheia de mudanças de tempo, no oitavo minuto um dueto entre violão e sintetizador nervoso deixa a faixa perigosamente similar a Dancing with the Moonlit Night, do Genesis. Lembrando: Annie Haslam cantou Ripples num álbum-homenagem ao grupo de Gabriel/Collins...
A segunda mais longa, The Mystic and The Muse soa como se fosse reconquistar o ápice da primeira metade dos 70’s, mas me pareceu mais um monte de boas ideias insatisfatoriamente desenvolvidas.
A esperançosa Cry to the World traz a flauta de IanAnderson e a pianosa e dramática Blood Silver Like Moonlight o vocal de John Wetton, importante músico setentista que já esteve no Asia, King Crimson e Uriah Heep. Em Air of Drama, o Renaissance flerta de leve com o tango num dueto entre Haslam e um dos membros norte-americanos da nova formação, que canta melhor do que Wetton.
 Um dos problemas está nas faixas curtas, tentativas de canção pop ou adult oriented, que podem até ser agradáveis como pano de fundo, mas não acrescentam. Waterfall e sua homenagem às florestas brasileiras (obrigado, Annie) ou Porcelain e sua tentativa de africanização (até o Toto fez melhor na oitentista Africa) não passam de fillers.
Como a maior parte das canções não é longa como no auge setentista, o agudo de Haslam está muito mais presente, o que pode irritar alguns: experimente o esganiçar dramático de Grandine Il Vento.
Haslam prometeu que o Renaissance prossegue mesmo com a ausência de Dunford. A banda continua se apresentando ao vivo. Se novo trabalho virá, o tempo e o crowdfunding com fãs dirão, mas se Symphony of Light marcar o canto do cisne do agora mais ianque que britânico Renaissance eles terão acabado com dignidade. 

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