Roberto Rillo Bíscaro
Dá pra contar numa das mãos as bandas de rock progressivo
que cravaram álbuns em posições top nas paradas de sucesso. Genesis, Yes,
Jethro Tull, Pink Floyd, Emerson, Lake and Palmer; alguma mais? Vários grupos do
sub-gênero são lembrados até hoje, mas seu sucesso comercial não passou do
circuito cult.
O britânico Renaissance encaixa-se nessa categoria. Tiveram
seus álbuns lançados no Brasil nos anos 70, eram conhecidos por fãs de prog ou música
mais sofisticada, mas, sucesso comercial nunca tiveram. Nos EUA ainda atraiam
multidões na superpovoada região industrializada do nordeste, mas na nativa
Inglaterra passaram quase batido a não ser por um modesto número 10 na parada
de singles, com Northern Lights, em 1978.
A luxuriante mistura de folk, música erudita, rock e
jazz, os vocais agudos de Annie Haslam produziram grandes discos como Prologue
(1972), Ashes Are Burning (1973) e Scheherazade and Other Stories (1975). A
guinada New Wave e brigas internas desmancharam o frágil Renaissance, que
passou anos na geladeira ou fraturado em 2 bandas (se os egos batalham num
grupo de segunda divisão como eles, imagine quando o Yes estava podendo!)
Em 2009, Haslam e o guitarrista/violonista Michael Dunford
retomaram a parceria e o grupo, que em 2013 lançou Grandine Il Vento, meses
após a súbita morte de Dunford. Em abril do ano passado, o álbum foi relançado
sob o título Symphony of Light e com a adição de canções dum EP e de
Renaissance Man, tocante homenagem a Dunford, onde Annie se derrama num vocal
comovente ao som de piano, cantando que o músico aceitou o convite dum anjo pra
deixar a Terra.
O álbum abre com seu ponto alto, a faixa-título com seus
mais de 12 minutos que quase levam o Renaissance de volta a 77,78, quando deixou
de ser interessante. Pena que agora eles não tinham grana pra pagar uma
orquestra e conseguir som mais encorpado, mas o sinfônico de Symphony of Light recompensa.
Cheia de mudanças de tempo, no oitavo minuto um dueto entre violão e
sintetizador nervoso deixa a faixa perigosamente similar a Dancing with the Moonlit Night, do Genesis. Lembrando: Annie Haslam cantou Ripples num
álbum-homenagem ao grupo de Gabriel/Collins...
A segunda mais longa, The Mystic and The Muse soa como se
fosse reconquistar o ápice da primeira metade dos 70’s, mas me pareceu mais um
monte de boas ideias insatisfatoriamente desenvolvidas.
A esperançosa Cry to the World traz a flauta de IanAnderson e a pianosa e dramática Blood Silver Like Moonlight o vocal de John
Wetton, importante músico setentista que já esteve no Asia, King Crimson e
Uriah Heep. Em Air of Drama, o Renaissance flerta de leve com o tango num dueto
entre Haslam e um dos membros norte-americanos da nova formação, que canta
melhor do que Wetton.
Um dos problemas está
nas faixas curtas, tentativas de canção pop ou adult oriented, que podem até ser agradáveis como pano de fundo,
mas não acrescentam. Waterfall e sua homenagem às florestas brasileiras
(obrigado, Annie) ou Porcelain e sua tentativa de africanização (até o Toto fez
melhor na oitentista Africa) não passam de fillers.
Como a maior parte das canções não é longa como no auge
setentista, o agudo de Haslam está muito mais presente, o que pode irritar
alguns: experimente o esganiçar dramático de Grandine Il Vento.
Haslam prometeu que o Renaissance prossegue mesmo com a
ausência de Dunford. A banda continua se apresentando ao vivo. Se novo trabalho
virá, o tempo e o crowdfunding com fãs dirão, mas se Symphony of Light marcar o
canto do cisne do agora mais ianque que britânico Renaissance eles terão acabado
com dignidade.
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