Aos 13 anos, menino belga cria impressora de textos em braile a partir de protótipo feito de Lego
João Sorima Neto
SÃO PAULO — No Vale do Silício nunca é cedo demais para se tornar um empreendedor de sucesso. Há pouco mais de um ano, o garoto belga de origem indiana Shubhan Banerjee, de 13 anos, não sabia o que era a linguagem braile, usada pelos deficientes visuais para leitura. Atualmente, Banerjee é sócio de uma empresa que vai produzir impressoras em braile de textos que poderão ser enviados de um computador ou dispositivo móvel.
O menino tornou-se o empreendedor mais jovem do mundo a receber capital de fundos de investimento. O mais impressionante da história de Banerjee é que ele construiu o protótipo de sua invenção utilizando peças de Lego, um dos brinquedos de montar mais conhecidos do mundo. Ele esteve na 8ª edição da Campus Party, feira de tecnologia e cultura digital, que acontece esta semana em São Paulo, para contar a sua experiência.
— A ideia da impressora nasceu de um pergunta que fiz a meus pais: como os cegos leem? — afirmou o menino.
Ele contou que um dia, ao chegar em casa, deparou-se com a propaganda de uma instituição pedindo doações a cegos. Sua dúvida foi como as pessoas que não enxergam poderiam ler aquele folheto. Perguntou ao pai engenheiro, Neil Banerjee, e à mãe professora, Malini Banerjee, como os deficientes visuais liam. Ocupados, os dois recomendaram que o garoto procurasse a resposta no Google.
— Foi aí que tomei conhecimento da linguagem braile e que as impressoras desse tipo custam em média US$ 2.000, um valor pouco acessível a pessoas em países pobres — afirmou Banerjee.
A pesquisa no Google também mostrou que atualmente existem 35 milhões de pessoas totalmente cegas, e pelo menos 235 milhões com algum tipo de deficiência visual, 90% delas vivendo em países não desenvolvidos. O passo seguinte de Banerjee foi dedicar parte do seu tempo a desenvolver um protótipo de impressora de baixo custo usando um kit Lego Mindstorms. Aluno do 8º ano, Banerjee conta que já tinha aprendido um pouco de programação, que utilizava a linguagem Java. O protótipo ficou pronto durante suas férias de verão na escola e, para sua surpresa, funcionava muito bem.
Da feira de ciência da escola, a impressora em braile tornou-se um fenômeno de popularidade. Banerjee foi convidado para feiras de inventores, e chegou a participar de uma delas na Casa Branca. Confiante na ideia do filho, o pai de Banerjee investiu do próprio bolso US$ 35 mil para que ele desenvolvesse um novo protótipo do invento. Como o sucesso da impressora só aumentava, Banerjee teve a ideia de fundar uma empresa, a Braigo Labs (braile + Lego), que tem como CEO sua mãe e como diretor principal o pai.
— Não posso assinar documentos, por isso minha mãe foi nomeada presidente — disse o garoto.
Foi nessa etapa do projeto, que a Braigo Labs recebeu uma injeção de recursos da Intel Capital, e Banerjee tornou-se o mais jovem empreendedor do mundo a receber o chamado capital de risco. A Intel não revela quanto investiu, mas segundo a empresa, foi a primeira vez que houve injeção de capital numa start up que acabara de sair do papel. Normalmente, a empresa investe em start ups em estágio mais avançado.
Até o fim deste ano, entre 20 e 25 das impressoras em braile da Braigo serão produzidas. Serão leves, baratas (com custo abaixo de US$ 500) e se tudo correr como o previsto poderão ser carregadas na mochila. Onde estiver, o deficiente visual poderá imprimir em braile um email, uma mensagem do facebook e, no futuro, até um livro. Transcrever um documento em braile tem um custo que varia de US$ 500 a US$ 600, mas a Braigo já desenvolveu um método de transcrição sem usar software. Ele será oferecido com a impressora.
— Também já pensamos em desenvolver, por exemplo, modelos com comando de voz — contou o pai do inventor e diretor principal da Braigo Labs, Neil Banerjee.
Atualmente, a empresa fundada pelo garoto de 13 anos, amante de futebol americano, já tem dez funcionários, que se debruçam a aperfeiçoar o protótipo. Banerjee também conta com um consultor especial, Henry, seu amigo que é cego desde o nascimento e conta sobre as dificuldades de encontrar material impresso em braile. Ontem, antes de participar da Campus Party, Banerjee visitou em São Paulo a Fundação Dorina Nowwil, uma instituição que ganhou destaque por se dedicar a ajudar pessoas com deficiência visual. A Dorina Nowill será uma das 20 instituições pelo mundo que vão receber uma das impressoras que a Braigo Labs vai produzir.
— Acredito que minha ideia foi uma forma de ajudar a melhorar a sociedade — disse Banerjee.
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