Roberto Rillo Bíscaro
O sucesso das séries policiais escandinavas na Inglaterra
acostumou o público a ler legendas e influenciou na produção de shows com clima
Nordic Noir. Irlanda, Escócia e Gales e suas línguas/dialetos passaram a ser
lócus/veículos de programas logo batizados de Celtic Noir. Já resenhei
Hinterland; leia aqui.
Aproveitando semelhanças climáticas e geográficas com Suécia
& Cia, o Celtic Noir traz detetives macambúzios resolvendo intrincados
crimes em locais frios e escuros. Que tais locações na vida real apresentem
taxas de criminalidade muito baixas não importa, afinal, um dos atrativos das
variantes ultrasetentrionais do noir é a poluição da ideia de paraíso social. Los
Angeles, Chicago e Nova York do noir ianque não causam surpresa como antro de
infrações, mas um paraíso gélido e ventoso como as ilhas Shetland, com suas
menos de 30 mil almas, é ideal pra noção alarmista de que não existe local
seguro na face da Terra.
E o arquipélago de Shetland, ao norte da Escócia, foi
escolhido pela sucursal da BBC naquele país como cenário pro Celtic Noir que
leva o nome das ilhas. Os 8 capítulos das 2 temporadas de Shetland foram
exibidos em 2013-4.
A bandeira de Shetland tem mais a ver com Escandinávia do
que com Reino Unido, o sol brilha bem pouco – e os realizadores ainda usaram
filtros pra deixar os dias mais sombrios -, quer lugar melhor prum filhote de
Nordic Noir? Islândia e Noruega são citadas em vários episódios.
O Inspetor Detetive Jimmy Perez (Douglas Henshall da
minissérie The Secret of Crickley Hall, resenhada aqui) é o policial meio
deprimido que investiga horripilantes assassinatos. Viúvo e criando uma adolescente
em conjunto com o pai biológico dela (moderno isso!), sua vida pessoal não influi
na condução das investigações, como no caso da colega dinamarquesa Sarah Lund,
mas o estilo tristonho de Perez insere-o no receituário Nordic Noir, que esse Celtic
Noir segue ao pé da letra.
São 4 histórias divididas em 2 capítulos cada, o que não
proporciona tempo pra altos voos como na por vezes delirante Bron/Broen, mas as
tramas são decentes e mantém o interesse. Um resenhista jocosamente qualificou
Shetland como “Morse meets Norse”, brincando com o inspetor oxfordiano (resenha
aqui) usando sua lógica num contexto de noir do extremo norte. Peraltices linguísticas
espertas à parte, nenhum capítulo de Shetland é entediante, o contrário de
muitos em Inspector Morse.
Shetland não oferece novidade pros iniciados em Nordic ou
Celtic Noir, mas isso não é demérito, porque quem aprecia policiais soturnos,
cozidos em fogo lento, com paisagens absurdamente fabulosas, gostará imenso. Como bônus, o ótimo Brian Cox participa da primeira história da temporada 2.
E a notícia ainda melhor é que a BBC garantiu 3ª temporada pra esse ano, dessa vez com uma história única percorrendo 8 episódios. As perspectivas são animadoras.
E a notícia ainda melhor é que a BBC garantiu 3ª temporada pra esse ano, dessa vez com uma história única percorrendo 8 episódios. As perspectivas são animadoras.
Aviso aos que assistem em
inglês sem legendas: o sotaque é bem diferente do usual norte-americano ou do “Inglês
da Rainha” da BBC padrão, portanto, cuidado.
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