Roberto Rillo Bíscaro
O estrondo de ET – O Extraterrestre consolidou o império de
Steven Spielberg, que nos anos vindouros faria o que bem quisesse. Em 1985, voltou
a produzir pra TV, onde praticara técnicas e ganhara trocados nos anos 60 e 70
(escrevi sobre aqui).
Amazing Stories teve 2 temporadas (1985-7) pela NBC. Histórias com metragem abaixo de 25 minutos, enfatizando a
fantasia, mas também suspense, pitadas bem leves de horror, ficção científica
de quadrinhos datados já nos 80’s e doses de humor. O fracasso de audiência
determinou a não renovação do contrato. Spielberg fazia o que bem quisesse
enquanto deixavam.
Convidados famosos assumem a direção: Burt Reynolds, Clint
Eastwood, Martin Scorcese, Tobe Hooper e o próprio Spielberg, claro. The
Mission, dirigido pelo criador do ET, tem um dos defeitos que estragam essas pretendidas
Histórias Maravilhosas: Kevin Costner e Kiefer Sutherland participam do
episódio sobre soldado entalado na parte inferior dum avião militar prestes a
pousar sem trem de aterrissagem. Criativo e tem suspense, mas Spielberg exagera
– como de costume – na música incidental, mais indicada pra salas de cine e não
pra sala de estar/quarto onde ficam nossas TVs. Grandiloquente demais.
Densamente povoada por crianças e adolescentes, o resultado
diversas vezes são espetáculos de apelação, sacarina diabetizante em dose letal
e QI de jardim de infância. Fine Tuning me lembrou um filme de River Phoenix do
mesmo ano 85. Um garoto sintoniza um canal de TV de outro planeta, onde os
programas humorísticos terráqueos dos EUA cinquentistas são obsessivamente
refilmados e os ETs até vem a Hollywoood, onde são ciceroneados pelos meninos.
Imagine uma civilização avançada a ponto de viajar anos-luz ser tão imbecil
quanto descrita no episódio. Spielberg no que tem de mais infantilizador. Isso
sem contar que quase todo episódio que tinha extraterrestre, eles fazem aqueles
ruídos irritantes e nojentos do ET.
Obsessões spielbergianas como a Segunda Guerra e um mundo já
perdido nos 80’s – The Alamo e cine e TV 40’s e 50’s - são temas recorrentes, rendendo
bons episódios, mas em quase todos algum elemento impede a plena satisfação.
Diluição da trama por falta de tempo ou pra agradar a “família” pra qual
Amazing Stories foi apontada. Então, por exemplo, pra garantir alguma risada
fácil em Boo, o casal de fantasmas atravessa paredes, mas foge do cão familiar.
Por que, se eles seriam atravessados pelo au au??
Não que Amazing Stories seja desprovida de bons momentos,
como o emocionante Dorothy and Ben, no qual ele acorda dum coma de 40 anos e
consegue se comunicar com uma menininha no mesmo estado.
De costume, a cada introdução – longa demais pros padrões de
hoje – esperava nomes caros no elenco. Não faltaram.
James Cromwell num episódio chatinho, onde beberrões tentam
matar seu companheiro de cachaça pra ficar com o seguro de vida. Mas o velhote
irlandês é duro matar. Legal ver Cromwell ainda 40tão - lembro dele em DALLAS, na mesma época, como
o piloto contratado por JR pra levar Pamela ao redor do mundo atrás de pistas
falsas sobre Mark Grayson, que morrera num acidente aéreo. Ou não.
Por falar na esposa de Bob Ewing, Priscila Pointer, a
Rebecca Wentworth, mãe de Pam, em um episódio interessante em que pega carona
numa noite chuvosa com uma jovem que quer se divorciar, assim que chegar a seu
destino. Nada de infantil nesse da segunda temporada, em geral, superior à
primeira.
John Lithgow aparece numa história sensível sobre 40tão
solitário que compra uma boneca e começa a se comunicar com ela. A surpresa
ocorre quando ele visita a mulher que serviu de inspiração – sem saber – pra
cara do brinquedo.
Christina Applegate, a piranha loira burra de Married WithChildren, faz ponta num episódio onde um garoto é jogado no filme Psicose pra
aprender que a vida é mais rica e importante do que a ficção.
June Lockhart não é querida, mas por estar na resenhada (aqui) Perdidos
no Espaço prestei mais atenção. Historiazinha estereotipada envolvendo competição
rural de quem produz a maior abóbora. Ela é a boazinha de roupa clara que
sempre ganha da megera materialista de vestimenta negra. Profundo, não?
Adam Ant, com carreira de estrela pop já vencida na Europa,
começa sua caminhada nas telas num episódio sobre uma família do futuro que
foge ao passado porque procriou biologicamente e sua sociedade é asséptica,
tudo é in vitro. Tecnofobia com
pitadas de Exterminador do Futuro: uma robô policial vem capturá-los e é tão
facilmente derrotada que só sobra rir. Ideia até legal, mas o formato de 25
minutos era curto demais e a produção “família” demais também.
Se editada pruma temporada Amazing Stories
ficaria uma coleção decente. Pelo jeito, todos, ou quase, os programas estão nessa playlist no You Tube, em inglês sem legendas.
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