Roberto Rillo Bíscaro
Em janeiro do ano passado, vi Cecilia Roth e Dario Grandinetti na morna Una Relacion Pornográfica (leia aqui). Há pouco, descobri
que em 2013, os argentinos estrelaram Matrimonio, do diretor Carlos
Jaureguialzo. Como considero queridos os protagonistas, dei-lhes nova
oportunidade.
Esteban e Molly estão em crise, após mais de 20 anos
juntos. Ela deprimida e à beira duma relação extraconjugal; ele com bloqueio
criativo em sua agência de publicidade. O filme mostra um dia em suas vidas –
Stephen e Molly são o par central do Ulysses, de James Joyce, que serviu de
inspiração pra Matrimonio. Só que a película argentina não deixará rastros como
o romance irlandês.
A crise matrimonial corporifica-se imageticamente,
porque Roth e Grandinetti quase não aparecem juntos. Ambos passam boa parte de
Matrimonio fazendo coisas e/ou perambulando por Buenos Aires. Por vezes, seus
percursos tangenciam-se, porque o filme mostra o dia do casal separadamente,
explorando as diferenças de ponto de vista.
Cheio de referências modernistas tipo Ingmar Bergman e
Simone de Beauvoir, o diretor escolheu maneira pós-moderna de contar sua
história. Essa discrepância certamente conta pra decepção causada, mas o que
mais pesa é que o dia de Esteban é tão chato, que quando chega a parte de
Molly, a possibilidade de empatia já se escoara.
Mais interessante que o marido –não muito mais -, Molly
oferece mais ideias e questões, mas isso não salva Matrimonio da vala comum das
ações inverossímeis (uma portenha não sabe que não se fuma no metrô ou em
hospital? Me deixa, né?), forçadas (ficar presa no elevador e sofrer
sequestro-relâmpago em seguida?) e diálogos algo pomposos e forçados.
Elegantemente filmado e bem
atuado, Matrimonio - como Una Relacion Pornográfica - ainda não é o veículo
apropriado prum casal tão talentoso como Roth e Grandinetti.
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