Roberto Rillo Bíscaro
Há quem acredite que a morte chega na hora certa. Não
discutirei a crença, mas quando penso em quantas boas atuações a morte tão
etariamente prematura de Philip Seymour Hoffman nos surrupiou sinto raiva dela.
Especialmente depois de ter visto God’s Pocket (2014) - um de seus derradeiros
trabalhos – que quase só vale pelo elenco.
Estreia na direção do ator John Slattery, de Mad Men,
God´s Pocket foca uma comunidade de classe baixa nos EUA recessivos de fins dos
anos 70. Um jovem racista é morto na construção onde trabalha e os colegas
encobrem a causa real pra proteger o negro discriminado que perpetrara o crime.
Seu padrasto, envolvido com ações ilegais, passa boa parte do filme tentando
enterrar o filho, ao mesmo tempo que um desiludido colunista de jornal descobre
o caso e entra na história, mas complica-a ainda mais, porque se interessa pela
esposa do já problemático Mickey.
A repulsividade de praticamente todas as personagens ate
é de certo modo contornada, porque entendemos que muito de suas (más) ações
nasce da desilusão e da sensação de inescapabilidade encetada pelo meio. Nesses
termos, uma dose de tragédia moderna poderia se esperar, mas a escolha de
intercalar momentos de suposto humor aguou tudo: primeiro, porque as situações
são conduzidas com tanta graça quanto uma sessão de higiene íntima e segundo,
porque as diferentes convenções pretendidas se cancelam, produzindo uma
película que apenas mostra boas tomadas e situações, mas nunca decola, porque
jamais nos importamos com ninguém.
A filiação televisiva do diretor deve justificar porque
tomadas e caracterização de personagens lembrem tanto Os Sopranos, exceto que
vale mais assistir a um capítulo da excelente série.
A redenção de God’s Pocket vem através do elenco,
liderado por Hoffman e que ainda traz Richard Jenkins, que não consegue salvar
sua personagem nem com seu usual brilho. Como acreditar no “romance” tão súbito
e mal desenvolvido entre o jornalista e a mulher de Mickey?
Se não fosse pelos atores, terminaríamos God’s Pocket tão
miseráveis quanto seus personagens.
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