segunda-feira, 16 de março de 2015

CAIXA DE MÚSICA 161

Roberto Rillo Bíscaro

Em 2011, Seasons of My Soul, estreia da suave Rumer, ganhou elogios no blog (leia aqui). O álbum de covers Boys Don’t Cry (2012) não me motivou, mas Into Colour, lançado em novembro, reacendeu minha esperança e gratidão pela moça, que, após o sucesso crítico do primeiro lançamento, comeu o pão emocional que o diabo pisou devido à pressão pra repetir o achado de Seasons.

 Celebrando a sonoridade e o jeito de cantar setentistas, Into Colour é outro deleite introspectivo da anglo-paquistanesa. O único momento dançante é Dangerous, disco music luxuosa que enganará os incautos que adquirirem o álbum esperando símiles do primeiro single.
A afamada semelhança vocal com Karen Carpenter jamais será evadida. Fazer o quê? Rumer em certos momentos soa como se possuída pela vocalista dos Carpenters. É fato, é a voz da moçoila; ela não imita Karen, que já faleceu há mais de 3 décadas. E quem escreve este está de luto pela irmã de Richard Carpenter desde 4 de fevereiro de 1983, quando a maldita anorexia a levou. Rumer tem seu valor e se sua voz se assemelha à da finada, melhor pro estilo que escolheu. Ouça a abertura – Intro (Return of Blackbird), onde em menos de um minuto Rumer te faz arrepiar evocando Karen, mas também mostra que seu vocal/estilo não é cópia.

Todas as faixas são de Rumer. Reach Out e Come Back to Bed nem bem começam e as impressões digitais de Burt Bacharach estão por todo canto. O produtor do álbum – e namorado da cantora – é Rob Shirakbari, ex-produtor e arranjador de Mestre Bacharach, que, por sua vez, trabalhara com os Carpenters no auge setentista do duo. Essa é a tradição seguida por Rumer, a do soft rock (Play Your Guitar); a do preconceituosamente estigmatizado easy listening, que domina as 11 canções de Into Colour.

Pizza and Pinball é meio infantil, ao estilo twee pop; não combina muito com a crescente maturidade das demais composições. A proposta da letra de ir brincar no gramado, comer algodão doce, catar minhoca (argh!) e assistir a desenhos animados (depois de haver reclamado que adultos passam o tempo todo em frente à TV) destoa da madureza do resto do material. Mas daí, Rumer é bipolar, então a gente desconta. 
Sam, Butterfly, I Am Blessed, Better Place (prepare-se pra desabar quando ela cantar shiiiiiining); calmas, sem medo ou vergonha de serem baladas serenas indicam pertencimento à tradição citada, mas com personalidade própria.
As cores de Rumer são lindas. 

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