Roberto Rillo Bíscaro
Entre 1788-90, Suécia e Rússia travaram guerra insuflada
em grande parte pela necessidade Real de distrair o povo, silenciar a oposição
e externamente incentivada pela Inglaterra, Holanda e outras potências
ocidentais insatisfeitas e temerosas com a crescida russa.
Anno 1790 (2011), série sueca em 10 episódios, aproveitou
esse período de pós-guerra - quando o país vivia numa cerrada autocracia, mas
dissidentes simpáticos à Revolução Francesa ansiavam por liberdade, igualdade e
fraternidade – para ambientar histórias de detetive, resultando uma espécie de
Nordic Noir de época.
Johan
Gustav Dåådh é um médico antimonarquista, que, após o conflito, aceita o cargo
de comissário de polícia em Estocolmo. Parte da tensão é a dicotomia da personagem
entre trabalhar prum regime que condena intimamente, mas que não pode criticar
devido ao cargo. Dåådh teme por seu pescoço, caso descoberto, mas igualmente
discorda dos métodos violentos usados pelos antiabsolutistas. Pra complicar, apaixona-se
– e é reciprocado – pela esposa de seu superior. Só isso já lhes custaria
opróbrio na conservadora Suécia de fins do século XVIII.
Em
meio e às vezes em decorrência desses fatores, Dåådh usa lógica e rudimentares
técnicas forenses pra desvendar assassinatos em cada episódio. Destoando dos
Nordic Noirs ambientados na atualidade, Anno 1790 tem cenas nojentinhas de
autópsia, carne lacerada e cabeças esmagadas. Pode enjoar que muitos episódios
sigam a estrutura “os superiores decidem que alguém é culpado, Dåådh infere que
não e parta pra provar que tem razão”. Mas, daí, quantas narrativas
detetivescas não são assim?
Anno
1790 mostra uma Suécia afrancesada no vestuário e vocabulário, mas temerosa da
novidade revolucionária (ad)vinda da Queda da Bastilha. Essa ambientação e a
repercussão na vida das personagens centrais destacam o show de outros, que,
acoplado com casos bem bolados, garante a diversão, ainda que não alcance o
nível das conterrâneas Bron/Broen (co-produção com a Dinamarca), Arne Dahl ou
Irene Huss.
Embora
bem produzida, é modesta se comparada às produções de época norte-americanas, e
os custos pra TV sueca determinaram a inexistência de segunda temporada, que
tinha roteiros escritos e atores contatados. Talvez, se tivesse alcançado o
sucesso internacional de outros policiais escandinavos...
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