Roberto Rillo Bíscaro
Rumores deram a entender que a segunda temporada de
Broadchurch concentrar-se-ia nos efeitos comunitários da revelação do assassino
do pequeno Daniel Latimer. A ITV exibiu os 8 novos capítulos entre janeiro e
fevereiro. Costumo ver séries após o término da temporada. Apesar de falhas e
implausibilidades, devorei Broadchurch em 2 sentadas, tão viciantes o enredo, a
tensão, a dolorida amargura, o clima despudoradamente Nordic Noir da música,
vestuário, tomadas e ambientação.
Ao ser ouvido pelo juiz, o confesso assassino declara
inocência e inicia-se julgamento com advogado de defesa tentando livrar quem
sabemos culpados. Mas o júri não viu a primeira temporada, portanto desconhece
os detalhes. A apresentação de circunstâncias dúbias torna essa parte da série
fascinante. Dá raiva perceber a manipulação, mas a todo instante temos que
lembrar que nossa posição e a dos jurados é diferente. Difícil simpatizar com a
advogada (que sotaque lindo e claro o da atriz Marianne Jean-Baptiste), que
também tem seus problemas e fantasmas.
Pena que uma das fraquezas da temporada seja em algumas
sub-sub-tramas que não (de)colam, como no caso do filho presidiário da doutora
advogada ‘do mal’. Quem se importa? Ou na advogada ‘do bem’ (nem vou comentar
sobre a que gostamos ser branca e que odiamos negra...), que tem acidente de
carro e não vai ao hospital, daí achamos que isso terá consequências, mas não,
do nada é revelado que ela tem uma doença degenerativa nos olhos. Tá, mas pra
quê o acidente? E donde saiu aquela tentativa de romance lésbico? Pra preencher
cota?
Pra dar serviço aos detetives Hardy e Miller e não
transformar o show em drama de tribunal, um caso não resolvido que atormentava
Hardy desde a temporada um vem à tona e compõe competentemente a parte policial
da trama, com um final que ainda que meio implausível é abissalmente triste e
chocante. Broadchurch é Nordic Noir no sentido de “quanto mais miserável as
vidas, melhor” E nós telespectadores amamos, senão como explicar os altos
índices de audiência de sofisticadas séries dinamarquesas e dos cidades alertas?
Essa bifurcação de tramas garante nossa prisão diante da
tela, porque temos 2 grandes mistérios pra resolver. Como na temporada prévia,
os sinais pra parcialmente desvendá-los estão dados. Em um dos níveis basta
raciocinar sobre qual resultado geraria mais conflito pruma possível temporada
terceira, por sinal, anunciada pela ITV.
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