terça-feira, 24 de março de 2015

TELINHA QUENTE 156


Roberto Rillo Bíscaro

Dia 27 de fevereiro, a Netflix disponibilizou a trezena de episódios da terceira temporada do absurdo político com pretensos tons shakespearianos House of Cards (aqui e aqui resenhas das anteriores e aqui o comentário sobre a versão britânica).
A grande diversão era acompanhar as falcatruas de Frank Underwood – espécie de JR Ewing deste início de século – em sua escalada ao poder. Maquiavélico e brutal, o enrustido sulista chegou ao topo. Com a renúncia do presidente, Underwood começa a temporada cumprindo o resto de mandato. Se não havia mais progressão vertical na carreira, esperava-se que ele subornaria/destruiria meia Washington pra granjear apoio e ganhar a eleição de 2016.
Ele tenta conquistar suporte e roubar a simpatia da população, mas, passa a temporada praticamente na defensiva e perdendo batalha após batalha. Em sua encarnação mais fraca, restam as apelações do roteiro com o presidente urinando no túmulo do pai e cuspindo na cruz. Que ele é endemoninhado como um Ricardo do Bardo já sabemos. Essas ações pueris pra chocar não somam à personagem, que queremos odiar pelo estrago que faz ao redor e potencialmente ao mundo caso permaneça presidente.
As sub-tramas não são sequer dignas de comentário; quem liga pra recuperação de Doug ou pro que foi feito de Fred? O destaque de House of Cards 3 é o presidente russo Victor Petrov, paródia nada camuflada do real Putin. Até as Pussy Riots fazem participação especial pra detonar o homofóbico Petrov, que infelizmente aparece em 3 ou 4 episódios. Digna de nota é a escalação do dinamarquês Lars Mikkelsen pro papel. Ele é o Troels Hartmann, de Forbrydelsen. Não falo que Nordic Noir é tendência?
Pro final deixei a insidiosa, sinuosa e elegante Claire, a grande personagem de House of Cards. A simbiose com o marido pra compartilhar o poder fazia dela um dos papeis mais instigantes da atualidade. Mas, tal qual (First) Lady Macbeth, ela começa a ter crise de consciência e boa parte dos episódios foca na deterioração do relacionamento com Frank. Esse comportamento mostra desenvolvimento da personagem – coisa que Frank não teve – mas oblitera um dos pilares da série.
O que os roteiristas farão na quarta temporada? Um dos caminhos abertos pela season finale é Claire duelando com Frank pela presidência. Seja o que/como for, verei a quarta vinda de House of Cards apenas por Claire. Como o eleitorado que na ficção a adora, ela tem meu voto. 

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