Roberto Rillo Bíscaro
O Ultravox me passou despercebido durante seu auge
oitentista. Lia o nome na Revista Bizz, mas não tocava nas FMs do noroeste
paulista e quando ouvia as rádios de Sampa nunca calhou de escutar. Vienna,
álbum de 1980, foi lançado aqui em 82 e desconheço se outros trabalhos
repercutiram no patropi. Ouvi a discografia somente graças à acessibilidade da
internet e entendi porque entre 80-6 cravaram 7 álbuns na lista dos 10 mais na
sua nativa Inglaterra.
Influenciados por krautrock, Roxy Music, Bowie, a banda
teve seus anos experimentais coroados por Systems of Romance (1979), que
abandonou a fúria punk pra desenhar a planta do castelo New Romantic. O sucesso
comercial veio quando John Foxx partiu pruma carreira-solo respeitada e em seu
lugar entrou o vocalista e guitarrista Midge Ure. O single Vienna decolou e
virou clássico. Chapei quando escutei pela primeira vez, décadas após o
lançamento. Kraftwerk com pop, muito drama e pose numa canção que tem longo
instrumental, muda de tempo e logrou vender muito.
Ure colocou o Ultravox na seara comercial e, como
ocorrido com The Human League e o Orchestral Manoeuvres in the Dark, a banda
definiu a sonoridade synthpop da primeira metade dos 80s. À gelidez dos
teclados, somaram vocais inflamados e riffs de guitarra contagiantes. Tinham a
mesma propensão do U2 de compor hinos (uma de minhas favoritas chama-se
justamente Hymn). Carreiras-solo, egos e o declínio do synth pop importaram pra
dissolução em 86.
No Youtube dá pra ouvir uma coletânea da fase áurea (nada
dos 3 primeiros discos), que recomendo com paixão. Prepare-se pra ter vontade
de subir num monte de oliveiras e entoar as canções de braços abertos!
Nos anos 90, sem Midge Ure lançaram álbum que ninguém
ouviu. Silêncio até 2009, quando a formação comercialmente clássica Warren Cann (percussão), Chris
Cross (baixo), Billy Currie (teclado/violino) e Ure reuniu-se pruma turnê. Em
maio de 2012, saiu Brilliant, álbum de estúdio com inéditas. Minha sina com o
Ultravox é ouvi-los muito depois! Antes por escassez de oportunidades, agora
por excesso de possibilidades. Artistas e álbuns demais pra checar/escutar,
demorei pra chegar a Brilliant.
Seguindo os
passos do último Duran Duran, o trabalho soa como se composto em 1983/4 e traz
todas as características do Ultravox sem adicionar novidade.
A dúzia de
canções traz as usuais faixas rápidas e energéticas aspirantes a hinos, como
Live, Brilliant, Hello e Lie, que a turma de Ure faz de ouvidos fechados,
porque têm a mesma estrutura e os cacoetes de piano elétrico, vocais sentidos
etc.
Kraftwerk
ainda é Bíblia: Rise tem teclados da fase Computer World (1981) e Change, de
The Man Machine (1978). A primeira encaixa-se na categoria das aspirantes a
hino, enquanto a segunda engrossa o problema de Brilliant: baladas entediantes
como Remembering, One e Fall.
Pra atingir o
tesouro de Briliant há que atravessar toda a chatice dessas baladas. Fosse o
caso de o Ultravox ainda ter ouvintes casuais, sairia perdendo por localizar
Satellite como penúltima da coleção. Épica, com solaço de violino e Midge Ure
dramatizando o refrão; oh oh oh oh, I defy you/let
your light shiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiine on me tonight/do, do what you know/know
to be right/wondrous satelliiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiite. Pra pôr no
repeat e ouvir até calejar os tímpanos. Nos 80’s a faixa entraria na parada,
teria versão extended e depois seria incluída no Greatest Hits.
Brilliant
é metade enfadonho e na outra metade satisfaz, culminando na perfeição de
Satellite. Conselho: delete as tentativas de refazer Vienna, preserve a
meia-dúzia de delícias synth pop e (re)viva os anos 1980.
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