Roberto Rillo Bíscaro
E não é que já se passou quase uma geração desde o single
de estreia do The Prodigy, em 1991? Charly começou a escalada do trio inglês do
underground das raves pro estrelato mundial do elogiado álbum Fat of the Land (‘98).
Detonando o bom-mocismo da dance music oitentista, o Prodigy misturou
electronica, techno, hip hop, funk, rock, hardcore e junto com compatriotas
como o The Chemical Brothers promoveu música dançável mais agressiva e
instigante. Arautos alternativos, Liam Howlett, MC Maxim e Keith
Flint tiveram
impacto tremendo na zona fronteiriça entre underground e música “de massa” e
influenciaram diversos sub-gêneros dançáveis como o Big Beat.
Após hiato de
7 anos, os caras de Essex lançaram The Day Is My Enemy no final de março.
Fiquei muito curioso pra saber se o The Prodigy ainda tem alguma relevância,
afinal, o cenário da música eletrônica atual é bem distinto do mundo
pré-Skrillex de 2008. O dubstep reinou no pedaço e me perguntei se ainda
haveria espaço pra “sujeira” e raiva, descendentes diretas da música punk, na
assepsia bem comportada da geração EDM. Há, porque The Day is My Enemy entrou em
primeiro na parada britânica e no Top 5 da parada dance/eletrônica da
Billboard.
O álbum
começa com The Day is My Enemy. O Prodigy pegou 2 versos duma canção de Cole
Porter (superapropriados pra pessoas com albinismo; amei!), cantados numa voz anos
40,50 e bombardeou-a com batucada digital malévola, teclados ameaçadores e toda
sorte de efeitos bolados. The Prodigy definitivamente deve ser evitado por quem
associa dance music e fofuras saltitantes pra pleiboizinho e guelzinha curtirem na balada de Camaro
amarelo.
Nastyen abre
com aquela guitarra meio suspensa – marca registrada do Prodigy – pra estourar
em percussão jungle e vocal descendido de Johnny Rotten. Pra comprovar suas
raízes punk, o álbum tem faixa chamada Destroy, lema dos Pistols em Anarchy in the UK. Mas a pegada aqui é mais Techno mesmo.
Rebel Radio é
puro rave music insana infestada de vocais robotizados como os ouvidos nos
shows do Kraftwerk (e você achou que não haveria cromossomo K no álbum?!). Ibiza é
um bombardeio de sons de vídeo game nos DJs do requisitado paraíso espanhol,
faceless, bonitinhos e cheirosinhos demais pro Prodigy. What’s ‘e fuckin’
doin’?. A porrada de Rok-Weiler, antes de ser influenciada pelo dubstep, mostra
de onde veio o movimento. Confira a virada da percussão no início. Urgente,
nervosa, é The Prodigy no seu mais revoltado e raivoso; ótima.
O defeito de
The Day Is My Enemy é sua duração. Difícil manter a inspiração em 14 faixas,
então, de Wild Frontier em diante, temos que viver no intercalo de canções boas
com outras nem tanto. O resultado é que ao final do “Dia” a sensação é de certo
enjoo.
Ainda
relevante, o The Prodigy veio com tanta sede ao pote que exagerou no jato
d’água disparado. Mas, basta deletar algumas chaticezinhas que dá um excelente
disco pra botar as exus pra fora!
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