segunda-feira, 27 de abril de 2015

CAIXA DE MÚSICA 167

Roberto Rillo Bíscaro

Marina and The Diamonds não é um grupo de eletro-indie rock, mas o pseudônimo que Marina Diamandis escolheu pra causar com seu vozeirão e produção múltipla e exuberante. Tenho seguido seus lançamentos e ficado com canções na cabeça, mas nunca escrevera sobre a galesa.
Em 2010, quase pasmei com a estreia The Family Jewels, uma trezena de melodias marcantes, cheia de boas ideias, interpretadas quase ao exagero, com diversas sonoridades  e ritmos, porque um trabalho colaborativo com mais de um produtor de personalidade forte. Não obstante o inegável jato de criatividade e talento, minha cabeça quarentona não deixava de detectar vibrações muito fortes do espectro da Venerável Kate Bush, Nada de errado com influências – Lady Gaga e Ke$ha também disseram presente – mas preferi me conter pra ouvir os passos futuros de Marina, porque competir com Tia Kate fatalmente resulta em derrota pra desafiadora. Isso posto, The Family Jewels tem delícias que me acompanharão pela vida como The Outsider ou o verso totalmente Kesha ”it’s easy to be sleazy when you got a filthy mind”, de Girls, pra citar apenas 2 canções.

Em 2012, saiu o conceitual Electra Heart, no qual ela criou uma personagem pra falar sobre temas femininos (ou algo assim). Exageradas as reações de amor/ódio por um álbum inferior ao da estreia e que quando optou por soar electro terminou parecendo trabalho de Lady Gaga. Tirando a infecciosa Bubblegum Bitch nada realmente chamou a atenção como no álbum primeiro. Starring Role, Primadonna Girl, Radioactive (parece que consta apenas na edição de luxo norte-americana) e um par de outras são legais, mas tem coisa muito sem graça em Electra Heart. Resultado: deletei mais da metade e fiz minha própria Deluxe Edition da pasta de The Family Jewels.

Nos idos do março mais recente saiu Froot (miguxês pra fruit), em que Marina compôs tudo e dividiu a produção com um cara só, resultando em dúzia de canções mais coesas. As letras amadureceram e têm menos trocadilhos infames, mas também estão mais sombrias: “Underneath it all, we’re just savages/Hidden behind shirts, ties and marrriages”, canta ela na delícia pop Savages.
Ao invés de soar como Y ou Z, Diamandis agora se insere na tradição de cantoras, o que é muito diferente. Difícil não se lembrar de Kate Bush em Better Than That ou de Amy Winehouse, quando solta o ‘motherfucker’ em Can’t Pin Me Down, mas em ambas, a marca Marina and the Diamonds já é mais proeminente. A belíssima Happy ao mesmo tempo em que remete ao estilo de Annie Lennox tem o suficiente de Marina pra lhe garantir Graça e Salvação eternas.
Froot é saltitante electro que viaja até o fim dos anos 70 pro eurodisco continental de artistas como as espanholas do Baccara (Yes Sir, I Can Boogie, de 1977). O peculiar (pra nós, mais acostumados às variantes ianques/britânicas “da rainha”) sotaque galês realça a sensação de estarmos ouvindo uma perua ou traveca gringa cantando em inglês. Dá vontade de dublar.
Com alcance vocal que vai do grave ao agudo dum segundo a outro, Marina não precisa mais exagerar, porque é fruta mais madura; confira a intensa I’m a Ruin.
Froot, o álbum, é fruto duma artista encontrando voz própria. Pode não ser imediatamente viciante como a estreia, mas tem mais personalidade e carece de momentos chatos como o segundo.

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