Nosso cronista-historiador vive no Rio de Janeiro há diversos anos. Nesta crônica, ele indica pontos turísticos imperdíveis pra quem quer conhecer mais do que as belezas naturais da Cidade maravilhosa.
RIO DE JANEIROS PARA NÃO INICIADOS.
José
Carlos Sebe Bom Meihy
São decorridos 450 anos da fundação
da Cidade Maravilhosa. Não seria errado dizer que a celebração deve ser do
Brasil como um todo. O argumento que valoriza o Rio como significado nacional
não se prende apenas às inquestionáveis belezas naturais. Logicamente, somos
cativos das referências dadas pela combinação do mar recortado, florestas
exageradamente belas e variadas, montanhas altas e abruptas, surpreendentes em
variações. Por certo, a maneira de ser dos cariocas atrai e mostra a
singularidade de uma metrópole que guarda o segredo de ser exótica, particular,
e universal ao mesmo tempo. Vale registrar que, como Paris, Nova York, Roma, o
Rio tem lugar preferente no gosto turístico de muita gente. Seja pelo samba,
chorinho, pela gafieira, pela ginga das pessoas – não apenas das garotas de
Ipanema – pela graça de um falar mais cantado do que outros, o Rio é único.
Pois é, além de todas essas indicações que se alargam em detalhes, há algo mais
no Rio que merece ser destacado.
A estratégia turística que
propaga cantos da cidade tem valorizado as paisagens externas, os espaços
abertos e iluminados. Infelizmente, pouco se fala do Rio de Janeiro dos recintos
fechados. Aqueles que rompem a rotina das praias ou dos tais cartões postais se
extasiam com a coleção de museus bem conservados e instrutivos, além de belíssimos.
Recomendo com ênfase alguns deles: o Museu Nacional de Belas Artes – com a
soberba coleção de pintura nacional, em particular do século XIX e XX; o Museu
Histórico Nacional, que localizado estrategicamente no Forte da Praça XV
esbarra nos limites da perfeição museológica do gênero - recomendo com destaque
uma boa parada na coleção de moedas que
é a quinta mais completa do mundo; recém-inaugurado o Museu de Arte do Rio
(MAR) junta dois prédios que combinam a arquitetura moderna com a eclética, e
abriga exposições magníficas – em particular uma sala que saúda o Rio; o Museu
de Arte Moderna, com o moderníssimo prédio que beija a Baia de Guanabara e
guarda a coleção Chateaubriand.
Poucos sabem que temos a
oitava maior coleção mundial de livros e que a Fundação Biblioteca Nacional
oferece, diariamente, visitas guiadas pelas salas magnificas. Há um recanto maravilhoso
que não pode deixar de ser recomendado, o Real Gabinete de Leitura que se
constitui em um dos mais bonitos espaços, com coleção rara de livros e
documentos fundamentais para o entendimento do nosso passado imperial. E por
falar em Rio Imperial, a Quinta da Boa Vista, além do museu, se abre em jardins
soberbos. Combinando espaços abertos e fechados não há como deixar de lado uma
visita à Chácara do Céu que oferece uma coleção que além de telas de referência
da pintura em geral detém o maior número de originais de Debret. O Centro
Cultural Banco do Brasil é abrigado em um prédio exemplar e reúne além de salas
de exposições, quatro teatros que, em conjunto, se mostram ponto obrigatório.
Ainda que Salvador na Bahia
seja famosa pelas igrejas, o Rio perfila como uma das mais cativantes cidades a
ostentar espaços religiosos católicos. A combinação e proximidade de duas
igrejas de estilos extremados é irresistível. Em uma ponta a Nova Catedral
cilíndrica, sugerindo a calda de um peixe. Interessante que a modernidade
arquitetônica explica a circularidade da disposição dos bancos dimensionando a
proposta da teologia da libertação. Não bastasse a beleza dos vitrais e a
singeleza das poucas imagens, temos logo perto a mais bonita igreja barroca
brasileira, no Convento Santo António a Igreja de São Francisco, da Ordem
Terceira. Ostentando uma imagem de Cristo Alado, com seis asas, não conheço
paralelo em termos de beleza barroca na América Latina. Ciente de que recomendações
turísticas podem ser excessivas e produzir efeito contrário, paro por aqui,
afirmando que seja pela beleza natural, seja pela exuberância dos espaços
fechados, vale sempre a pena visitar o Rio de Janeiro.
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