terça-feira, 28 de abril de 2015

TELINHA QUENTE 161


Roberto Rillo Bíscaro

O sucesso de público e crítica de Além da Imaginação escancarou as portas pra séries de ficção-científica (não que The Twilight Zone tenha sido a primeira) e despertou a cobiça de outras emissoras, ansiosas por emularem o êxito da CBS. Entre 1963 e 1965, a ABC produziu os 49 episódios das 2 temporadas de The Outer Limits, que ao fim da temporada inicial foi deixada à própria sorte e com séria redução orçamentária devido à baixa audiência. Curiosamente, a temporada “abandonada” tem os episódios melhores, alguns mesmo brilhantes.
Dá pra entender porque o público não aderiu maciçamente ao show. A ABC desejava um produto que entregasse aos telespectadores um monstro por semana, a ser derrotado por um mocinho, à moda dos filmes B tão bem sucedidos do cinema. Verdade que monstros e alienígenas não faltam, então é uma festa de máscaras e roupas de borracha. Mas a introdução e discussão de temas (pseudo-) científicos/filosóficos, o ritmo lento e a baixa quantidade de ação devem ter afugentado muita gente.
Todos os episódios têm narração inicial e final com alguma mensagem, que varia desde as pacifistas até uma justificando a guerra/violência. No mundo da Guerra Fria, apelos pacifistas e alertas anticomunistas eram frequentes. Numa das histórias, a Mongólia replicou o presidente norte-americano e planejava substituir outras figuras importantes do governo pra assumirem o controle. Paranoia anticomunista com rancor antioriental.
Intitulada A Quinta Dimensão no Brasil, onde foi exibida pela Globo, The Outer Limits caprichou naqueles efeitos sonoros e musiquinhas que inspirariam eletrônicos como Kraftwerk e toda a geração synthpop.
Não deixei de lado meu esporte de tentar detectar rostos conhecidos, especialmente os presentes em resenhas do blog.
The Man With The Power tem Donald Pleasence, o Dr. Loomis de Hallowen, como pacato professor universitário que implanta um chip (na época não se chamava assim) no cérebro pra controlar coisas, produzir energias, mas isso também potencializa as energias negativas psíquicas. Tudo acaba em lição de moral; o que estraga ou azeda diversos episódios.
The Man Who Was Never Born traz Martin Landau, comandante da Base Lunar Alfa, em Espaço 1999, que vem do futuro devastado e deformado por um vírus. Ele objetiva impedir o nascimento do criador do vírus, mas se apaixona pela futura mãe. Ideia ótima, estragada por roteiro cheio de furos e produção pobre; eles ficavam só no meio do mato!
Vi Mark Richman, o advogado de Blake Carrington e partícipe de Sexta-Feira 13 – Parte VIII, em 2 episódios. Em The Borderland ele é um cientista que quer penetrar na 4ª dimensão (se o título em português for considerado, ele estava regredindo!), mas tem seu experimento financiado por um milionário que quer contatar o filho morto e é dificultado por um casal de médiuns charlatães. Muito blá blá blá. Richman também está no derradeiro episódio, The Probe, no qual humanos servem de experimento pra benignos extraterrestres. Ideia ótima e execução louvável, dados os cortes orçamentários.
Neil Hamilton, o Comissário Gordon, de Batman, aparece como um general em The Invisibles, que tem trama chata inspirada certamente no clássico Invasores de Corpos. Adam West – o próprio Homem-Morcego - é o major duma expedição à Marte (atmosfera igual à da Terra, tá?) pra investigar o desaparecimento de astronautas prévios. O episódio é The Invisible Enemy, que pré-data em décadas a criatividade dos roteiristas da pérola trash Sand Sharks. E ainda tem Ted Knight (o delicioso Ted Baxter, de Mary Tyler Moore) num pequeno papel sem função. Mas tudo vale a pena quando a trama não é pequena; vejam é bem legal!
Robert Duvall aparece em The Chameleon, episódio interessante sobre manipulação genética com mensagem pacifista. Mas Bob Du aparece pouco: na maior parte está transformado em alienígena, daí toca usar máscara. Ele retornou na segunda temporada como um agente governamental no desnecessariamente longo The Inheritors, dividido em 2 partes, onde alienígenas hipnotizam terráqueos pra construírem uma espaçonave e transportarem crianças deficientes pra seu planeta impossibilitado de se reproduzir. Se o poder deles era tão tremendo, porque não vir logo de uma vez com uma nave e levar as crianças?
Mas, The Outer Limits não merece ser vista apenas porque um blogueiro obcecado por atores que quase ninguém lembra destacou episódios. Há ideias e tramas realmente inovadoras, bem boladas e inspiradoras de futuras histórias.
The Zanti Misfits é ótimo com seus insetos alienígenas que parecem formigas com carinhas humanoides, super-filme B! E da época em que A Quinta Dimensão ganhava orçamento decente. O planeta Zanti decide usar a Terra como colônia penal. Incapazes de matar seres de sua espécie, os criminosos foram mandados pra cá, porque sabiam que humanos matam qualquer coisa. Nada lisonjeiro, mas real. Delícia como criaturas que andam devagarinho e podem ser esmagadas com uma pedra no deserto causam tanto alvoroço.
Raro nos 60’s uma personagem negra com profissão “de branco” , uma médica, no episódio The Mice, pena que a trama seja boba. No episódio onde Adam West estrela, há um astronauta negro. Tudo bem que nem fala, mas pra época isso era até ousado.   
Zzzzz tem ideia criativa – uma abelha-rainha transforma-se em linda garota pra tentar seduzir um cientista casado que estudava abelhas – mas a ênfase na sacralidade do matrimônio estraga a história que poderia ter sido tão bem aproveitada! Specimen – Unknown é sobre planta alienígena que ameaça empestear a Terra. Cry of Silence pré-data o terror ecológico setentista com vegetais, batráquios e rochas atacando humanos, mas a base é sci fi. The Special One apresenta extraterrestres tentando domesticar crianças pra auxiliá-los na invasão planejada.
A Feasibility Study começa com clima sobrenatural e gótico: alguns quarteirões são teletransportados prum planeta onde a extrema proximidade com seu sol emperebava os habitantes, que precisavam de escravos pra trabalhos ao ar livre, por isso testam os humanos. Top, embora haja erros graves de continuidade.
Demon With a Glass Hand é genial: usando a imortalidade de Gilgamesh, os roteiristas criaram história de que no futuro a espécie humana foi transformada em impulsos elétricos e armazenada numa espécie de fio e um homem do futuro volta à nossa época como guardião desse objeto. Inteligente, bem atuado, explorando lindamente a fantasmagoria chiarooscura da fotografia, o episódio apenas reafirma minha vontade de garimpar mais séries episódicas sem ter que estar ligado no sucesso do momento.

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