Roberto Rillo Bíscaro
Nós professores não cansamos de passar sermão nos
estudantes sobre a importância da educação. Depois de ouvir a impressionante
estreia do Native Construct, penso ser mais produtivo tocar o álbum Quiet
World, lançado dia 21, pela Metal Blade Records. Robert Edens (vocais), Myles
Yang (guitarra) e Max Harchick (baixo) são egressos da Berklee College of
Music, de Boston, daí sobram técnica e conhecimento sobre composição, estilos
musicais, arranjo e produção. Auxiliados por colegas da academia, o trio saiu-se
com uma obra-prima do prog metal.
As 7 faixas de Quiet World contam a história de Sinister
Silence, mudo rejeitado por uma garota. Ressentido e com problemas mentais, cria
um mundo onde as diferenças são abolidas como meio de promover a felicidade
coletiva. Mas, nem todos estão contentes com tamanha quietude e insipidez; não
tarda a aparecer um líder, Archon, que unirá dissidentes contra o lúgubre SS.
Quiet World foi composto e executado em um período de
anos. Erudição musical e tempo gestaram um trabalho onde cada nota foi
meticulosamente pensada, bem ao estilo do rigor dos áureos tempos do Yes, em
Close to the Edge (1972). Mas a semelhança para aí; Native Construct não faz
prog sinfônico carbonado dos anos 70. Seu prog vem misturado com diversas
vertentes do metal, música de Broadway e até pop num vórtice que chupa o
ouvinte quase a ponto de afogá-lo num mar de acordes e notas.
A variação de ritmos e tempos muito frequentemente
acontece com um dos instrumentos entrando numa nova convenção enquanto os
demais estão em outra e não com paradas abruptas. Desse modo, há momentos em
que uma bateria esporrando death metal faz fundo prum vocal e orquestração
totalmente Broadway, como em Passage.
Os vocais de Robert Edens são um milagre a parte, indo
do fininho ao “podre” do black/death metal. Esse ecletismo do Native Construct
é um de seus muitos pontos fortes. A monumental Mute, que abre o álbum com seus
quase 13 minutos, passeia pelo prog, death metal, etéreo e pop de modo tão
competente que apenas ouvintes dinoussaramente “puristas” (burristas?)
reclamarão. Pontuando as diferenças, os cambiantes vocais de Edens. Come Hell
or High Water começa como caixa de música, transforma-se em pirotecnia
guitarreia a la Queen ou Angra, explode em atonalidade saxofônica, tipo King
Crimson, incandesce em momentos de vocal thrash metal pra terminar em orgasmo
progressivo. Em 8 minutos.
A dupla final Chromatic Lights e Chromatic Aberrration
perfaz outra dúzia de minutos delirante e repleta de variações, a ponto de
alguns segundos da última canção referirem-se a Burt Bacharach! Isso também é
supimpa em Native Construct: eles jogam pop e música “careta” na fuça do
público roqueiro sem que esses gêneros necessariamente pareçam ou soem como pop
ou careta.
Há uma semana não consigo ouvir outro álbum e ainda
estou na fase de descobrir elementos, instrumentos, viradas rítmicas e de
andamento. Não quero nem pensar na pressão que o Native Construct terá pro
segundo álbum, depois duma estreia que, sem exagero, tem potencial pra redefinir
o sub-gênero.
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