Roberto Rillo Bíscaro
Considerando-se os recentes distúrbios em Baltimore,
mais de um grama de soda cáustica deve ser despejado pra dissolver o exagero
crítico cercando Empire, novelão de sucesso da FOX, estrelada por afrodescendentes.
Claro que a presença de grupos oprimidos no horário-nobre é importante, mas não
deve servir pra justificar discursos ilusórios de igualdade racial.
A trilha sonora lançada na mesma semana que o mais
recente (e chato) trabalho de Madonna vendeu bem, mas não arrancou aleluias da
imprensa musical. Com razão: as 18 faixas da edição de luxo (acha que eu ouviria
a standard, com apenas 11?) são em sua maioria interessantes e competentes (com
Timabaland na direção musical, não é mais que obrigação), mas só, impossibilitando
a duplicação das loas ao show.
Dispondo de 3 ou 4 atores que também cantam bem, a
trilha de Empire interessa sobretudo como aperitivo pro vindouro álbum-solo de Jussie
Smollett - o Jamal Lyon, filho gay de Lucius e Cookie – que chamou tanto a
atenção a ponto de descolar contrato com a Columbia Records. Ele arrasa no
sentido R’n’B de abertura, Good Enough, uma das diversas letras dirigidas à não
aceitação da homossexualidade de Jamal pelo pai. Jussie coloca os bofes pra
fora nas baladas Nothing to Lose e Conqueror, dueto com a britânica Estelle;
sabe ser elegante no deslizante acid jazz de I Wanna Love You; incisivo na
ameaçadora de butique Keep Your Money e brejeiro na saltitante You’re So
Beautiful.
Nessa última, ele dueta com Yazz, nome de rapper de
Bryshere Y. Gray, que interpreta Hakeen, filho mais jovem de Lucius. Yazz
também conseguiu contrato com a Columbia, mas a julgar pelos duetos com
Smollett, precisa amadurecer bastante ainda. É um rapper correto e mais nada.
Falta-lhe o tom ameaçador de verdade dum Brother Ali, por exemplo. Confira o pastiche
gangsta Drip Drop e veja se dá pra sentir medo. Puro consumo. Mas a faixa tem
produção impecável e aquele cacoete sonoro que parece uma sirene, repetido
diversas vezes, é chupado de Die Roboter, do Kraftwerk de Die Mensch Maschine (1978).
Não me entendam mal, Yazz não é ruim, talvez falte maturar. Não paro de cantarolar “drip drop drip drippity drop
drip drop.” Mas falta-lhe gume em Can’t Truss e Power of the Empire,
por mais energéticos que sejam os hip hops.
Serayah McNeill também consegue roubar-lhe a cena na delícia
sexy Keep It Movin’, mas é meio covardia compará-lo com uma gostosona cantando “Oh my God, I got a body like a
weapon,
It goes ba-ba-bang,bang, bang”. Amo.
Como
na série, o álbum traz ilustres convidados, como Mary J. Blige num dueto
demolidor com Terrence Howard, o Lucius Lyon. Paraíso pra quem ama uma boa
gritaria black.
Os 2 deslizes ficam por conta de Money For Nothing, rap-dueto
de Jussie e Yazz, que de interessante tem apenas o riff de guitarra do clássico
oitentista do Dire Straits e o gospel bluesy de Courtney Love em Walk Out On
Me. Queridinha, tu nunca serás Marianne Faithful, desista.
Nenhum comentário:
Postar um comentário