Roberto Rillo Bíscaro
Calvin Cordozar Broadus Jr tem variado seus nomes
artísticos: Snoop Doggy Dogg, Snoopzila, Snoop Lion. Atualmente é Snoop Dogg,
alcunha com a qual fez ponta em Empire e lançou semana passada o álbum Bush. O
Doggfather saiu da reclamação ameaçadora do gueto gangsta e se jogou no glamour
bafônico retrofunk e disco, com a ajuda do badalado produtor Pharrell Williams,
outro que ama um som vintage anos 70/80. Quem odeia rap sossegue, tirando uma outra falaçãozinha de leve, o material é primordialmente cantado.
As 10 faixas de Bush estão dispostas como que pruma
curtição de festa ou rolê de limo pelas partes nobres de Los Angeles. Há o
chill in e o chill out das mid-tempos que abrem e encerram o disco, enrolando
as 8 canções dançantes. California Roll, o chill in, tem vocais de apoio e
gaita de Stevie Wonder numa melodia deslizante que fala em passear em Melrose e
diz que a menina pode se tornar estrela de cine e aconselha-a a conseguir um
cartão médico, porque “that´s how California roll”. No estado que legalizou a cannabis medicinal fica fácil entender o
jogo de palavras e o sentido da moita do título. Diversas outras canções falam
em ficar chapado, então viajando nessa maionese maconhada dá pra metaforizar
que Bush é como um baseado: as faixas 1 e 10 envolvem a bomba dançável das
faixas 2 a 9.
This City é elegantíssima, funk perfeito pra dar carão,
bater cabelo, mexer bundão ou simplesmente passear de conversível por Rodeo
Drive pra se mostrar, fazendo cara de nojo. R U a Freak é electrofunk que
remete ao Shalamar de A Night to Remember, Awake é covardia: aquela guitarrinha
chupada de quando Nile Rodgers estava no auge é muito pra nossos corações de
meia-idade que viveram o esplendor do Chic.
Depois de Awake, embora as faixas sejam muito boas e não
deixem o pique cair, o fumacê obscurece identidades e parece que estamos
ouvindo um medley, mas você não se arrependerá em buscar resquícios de Tom Tom
Club, Jocelyn Brown, ou de Everybody, de Madonna. Ou, se estiver numa festa, só
vai querer dançar, quem se importa?
Como cantor, Snoop é excelente rapper. Meio estranho como
Pharrell, que já produziu não-vozes como ele mesmo ou Britney Spears, não usou
a mágica de estúdio pra deixar o homem que já gravou instruções pra GPS
cantando bem. A voz ou está acabrunhada demais ou soterrada entre excelentes
vocalistas de apoio, então não se preocupe, não faz falta.
Por que Kylie Minogue não
chamou Pharrell Williams pra produzir o desastroso Kiss Me Once em sua
totalidade? Só I Was Gonna Cancel não salvou a australiana do naufrágio. A
julgar pelo que o produtor fez com o repaginado 40tão Snoop Dogg, teria sido
uma delícia de álbum, como o do Doggfather.
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