Roberto Rillo Bíscaro
Escrevendo o segundo parágrafo da resenha de Why Make
Sense?, lançado semana passada pelo Hot Chip, deletei tudo e resolvi por este
recomeço. Motivo: adjetivei a banda indietronic
como “veterana”. Formada no ano 2000, são estrelas Supervelhas no efêmero firmamento pop, mas o que me pegou foi a pergunta “se Hot
Chip é veterano, o que dizer de bandas como Information Society e Erasure, ou
ainda mais antigas como o Yes, já resenhadas, elogiadas e amadas no blog?” “Novo” pra mim – esses ingleses são
novinhos prum cara beirando a meio-secularidade! – pode ser “velho” pra meus
alunos adolescentes. Imagine que o primeiro álbum foi lançado em 2004, quando
meus pupilos teens ainda eram
cuidados em creche ou os de faculdade brincavam no recreio do Fundamental.
Parafraseando a jurássica Tati Quebra-Barraco, sou de meia-idade, mas tô na moda. Quer dizer, parte da sonoridade que embalou minha
infância e adolescência vem sendo sampleada e ressignificada em criativos e
dançantes rearranjos híbridos. Se laranja e o novo preto, misturança de
sub-gêneros dançantes é o novo normal. E o sexto álbum desses 30tões britânicos
prova isso lindamente. Das 10 faixas, 7 são irretocáveis fusões dançáveis. Os
outros 30% são 2 fillers e a faixa-título criativa, mas destoante do contexto.
Cheguemos a elas mais adiante.
Huarache Lights deixou de ser apenas tênis da Nikke e
passou a vibrante abertura disco, que começa com voz de robô-Kraftwerk (tem que
bater cabeça no congá dos deuses alemães, né?) pra desenvolver-se em mais de 5
minutos de batida meio Grace Jones ou Donna Summer (Giorgio Moroder, ítalo-guia!)
em suas fases late 70’s, com direito
a talkbox e muitos efeitos de
sintetizador.
O minimalismo miraculoso de Love is the Future junta
Prince fase early 80’s com pedacinho
rappeado em estilo old school pelo
Posdnuos, do De La Soul. De repente entra arranjo de cordas disco – presente em
várias faixas – e o clima ganha mais um clima. Dois pontos vitais da
produção de Why Make Sense? estão em evidência nessa faixa: 1) sua leveza, que
utiliza o necessário pra fazer parecer que o mix está lotado de elementos, quando na verdade, estão “apenas”
usados inteligentemente. Sempre tem coisa acontecendo no seu fone de ouvido;
tirando o máximo do mínimo. 2) Produzido pela banda e Mark Ralph, trata-se dum
produto de conhecedores profundos de música. É o pop como ofício; os caras não
são filhinhos de papai que ganharam instrumentos e dão “um jeitinho” fazendo
musiquinha. Ética protestante ou o escambau, mas é a Inglaterra sempre
produzindo algum arraso.
Cry For You é electro
com teclado nervoso e grave. Sinal dos tempos: é motivo de menção que os
instrumentos foram tocados ao vivo no estúdio e não retirados duma vasta gama
de opções estocadas em softwares baixados
via Torrent. Isso diferencia o Hot Chip do exército de autômatos por aí. Não à
toa essa faixa me lembrou um pouco o velho New Order, que conseguia humanidade
da robótica.
Started Right começa funk sincopado e por vezes
metamorfoseia-se em disco totalmente desfilável (cuidado se for ouvir na rua!).
Easy To Get é delícia electrofunk com
palmas, baixo gordo, guitarrinha picante, efeito facinho e viciante de teclado,
que de repente, mais pro final, se transforma em acid garage noventista, estilo que permanece com a faixa seguinte
Need You Now, mas prestem atenção que o sample
vocal é do trio Sinnamon, lá dos anos 80. Elementos diluídos pra formar algo
original. Talvez nenhuma faixa demonstre isso melhor que a sensacional Dark
Night: aparentemente é Philly disco (saquem o vocal), mas tem um riff de guitarra pulverizado que ocupa
todos os interstícios da mixagem, dando um pós-sabor rock.
Why Make Sense? seria obra-prima não fossem pelas baladas
R’n’B White Wine and Fried Chicken e So Much Further to Go. Nada de errado
branquelo britânico querendo ser negão estadunidense; amo diversos com essa
aspiração, mas a vozinha de Alexis (tão Dynasty!) Taylor não dá pra esse
material. Dizer que as canções têm alma/coração seria fácil pra encobrir o
caráter de filler, mas a verdade é
que nessas horas esse coração precisa de transplante. Eu estar ouvindo
maciçamente os clássicos black
tocados incidentalmente em Scandal (amanhã resenha da 4ª temporada!) não ajudou
em nada ao pobre Alexis, eu sei, mas fofo, sua voz é perfeita pras faixas
dance, vamos ficar só com elas, lindo do tio?
A faixa-título foge bastante do predominante estilo
festeiro. Bateria hard rock, guitarra
distorcida, diversos efeitos de electronica
alternativa e mais dark. Se for
indicativo da direção que o Hot Chip pretende tomar, não me interessa, mas deixemos
de projetar fantasmas e dancemos/caminhemos/agitemos com as 7 Maravilhas de Why
Make Sense? As outras 3 deletei.
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