segunda-feira, 25 de maio de 2015

CAIXA DE MÚSICA 171

Roberto Rillo Bíscaro

Escrevendo o segundo parágrafo da resenha de Why Make Sense?, lançado semana passada pelo Hot Chip, deletei tudo e resolvi por este recomeço. Motivo: adjetivei a banda indietronic como “veterana”. Formada no ano 2000, são estrelas Supervelhas no efêmero firmamento pop, mas o que me pegou foi a pergunta “se Hot Chip é veterano, o que dizer de bandas como Information Society e Erasure, ou ainda mais antigas como o Yes, já resenhadas, elogiadas e amadas no blog?” “Novo” pra mim – esses ingleses são novinhos prum cara beirando a meio-secularidade! – pode ser “velho” pra meus alunos adolescentes. Imagine que o primeiro álbum foi lançado em 2004, quando meus pupilos teens ainda eram cuidados em creche ou os de faculdade brincavam no recreio do Fundamental.
Parafraseando a jurássica Tati Quebra-Barraco, sou de meia-idade, mas tô na moda. Quer dizer, parte da sonoridade que embalou minha infância e adolescência vem sendo sampleada e ressignificada em criativos e dançantes rearranjos híbridos. Se laranja e o novo preto, misturança de sub-gêneros dançantes é o novo normal. E o sexto álbum desses 30tões britânicos prova isso lindamente. Das 10 faixas, 7 são irretocáveis fusões dançáveis. Os outros 30% são 2 fillers e a faixa-título criativa, mas destoante do contexto. Cheguemos a elas mais adiante.
Huarache Lights deixou de ser apenas tênis da Nikke e passou a vibrante abertura disco, que começa com voz de robô-Kraftwerk (tem que bater cabeça no congá dos deuses alemães, né?) pra desenvolver-se em mais de 5 minutos de batida meio Grace Jones ou Donna Summer (Giorgio Moroder, ítalo-guia!) em suas fases late 70’s, com direito a talkbox e muitos efeitos de sintetizador.
O minimalismo miraculoso de Love is the Future junta Prince fase early 80’s com pedacinho rappeado em estilo old school pelo Posdnuos, do De La Soul. De repente entra arranjo de cordas disco – presente em várias faixas – e o clima ganha mais um clima. Dois pontos vitais da produção de Why Make Sense? estão em evidência nessa faixa: 1) sua leveza, que utiliza o necessário pra fazer parecer que o mix está lotado de elementos, quando na verdade, estão “apenas” usados inteligentemente. Sempre tem coisa acontecendo no seu fone de ouvido; tirando o máximo do mínimo. 2) Produzido pela banda e Mark Ralph, trata-se dum produto de conhecedores profundos de música. É o pop como ofício; os caras não são filhinhos de papai que ganharam instrumentos e dão “um jeitinho” fazendo musiquinha. Ética protestante ou o escambau, mas é a Inglaterra sempre produzindo algum arraso.
Cry For You é electro com teclado nervoso e grave. Sinal dos tempos: é motivo de menção que os instrumentos foram tocados ao vivo no estúdio e não retirados duma vasta gama de opções estocadas em softwares baixados via Torrent. Isso diferencia o Hot Chip do exército de autômatos por aí. Não à toa essa faixa me lembrou um pouco o velho New Order, que conseguia humanidade da robótica.
Started Right começa funk sincopado e por vezes metamorfoseia-se em disco totalmente desfilável (cuidado se for ouvir na rua!). Easy To Get é delícia electrofunk com palmas, baixo gordo, guitarrinha picante, efeito facinho e viciante de teclado, que de repente, mais pro final, se transforma em acid garage noventista, estilo que permanece com a faixa seguinte Need You Now, mas prestem atenção que o sample vocal é do trio Sinnamon, lá dos anos 80. Elementos diluídos pra formar algo original. Talvez nenhuma faixa demonstre isso melhor que a sensacional Dark Night: aparentemente é Philly disco (saquem o vocal), mas tem um riff de guitarra pulverizado que ocupa todos os interstícios da mixagem, dando um pós-sabor rock.
Why Make Sense? seria obra-prima não fossem pelas baladas R’n’B White Wine and Fried Chicken e So Much Further to Go. Nada de errado branquelo britânico querendo ser negão estadunidense; amo diversos com essa aspiração, mas a vozinha de Alexis (tão Dynasty!) Taylor não dá pra esse material. Dizer que as canções têm alma/coração seria fácil pra encobrir o caráter de filler, mas a verdade é que nessas horas esse coração precisa de transplante. Eu estar ouvindo maciçamente os clássicos black tocados incidentalmente em Scandal (amanhã resenha da 4ª temporada!) não ajudou em nada ao pobre Alexis, eu sei, mas fofo, sua voz é perfeita pras faixas dance, vamos ficar só com elas, lindo do tio?

A faixa-título foge bastante do predominante estilo festeiro. Bateria hard rock, guitarra distorcida, diversos efeitos de electronica alternativa e mais dark. Se for indicativo da direção que o Hot Chip pretende tomar, não me interessa, mas deixemos de projetar fantasmas e dancemos/caminhemos/agitemos com as 7 Maravilhas de Why Make Sense? As outras 3 deletei.  

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