Roberto Rillo Bíscaro
Quando resenhei o sessentista The Outer Limits (aqui),
frisei a existência de personagem negro que fugia do padrão empregado/palhaço manso
e subserviente. Desde então, a presença afrodescendente só tem feito crescer
nas telinhas e lonas ianques. Eles protagonizam sitcoms e séries de sucesso
(Scandal) e também têm sua cota de fracassos (Deception). Em janeiro, a Fox
barbarizou com a primeira soap em horário-nobre cuja trama e elenco estão
majoritariamente ligados ao universo negro.
A dúzia de capítulos da primeira temporada de Empire
bombou e a série foi renovada. A descrição “Dynasty negra” fez com que eu
passasse o show na frente de minha longa fila; imagine se eu não me
interessaria por um programa com um nome desses, cheio de gente rica sofrendo e
fazendo maldade?
Lucious Lyon (“luscious lion”o leão voluptuoso?
Profundo!) saiu da vida bandida do gueto e criou um império musical, que se
ramificou em n segmentos. Em menos de
20 minutos do capítulo inicial, aprendemos que ele tem doença degenerativa
incurável, reúne os 3 filhos pra comunicar que em breve escolherá seu sucessor,
sua ex-esposa sai da cadeia (de casaco de peles, porque ela não é obrigada,
tá?), invade uma reunião de diretoria e exige metade da Empire Enterprises (sei
lá se é enterprises, mas quem liga?), afinal, os 17 anos passados no xilindró
foram pra livrar a barra de Lucius, que nesse ínterim obviamente se envolveu
com uma jovem ambiciosa. A ex-presidiária é Cookie, minha favorita, porque
desbocada, barraqueira e de casacão. Mas, se aparecer megavilã, Cookie perde o
trono fácil, fácil!
O filho mais velho é bipolar e casado com uma loirona,
união jamais aceita por Lucius; o filho do meio é músico talentoso, mas e gay,
orientação abominada pelo papi macho; o mais novo é o rapper rebelde buscando
identidade, envolvido com uma mulher mais velha (Naomi Campbell!). Estão de bom
tamanho os conflitos? Mas aparecem mais, razão de ser das soaps.
Empire aproveitou o sucesso de Revenge e Scandal e
juntou novelão com The Voice, X Factor, American Idol ou seja lá qual o Show de
Calouros superestimado da moda. Números de black music - de spiritual a hip hop
- abundam, então, quem não curte musicais/rap mantenha distância!
Há certa falta de foco no roteiro, que por vezes não
sabe qual trama priorizar, mas de modo geral Empire é divertida. Soap é assim,
uma salada onde não se pode esperar muita consistência.
O investimento e repercussão foram altos, resultando em
diversas participações especiais, como Gladys Knight, Mary J. Blige, Patti
LaBelle, Courtney Love e muito mais.
A imprensa saudou a série como desbravadora e a Fox
como corajosa. Sem dúvida, um grande passo na representação protagônica afro.
Por outro lado, também prova que negros podem ser tão imaturos, estúpidos e
canalhas quanto os brancos.
Muito legal e verei a
temporada 2, mas chamar Empire de Dynasty é um pouco meio muito. Cookie Lyon
não é Alexis Morel Carrington Colby Dexter!
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