Roberto Rillo Bíscaro
Eis que chegou ao fim a saga degradada de Amanda Clarke.
Depois duma primeira temporada brilhante, a audiência de Revenge só diminuiu e
a trama jamais recativou o público. Diante disso, a ABC cancelou a série ao
final da quarta temporada. Como os autores sabiam do corte, puderam dar um
final às personagens, diferentemente do que ocorreu com Dynasty, cuja
ambientação podre de rica inspirou Revenge.
A morte de meu amado Conrad Grayson e a volta de David
Clarke no final da temporada 3 não me animavam. Terem tirado a fortuna dos
Grayson diminuíra muito o poder de barganha dramática de Conrad, mas podiam
ter-lhe recuperado o dindim. Quanto a David, tinha certeza que seria do time
dos “bonzinhos” chatos. O grosso do público parece ter adotado a visão
taliônica instilada pela própria série: Emily/Amanda é “boazinha” e merece
vencer, porque sofreu muito na mão dos Grayson e em sua jornada de vingança
jamais matou ninguém (a pilha de cadáveres e danos colaterais que certamente
destruíram a vida de outra montanha de inocentes não tem a menor importância
nessa percepção). Fã assumido dos “vilões” (se forem glamorosos!), nessa
batalha entre a morena “má” Victoria Grayson e a loira “sofredora boazinha”
Emily, meu lado estava escolhido desde a primeira cena que vi de Queen Victoria
sentada em sua poltrona tomando chá nos Hamptons.
Outro alerta se faz necessário antes de comentar sobre a
derradeira temporada: quem lhes escreve permite-se exacerbada suspensão de
descrença quando se trata de soaps. Pra terem ideia, a temporada-sonho de
DALLAS, que lhe custou muito da audiência, pra mim é aceita tranquilamente.
Novelão ianque tem que ser assim, senão não é divertido. Mas, a quarta
temporada de Revenge conseguiu pôr até minha tolerância no limite (confesso que
porque Victoria levava desvantagem).
O afã de proporcionar um desfecho feliz e de “justiça” a
Emily e punir Victoria fez da quarta temporada uma sucessão de malogros da
vilã. Até aí tudo bem, mas imaginar que alguém que sabe que a inimiga é
ardilosa e poderosa não se precaver em pelo menos fazer um back up da única
cópia existente de material comprometedor a ser entregue pro FBI é duro de
engolir: daí já é porquice de roteiro ou insulto à inteligência.
Nem a série slasher Harper’s Island teve tantas mortes (Scandal, então, promoveu massacres, mas sobre isso só semana que
vem) e nunca foi tão fácil enganar a polícia ou fazer revelações bombásticas em
rede nacional e sofrer praticamente nenhuma consequência. Também jamais foi tão
simples tornar-se anônimo: a pessoa vive na mídia, mas quer desaparecer.
Tranquilo, basta ficar com o mesmo visual, só é preciso mudar-se pruma casa
classe-média na mesma cidade!
Tirando os furos cada vez mais evidentes, os roteiristas
ainda conseguiram aquele efeito de nos fazer ansiar pelo próximo capítulo, mas
era evidente que a mágica se esvaíra; Revenge tinha que acabar. E as ações se
sucediam rápidas e muitas vezes vazias de sentido, especialmente nos capítulos finais
quando personagens como Charlote e Margaux tiveram seus finais rapidamente
decididos.
Eu só queria ver como eles honrariam a tal epígrafe
confuciana do primeiro capítulo atestando que o caminho da vingança conduzia a
2 sepulturas. Uma era óbvio que pertenceria a Victoria, então a outra tinha que
ser a da vingadora Emily. Não revelarei o final, mas odiei.
De uma coisa podem ter certeza, porém, o coração de
Victoria Grayson ainda pulsa!
Nenhum comentário:
Postar um comentário