Roberto Rillo Bíscaro
Em agosto de 2014, fiz dobradinha
de cine islandês (leia aqui). Resolvi fazer outra, desta vez reduzindo ainda mais
o foco: são 2 filmes com Nína Dögg Filippusdóttir. Como
não amar a internet? Na quente noroeste paulista tem-se acesso a mais de um
trabalho duma atriz dum frio país de 300 mil habitantes!
Primeiro vi Grafir & Bein (2014). Um casal com
problemas – Gunnar envolvido com fraude e Sonja ainda de luto pesado pela morte
da filhinha – vão a uma remota casa de fazenda pra resolver o que fazer com a sobrinha,
traumatizada após encontrar o pai enforcado. A pequena Perla é estranha e a
essa estranheza somam-se relatos de assombração na casa, oferecidos por Fannar,
que aparece e desaparece a seu bel prazer. Não tardam a começar os desdobramentos
inexplicáveis de todos esses ingredientes manjados de narrativas de horror, que
ameaçam a sanidade (ela existe mesmo?) e a vida dos protagonistas.
Mesmo sem ser a história mais original do mundo, o enredo
tinha potencial pra se tornar queridinho cult, porque o filme é de país
“exótico”, há reviravolta no finalzinho e espaço pra sequências, o que poderia
atrair até refilmagem ianque. Infelizmente, a despeito da cinematografia
perfeita e das boas atuações, a falta da perícia do roteiro e da direção põem muito
a perder. A exposição e desenvolvimento, indecisos entre drama familiar ou
psicológico e thriller – não conseguem provocar suspense ou medo. As coisas vão
acontecendo fria e automaticamente e quando ocorre o desfecho a chance de
empatia já estava irremediavelmente perdida, então, resta-nos o papel de
testemunhas indiferentes.
Mas, se lê inglês e prefere
formar sua opinião, por que não confere Grafin & Bein no Youtube? Não
garanto a integridade da cópia, porque vi de outra fonte.
2 noites depois, vi Brim (2010); que filmão! Nada de
paisagens de cartão-postal lunar ou das loucas noites turísticas de Reikjavik.
Os personagens são marinheiros que frequentam igreja evangélica, compram pornô
pirata na versão islandesa de nossos camelódromos e arrebentam cara de mulher
em banheiro de bar.
Um tripulante de barco pesqueiro morre e precisa ser
substituído. Como se os homens não tivessem que aguentar turnos de 16 horas
isolados no meio do oceano numa embarcação que vive quebrando, ainda têm que se
haver com uma aprendiz a bordo, que emperra a rotina por não estar
familiarizada com o trabalho pesado e sujo e, claro, por ser mulher no meio de
marujos que passam seu tempo livre em parte vendo produções com títulos como
The Sperminator. Filmado em estilo bastante documental, Brim explora com
competência e sem alarde o tédio, as neuroses, a fadiga e as esperanças
perdidas ou não desses homens, jamais demonizados, apenas mostrados em sua
complexidade. Drifa, a estranha no ninho, acaba negligenciada como personagem,
porém. Ela está na narrativa apenas pra conhecermos os homens, afinal, nunca
sabemos nada sobre ela. E viva a igualdade feminina escandinava!
Tive dificuldade pra
compreender que havia 2 tempos diegéticos em andamento durante a viagem do
navio, mas uma vez percebido quando se está num ou noutro, a soma dos 2 planos/acontecimentos
ilustra a cotidianidade deles na vida desses homens que alimentam turistas e
islandeses, mas não compõem o imaginário de exotismo e pacifismo que temos da
ilha.
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