Roberto Rillo Bíscaro
Continuando com meu festival islandês – que rendeupostagem-dobradinha semana passada – vi Eldfjall (2011), submetido, mas
infelizmente não indicado, ao Oscar. Esse tipo de premiação não faz diferença
em meus processos de escolha, mas senti que a película tenha ficado de fora da
competição. Mesmo sendo só indicada teria o público maior que merece.
A sequência de abertura arrepia: erupção vulcânica destruindo uma
aldeia ao som de canto coral:
Corte pra festa de despedida de Hannes, que abandonara
com a família a ilha avassalada pelo vulcão (eldfjall, em islandês) e agora se
aposentava como zelador duma escola em Reikjavik. Rígido e distante com alunos
e colegas, o padrão comportamental repete-se em casa, onde o coroa dá patadas
na esposa e mantém filhos e neto à distância. Hannes não é mau sujeito, porém;
escolhera o caminho da rabugice, mas ao ouvir incógnito os filhos comentando
enojados sobre seu comportamento, ocorre-lhe uma epifania. Decide mudar: compra
o peixe favorito da esposa, faz amor com ela, começa o caminho pra se tornar
ser humano mais decente. Como a vida não é filme de final feliz, a esposa tem
um tremendo AVC e Hannes decide cuidar dela em casa, ao mesmo tempo em que
tenta remediar as coisas com os filhos e neto.
Filmado em 16mm, Eldfjall evita o visual HD da
pós-modernidade pra contar essa belíssima história de tentativa de redenção,
que pode ser difícil, porque representa as agruras da idade e da doença, mas
jamais recai no sentimentalismo induzido por trilha sonora incidental
lacrimejante. A música feita por um dos integrantes do cultuado Sigur Rós
aparece tão parcimoniosamente quanto os cenários espetaculares da natureza
islandesa. A maioria do filme se passa no interior duma casa nos arrabaldes da
capital.
O diretor estreante
Rúnar Rúnarsson – seguindo roteiro
tradicional e quase impecável – encontra sábias soluções cênico-simbólicas pra
ilustrar o apartamento, a fantasmogaria e o desnudar de Hannes em sua quieta
jornada de retomada de humanidade, que passará por teste duríssimo ao ver a
esposa vegetativa gemer de dor ireversível.
Theodór
Júlíusson (Hannes) e Margrét Helga Jóhannsdóttir (Anna) dão interpretções
exemplares e corajosas, sem medo de se despir (escandinavos não têm problema
com nu frontal!), de se entregar, mas sem sacarina.
Já guardei o arquivo de
Eldfjall, grande filme que merece ser visto mais de uma vez. Na verdade, merece
ser descoberto por grande parcela do público.
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